Um balanço histórico e memorialístico do movimento LGBT no Brasil
O Lampião da Esquina tematizava as homossexualidades fora dos padrões de estigmatização predominantes na imprensa (Arte Andreia Freire)
Algo muito excepcional estava em curso
Para quem participou das primeiras reuniões do Núcleo de Ação pelos Direitos dos Homossexuais em São Paulo durante o inverno de 1978, acompanhar os avanços do movimento LGBT brasileiro nas últimas quatro décadas é uma experiência muito especial. Realmente ninguém poderia ter imaginado as transformações que ocorreriam na sociedade brasileira.
Naquela época, nos sábados à tarde, dez ou quinze pessoas se juntavam num apartamento de algum membro do grupo em Pinheiros ou no Centro da cidade. Eram estudantes, funcionários públicos, bancários, desempregados e um ou outro intelectual.
Alguns pertenciam à classe média alta, mas a maioria não tinha muitas condições financeiras. Muitos moravam ainda com suas famílias, outros com amigos. Somente uma minoria tinha o seu próprio apartamento. A maioria era do sexo masculino. Poucas mulheres permaneceram por muito tempo nas reuniões, cujos temas se concentravam, prioritariamente, em questões enfrentadas por gays. Um certo nível de misoginia difusa distanciava as lésbicas que frequentavam os encontros nesse primeiro momento.
Em parte, o jornal Lampião da Esquina incentivou a ideia de formar um grupo de ativistas. Em seguida, notícias sobre as reuniões em São Paulo estimulavam a formação de outros núcleos no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e no Nordeste. Já em 1980, falava-se do Movimento Homossexual Brasileiro (MHB).
A maioria dos membros de São Paulo tinha pouca ou nenhuma experiência política. Enfrentava-se também o problema da alt
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