10 autoras que publicavam sob pseudônimos masculinos

10 autoras que publicavam sob pseudônimos masculinos
Anne, Emily e Charlotte Brontë em retrato de Branwell, irmão das três (1834)

 

Muitas escritoras contemporâneas usam pseudônimos ambíguos – como nomes sem gênero ou iniciais seguidas de um sobrenome – para evitar ideias pré-concebidas sobre suas obras. Mesmo autoras de best-sellers, como J.K. Rowling (Harry Potter), E.L. James (50 tons de cinza) e Gillian Flynn (Garota exemplar) contam em entrevistas que, por vezes, acreditam que as vendas dos seus livros serão melhores caso mantenham uma identidade neutra.

A “estratégia” não é de agora. Entre o início do século 19 e meados do século 20, para fugir de uma leitura estereotipada sobre a escrita das mulheres – ou mesmo para desafiar o preconceito que empurrava autoras para longe de atividades criativas e literárias – muitas escritoras e artistas preferiam (ou eram forçadas a) assinar suas obras com nomes neutros ou masculinos. Das irmãs Brontë à criadora da primeira heroína dos quadrinhos, conheça algumas dessas mulheres.

 

Amandine Dupin (1804 – 1876) – George Sand

 

amandine dupin
(Reprodução)

Romancista, articulista e memorialista, Amandine Dupin escreveu mais de 80 livros, entre eles Lélia (1833), Indiana (1832) e a autobiografia História da minha vida (1856), publicada no Brasil pela editora Unesp. Em quase todos eles, a autora assinou como George Sand, um nome que chegou a ser colocado, por Fiódor Dostoiévski, no “primeiro lugar nas fileiras dos escritores novos”. Precursora do feminismo na França, Dupin esteve presente nas principais rodas culturais de sua época, e era amiga de Franz Liszt, Honoré de Balzac, Eugène Delacroix, Pierre Lerroux e Victor Hugo. Hoje, finalmente reconhecida, é considerada uma das maiores autoras francesas do século 19.

 

Eugénie-Caroline Saffray (1829 – 1885) – Raoul de Navery

 

Eugénie-Caroline Saffray
(Reprodução)

A francesa Eugénie-Caroline Saffray começou a escrever aos 20 anos, após perder o marido, Eugene Jean Baptiste Chervet. Fez sua estreia com alguns textos em prosa e poesia focados na religião católica, todos sob o pseudônimo feminino de Marie David – mas suas primeiras experiências foram consideradas “medíocres” pela crítica. Mulher e viúva, Saffray decidiu adotar, a partir de 1860, um nom de plume masculino para conseguir publicar-se: Raoul de Navery, nome de seu avô. Sob esta alcunha, conseguiu uma recepção melhor para seus romances, que incluem La Fille sauvage (1902).

 

Nair de Tefé (1886 – 1981) – Rian

 

nair de tefe
(Reprodução)

A brasileira Nair de Tefé era pintora, pianista, cantora, atriz e caricaturista. É lembrada, além de sua veia artística, por ter sido uma das primeiras mulheres a usar calças compridas no Brasil – além de ter sido primeira-dama do país entre 1913 e 1914. No Palácio do Catete, organizava saraus em que introduzia a música popular de Chiquinha Gonzaga, Catulo da Paixão Cearense e outros compositores. Mesmo sendo uma mulher à frente do seu tempo, Nair utilizava um nome interessante para publicar suas caricaturas nos jornais da época: Rian – que, além de ser “Nair” de trás pra frente, também tem som semelhante à palavra francesa para “nada”, rien.

 

As irmãs Brontë – os irmãos Bell

 

(Reprodução)

Consideradas as três das maiores escritoras inglesas, as irmãs Charlotte (1816 – 1855), Emily (1818 – 1848) e Anne Brontë (1820 – 1849) começaram a carreira literária usando nomes falsos – Currer, Ellis e Acton Bell, respectivamente – e assim publicaram, em 1847, seus romances Jane Eyre, Morro dos Ventos Uivantes e Agnes Gray. A própria Charlotte afirmou, em uma carta, que as irmãs não gostavam de revelar que eram mulheres “porque, como nossa forma de escrever e pensar não era o que se chama de ‘feminino’, tínhamos a impressão de que seríamos vistas com preconceito enquanto autoras”.

 

Mary Ann Evans (1819 – 1880) – George Eliot

 

(Reprodução)

Mais conhecida como George Eliot, Mary Ann Evans era poeta, romancista e tradutora. O pseudônimo masculino, para ela, era uma forma não só de ganhar notoriedade mais rápido, mas também de proteger sua vida íntima, já que Evans teria se relacionado com um homem casado. Seu romance Middlemarch: um estudo da vida provinciana (1871), considerada a sua obra prima, foi descrito por Virginia Woolf em um artigo de 1919 como “um dos poucos romances ingleses para adultos”.

 

Violet Paget (1856 – 1935) – Vernon Lee

 

(Reprodução)

A britânica Violet Page escreveu sobre arte, estética, viagens e, ainda, produziu ficção sobrenatural – seus contos fantasmagóricos vitorianos são repletos de subtextos lésbicos, crossdressers e episódios sexuais. Feminista declarada, ela precisou assinar como Vernon Lee para publicar sua obra, que abrange desde livros de análise sobre a arte renascentista italiana até obras memorialísticas como The spirit of rome (1906). “O nome que escolhi contém partes dos nomes do meu pai e do meu irmão, combinadas às minhas iniciais: H.P. Vernon-Lee. Tem a vantagem de não parecer nem feminino nem masculino”, ela escreveu em uma carta de 1875.

 

Victoire Leódile Béra (1824 – 1900) – André Léo

 

(Reprodução)

Romancista, jornalista, militante feminista e socialista, a francesa Victoire Leódile Béra escreveu artigos, romances, contos e ensaios políticos, sempre sob a proteção do pseudônimo André Léo, uma junção dos primeiros nomes de seus filhos gêmeos. Em 1867, ganhou notoriedade ao escrever La Coopération, uma espécie de defesa da criação de sindicatos de trabalhadores. Pouco depois, Béra criaria, já assinando com seu nome real, a Associação para o Melhoramento da Educação das Mulheres e, em 1868, publicaria um texto sem título, em que defendia a igualdade de gênero – um documento que, hoje, é considerado fundamental para a primeira onda feminista na França.

 

June Tarpé Mills (1912 – 1988) – Tarpé

 

(Reprodução)

Atista, a estadunidense June Tarpé Mills estudou arte e se tornou designer de moda. Mas, nos anos 1930, começou a se interessar por quadrinhos – uma mídia que, na época, servia apenas para contar histórias de super heróis masculinos, como Spirit, de Will Eisner; e o Super Homem, de Jerry Siegel e Joe Shuster. Era um mundo dominado por personagens e autores homens, mas mesmo assim Mills conseguiu um espaço para si assinando apenas com seu nome do meio, Tarpé, para esconder seu gênero. Assim, ela criou diversos personagens até hoje pouco conhecidos, como Daredevil Barry Finn e The Purple Zombie – e, em 1941, desenhou e publicou a primeira heroína dos quadrinhos, Miss Fury.


> Assine a Cult. A revista de cultura mais longeva do Brasil precisa de você

Deixe o seu comentário

TV Cult