Arcas de Babel: Rafael Zacca traduz Sylvia Plath
Poemas de Plath elaboram sinestesicamente a vida 'na' e 'pela' linguagem, escreve Rafael Zacca (Fotos: Divulgação)
A poesia leva ao que há de mais singular em cada língua e desafia a experiência da tradução. Entretanto, muitas e muitos poetas traduzem, e às vezes a escrita poética surge junto com um olhar estrangeiro para a própria língua, vem com a consciência de sua singularidade, entre tantas outras. Esse estranhamento intensifica as forças de transformação no interior das línguas, estendendo seus limites, ampliando seus horizontes. E nunca precisamos tanto dos horizontes que a poesia projeta, agora que uma nuvem pesada encobre perspectivas de futuro… Talvez traduzir poesia seja um modo de contribuir para a construção, não de uma torre, mas de uma ponte ou de uma arca utópica que nos ajude a atravessar o dilúvio. Que nela, aos pares, as línguas se encontrem, fecundas.
A série Arcas de Babel acolhe semanalmente traduções de poesia e está aberta também a testemunhos sobre a experiência de traduzir.
Hoje recebe a contribuição do poeta e crítico Rafael Zacca, que traduz poemas de Sylvia Plath. Doutor em Filosofia pela PUC-Rio, Zacca é professor substituto de Teoria Literária na UFRJ, do quadro complementar do departamento de filosofia da PUC-Rio e de Criação Literária no Coart/UERJ. Colabora como crítico com o jornal Rascunho e mantém a coluna “Como prática da liberdade” na revista Pessoa. Publicou os livros de poemas A estreita artéria das coisas (Garupa), Mini marx (7Letras) e Mega Mao (Caju). É co-autor do livro de oficinas Almanaque rebolado, que publicou junto a outros membros do coletivo Oficina Experimental de Poesia.
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Poderíamos falar das experiências radicais que Sylvia Plath teve com os hospitais (gerais e psiquiátricos) e que levaram a poeta a escrever “Acordando no inverno” (1960), “Febre 40 graus” (1962) e “Tulipas” (1961) – além do extenso poema radiofônico “Três mulheres” (1962, e cuja tradução publiquei na revista Escamandro) – antes de dar fim à própria vida em fevereiro de 1963, aos 30 anos de idade.
No entanto, as imagens transpostas da vida para os poemas encontram tal grau de “refração”, que seria difícil enxergar nestes poemas apenas “reflexos” de sua origem biográfica. Do mesmo modo, não se deve esperar de uma tradução de Plath algo como um reflexo fiel – qualquer coisa da qualidade refratária da poeta é exigida pelos próprios poemas às suas virtuais traduções. Traduzir Sylvia Plath significa também convocar-se a uma outra relação com a própria vida. O que acontece quando a poesia se torna uma técnica de vida?
Tudo fica mais claro se determos a atenção sobre dois procedimentos poéticos de Plath. O primeiro deles diz respeito à transfusão sinestésica. A linguagem na poeta não apenas descreve a experiência de uma pessoa (em nosso sistema nervoso, os sentidos se comunicam, mas não são intercambiáveis – o olho não pode sentir o gosto de uma comida, o nariz não pode enxergar), mas mistura as funções dos sentidos em uma espécie de tradução sinestésica. É bom atentar, em “Febre 40 graus”, por exemplo, à chama que chispa um choro, à fumaça que pode se enrolar no pescoço, ou ao encontro do arder e do luzir que transformam a poeta em uma camélia absurda. A linguagem aqui não tem apenas função comunicativa, mas transformativa da experiência. Fazer poesia não é apenas relato, mas elaboração.
Em segundo lugar, gostaria de sublinhar o que Plath faz diante das imagens convocadas. Ezra Pound costumava dizer que a poesia era uma operação de condensação de linguagem, e que isso poderia ser feito de três formas: pelo discurso e pelo pensamento (logopeia), pelo som (melopeia) e/ou pelas imagens (fanopeia). Em Plath, no entanto, as imagens não parecem apenas se condensar. Cada poema conta duas histórias: 1) o seu conteúdo, que é frequentemente imagético, uma cena e 2) uma série fanopaica em que as imagens resistem umas às outras e ao sentido do conteúdo relatado. Em “Acordando no inverno”, por exemplo, a lataria do céu, os nervos queimados, a linha de montagem, o Chevrolet cinza, a relva, os túmulos, as caveiras, o hotel, são imagens que atravessam e transfiguram o sentido do conteúdo (da cena) “de hospital” do poema.
Procedimentos como esses me levaram não apenas a traduzir a poeta, como também a experimentar a tradução de seus poemas como técnica de vida. Parte de minha investigação – derivada dessa técnica a um só tempo pedagógica, ética e poética que está latente nas operações de Plath – foi publicada há poucos anos na revista Escamandro, com a minha série de traduções experimentais de “Eu estou de pé” (poema em que as forças da morte e de vida se condensam enigmaticamente). Ali, confrontei a linguagem de Plath “sinestésica” e “fanopaicamente” em uma série de traduções para “línguas” dentro do português, limitadas ao vocabulário da carta de suicídio de Torquato Neto, de um manual de um fogão a gás, de um verbete de Joana D’Arc presente num compêndio de homens e mulheres da Idade Média etc.
Os poemas de Plath não contam apenas a história de seu sofrimento e daquilo que a poeta testemunhou, mas também elaboram sinestesicamente a vida na e pela linguagem. De modo que é difícil discernir, nos poemas, o que é a vida (que ocorreu a Sylvia Plath) e a vida de Sylvia Plath (que a poeta efetivamente criou). É por esse motivo, para tentar expor essa vida de que se desenrola desde a pura vida, que acrescento, a esses poemas, outros dois – “Árvores de inverno” (de novembro de 1962) e “Ovelha na névoa” (de janeiro de 1963). – Rafael Zacca
Acordando no Inverno
Eu posso provar a lataria do céu – a lataria mesma.
Inverno amanhecendo é a cor do metal,
as árvores crispam no solo como nervos queimados.
Por toda a noite eu sonhei com destruição – aniquilações –
gargantas cortadas numa linha de montagem, e você e eu
avançando no chevrolet cinza, bebendo o verde
veneno da relva tranquila, tumulozinhos de ripa,
surdos, sobre rodas de borracha, a caminho do litoral.
Como as varandas ecoam! Como o sol levanta
as caveiras, os ossos desimpedidos encarando a vista!
Espaço! Espaço! Os lençóis foram todos entregues.
Os pés da cama derreteram em posturas terríveis, e as enfermeiras –
cada enfermeira costurou sua alma a um machucado e desapareceu.
Os clientes defuntos não ficaram satisfeitos
com quartos, com sorrisos, com as plantas bonitas de borracha,
nem com o mar, anestesiando a pele como a Velha Mãe Morfina.
Febre 40 graus
Pura? Que é isso?
As línguas do inferno
estão podres, podres as três
línguas do Cérbero podre
que bafora no portão. Incapaz
de lamber seu tendão
febril, seu pecado, seu pecado.
Chispa um choro
da vela apagada e seu cheiro
insiste. Amor, amor, a fumaça
se desenrola de mim como a echarpe
de Isadora, tenho medo
que uma ponta se enganche na roda.
Fumaças assim amarelas de medo
são consistentes, não vão subir
mas envolver pesadamente o globo
sufocando os velhos e os mansos,
os frágeis
bebês nas estufas,
orquídeas-fantasmas
penduradas em jardins suspensos,
leopardo diabólico
que a radiação empalidece
e mata num piscar.
E vai untando os corpos dos adultos,
cinzas de Hiroshima mordem dentro.
Esse pecado.
Baby, virei a noite,
piscando on e off on e off.
Os lençóis ficaram pesados como o beijo de um puto.
Três dias. Três noites.
Limonada, canja,
a água me dá refluxo.
Sou pura demais pra você ou pra qualquer um.
Sua carne me machuca
como o mundo a Deus. Eu sou uma lanterna –
e minha cabeça, uma lua
de papel japonês, minha pele folheada a ouro
é infinitamente delicada e cara.
Estou ardendo e não te assusto, estou luzindo,
sozinha eu sou uma camélia absurda
encandecendo, ofegando, indo e vindo.
Acho que estou subindo,
acho que posso levitar –
contas de metal pelando voam, e eu, amor, eu
sou uma pura virgem
de acetileno
rodeada de rosas
de beijos, de querubins,
dessas coisas rosas, seja lá o que sejam.
Você não, nem ele.
Ele não, nem ele.
(Eu e eu me dissolvo, anágua de uma puta velha) –
ao paraíso.
Tulipas
As tulipas são excitáveis demais, e é inverno aqui.
Veja como tudo é tão branco, tão calmo, tão gelado.
Estou aprendendo a tranquilidade, deitada sozinha calada
enquanto a luz deita nas paredes, na cama, nessas mãos.
Não sou ninguém; explosões não são comigo.
Entreguei meu nome e minhas roupas às enfermeiras
e minha história ao anestesista e meu corpo aos cirurgiões.
Apoiaram minha cabeça entre o travesseiro e a barra do lençol
como um olho entre duas pálpebras brancas que não se fecham.
Pupila estúpida, precisa aguentar tudo.
As enfermeiras vão e vêm, não incomodam,
passam como as gaivotas para a terra firme com suas toucas brancas,
fazendo coisas com suas mãos, tão iguais entre si,
é impossível dizer quantas são.
Meu corpo pra elas é um cascalho, que elas cuidam como a água
cuida dos cascalhos que pisa, amortecendo-os gentilmente.
Com suas agulhas brilhantes trazem o torpor, trazem o sono.
Agora que me perdi estou cansada de bagagens –
minha bolsa de couro como uma caixa preta de pílulas,
meu marido e minha criança sorrindo na foto de família;
seus sorrisos me pegam por dentro, breve risada anzol.
Deixei as coisas escaparem, um cargueiro de trinta anos
teimosamente ancorado no meu nome e endereço.
Esfregaram-me até me limpar de minhas associações afetivas.
Assustada e nua na maca verde de plástico acolchoado
vi minhas porcelanas, minha cômoda, meus livros
afundarem sem fim, e a água cobriu minha cabeça.
Sou uma freira agora, nunca fui tão pura.
Não queria flores, queria apenas
deitar com as palmas das mãos para cima e ficar vazia.
Como é livre, você não tem ideia de como é livre –
a tranquilidade é tão grande que te derruba,
e não te pede nada, uma etiqueta com nome, algumas tralhas.
É disso que se aproximam os mortos, enfim; imagino-os
com ela em suas bocas fechadas, como hóstias.
As tulipas são vermelhas demais, antes de tudo, elas me ferem.
Mesmo atrás do papel couchê podia ouvir sua respiração
suave, atrás de mantas brancas, um bebê medonho.
A vermelhidão conversa com meus ferimentos, correspondem-se.
São sutis: parecem flutuar, conquanto me pesem,
provocando-me com suas línguas e cores súbitas,
uma dúzia de chumbos vermelhos afundando o meu pescoço.
Ninguém me observava antes, agora sou observada.
As tulipas voltam-se pra mim, também a janela aqui atrás
por onde uma vez por dia a luz invade lenta e lenta se retira,
e posso me ver, estendida, ridícula, sombra de papel picado
entre o olho do sol e os olhos das tulipas,
e não tenho rosto, eu quis me apagar.
As vívidas tulipas comem meu oxigênio.
Antes delas o ar era calmo o suficiente,
ia e vinha, fôlego em fôlego, sem tumulto.
Então as tulipas encheram-no com barulhos ensurdecedores.
Agora o ar enrosca e torvelina ao seu redor como um rio
enrosca e torvelina num motor rubro-ferruginoso afundado.
Elas retêm minha atenção – e era tão bom
brincar e descansar sem comprometer-se.
As paredes, também, parecem estar aquecendo.
As tulipas deveriam estar enjauladas como animais perigosos;
elas se abrem como a boca de um felino africano,
e eu presto atenção no meu coração: ele abre e fecha
seu vaso de florações vermelhas cheio de amor de mim.
A água que eu provo é morna e salgada, como o mar,
e vem de um país distante como a saúde.
Árvores de inverno
As tintas úmidas da manhã dissolvem azuis.
No seu mata-borrão de neblina as árvores
parecem um desenho botânico.
Memórias crescem, anel em anel,
casamentos em série.
Sem saber de abortos nem vadiagem,
mais que mulheres,
semeiam tão relaxadas!
Provando dos ventos, sem pés,
cinturas mergulhadas na história –
cheias de asas, surreais.
Nisto, são Ledas.
Ai, mãe de folhas e doçura,
quem são essas pietás?
As sombras das pombas cantam, mas nada procuram.
Ovelha na névoa
As colinas afastam-se na brancura.
Pessoas ou estrelas
com tristeza reparam que eu as frustro.
O trem traça uma linha com seu fôlego.
Ai lento
cavalo de cor de ferrugem,
cascos, sinos doídos –
toda a manhã a
manhã se entrevou,
uma flor abandonada.
Meus ossos retêm a calmaria, os campos
distantes derretem meu coração.
Eles ameaçam
abrir passagem até um paraíso
sem estrelas e sem pai, uma água escura.
***
Waking In Winter
I can taste the tin of the sky —- the real tin thing.
Winter dawn is the color of metal,
The trees stiffen into place like burnt nerves.
All night I have dreamed of destruction, annihilations —-
An assembly-line of cut throats, and you and I
Inching off in the gray Chevrolet, drinking the green
Poison of stilled lawns, the little clapboard gravestones,
Noiseless, on rubber wheels, on the way to the sea resort.
How the balconies echoed! How the sun lit up
The skulls, the unbuckled bones facing the view!
Space! Space! The bed linen was giving out entirely.
Cot legs melted in terrible attitudes, and the nurses —-
Each nurse patched her soul to a wound and disappeared.
The deathly guests had not been satisfied
With the rooms, or the smiles, or the beautiful rubber plants,
Or the sea, Hushing their peeled sense like Old Mother Morphia.
Fever 103º
Pure? What does it mean?
The tongues of hell
Are dull, dull as the triple
Tongues of dull, fat Cerberus
Who wheezes at the gate. Incapable
Of licking clean
The aguey tendon, the sin, the sin.
The tinder cries.
The indelible smell
Of a snuffed candle!
Love, love, the low smokes roll
From me like Isadora’s scarves, I’m in a fright
One scarf will catch and anchor in the wheel,
Such yellow sullen smokes
Make their own element. They will not rise,
But trundle round the globe
Choking the aged and the meek,
The weak
Hothouse baby in its crib,
The ghastly orchid
Hanging its hanging garden in the air,
Devilish leopard!
Radiation turned it white
And killed it in an hour.
Greasing the bodies of adulterers
Like Hiroshima ash and eating in.
The sin. The sin.
Darling, all night
I have been flickering, off, on, off, on.
The sheets grow heavy as a lecher’s kiss.
Three days. Three nights.
Lemon water, chicken
Water, water make me retch.
I am too pure for you or anyone.
Your body
Hurts me as the world hurts God. I am a lantern——
My head a moon
Of Japanese paper, my gold beaten skin
Infinitely delicate and infinitely expensive.
Does not my heat astound you! And my light!
All by myself I am a huge camellia
Glowing and coming and going, flush on flush.
I think I am going up,
I think I may rise——
The beads of hot metal fly, and I love, I
Am a pure acetylene
Virgin
Attended by roses,
By kisses, by cherubim,
By whatever these pink things mean!
Not you, nor him
Nor him, nor him
(My selves dissolving, old whore petticoats)——
To Paradise.
Tulips
The tulips are too excitable, it is winter here.
Look how white everything is, how quiet, how snowed-in.
I am learning peacefulness, lying by myself quietly
As the light lies on these white walls, this bed, these hands.
I am nobody; I have nothing to do with explosions.
I have given my name and my day-clothes up to the nurses
And my history to the anesthetist and my body to surgeons.
They have propped my head between the pillow and the sheet-cuff
Like an eye between two white lids that will not shut.
Stupid pupil, it has to take everything in.
The nurses pass and pass, they are no trouble,
They pass the way gulls pass inland in their white caps,
Doing things with their hands, one just the same as another,
So it is impossible to tell how many there are.
My body is a pebble to them, they tend it as water
Tends to the pebbles it must run over, smoothing them gently.
They bring me numbness in their bright needles, they bring me sleep.
Now I have lost myself I am sick of baggage——
My patent leather overnight case like a black pillbox,
My husband and child smiling out of the family photo;
Their smiles catch onto my skin, little smiling hooks.
I have let things slip, a thirty-year-old cargo boat
stubbornly hanging on to my name and address.
They have swabbed me clear of my loving associations.
Scared and bare on the green plastic-pillowed trolley
I watched my teaset, my bureaus of linen, my books
Sink out of sight, and the water went over my head.
I am a nun now, I have never been so pure.
I didn’t want any flowers, I only wanted
To lie with my hands turned up and be utterly empty.
How free it is, you have no idea how free——
The peacefulness is so big it dazes you,
And it asks nothing, a name tag, a few trinkets.
It is what the dead close on, finally; I imagine them
Shutting their mouths on it, like a Communion tablet.
The tulips are too red in the first place, they hurt me.
Even through the gift paper I could hear them breathe
Lightly, through their white swaddlings, like an awful baby.
Their redness talks to my wound, it corresponds.
They are subtle : they seem to float, though they weigh me down,
Upsetting me with their sudden tongues and their color,
A dozen red lead sinkers round my neck.
Nobody watched me before, now I am watched.
The tulips turn to me, and the window behind me
Where once a day the light slowly widens and slowly thins,
And I see myself, flat, ridiculous, a cut-paper shadow
Between the eye of the sun and the eyes of the tulips,
And I have no face, I have wanted to efface myself.
The vivid tulips eat my oxygen.
Before they came the air was calm enough,
Coming and going, breath by breath, without any fuss.
Then the tulips filled it up like a loud noise.
Now the air snags and eddies round them the way a river
Snags and eddies round a sunken rust-red engine.
They concentrate my attention, that was happy
Playing and resting without committing itself.
The walls, also, seem to be warming themselves.
The tulips should be behind bars like dangerous animals;
They are opening like the mouth of some great African cat,
And I am aware of my heart: it opens and closes
Its bowl of red blooms out of sheer love of me.
The water I taste is warm and salt, like the sea,
And comes from a country far away as health.
Winter Trees
The wet dawn inks are doing their blue dissolve.
On their blotter of fog the trees
Seem a botanical drawing —
Memories growing, ring on ring,
A series of weddings.
Knowing neither abortions nor bitchery,
Truer than women,
They seed so effortlessly!
Tasting the winds, that are footless,
Waist-deep in history —
Full of wings, otherworldliness.
In this, they are Ledas.
O mother of leaves and sweetness
Who are these pietàs?
The shadows of ringdoves chanting, but chasing nothing.
Sheep In Fog
The hills step off into whiteness.
People or stars
Regard me sadly, I disappoint them.
The train leaves a line of breath.
O slow
Horse the colour of rust,
Hooves, dolorous bells –
All morning the
Morning has been blackening,
A flower left out.
My bones hold a stillness, the far
Fields melt my heart.
They threaten
To let me through to a heaven
Starless and fatherless, a dark water.