“Ruídos e silêncios da vida confinada”, de Marcelo Veras

“Ruídos e silêncios da vida confinada”, de Marcelo Veras

 

[não ficção]

 

Entrelaçar a vida confinada, os últimos anos de recrudescimento da política autoritária e os efeitos da pandemia com a psicanálise é o objetivo do novo livro do psicanalista Marcelo Veras. Afinal, a pandemia chegou como um roteiro já escrito por Hollywood, nas palavras do autor. Mas um roteiro no qual antigos hábitos e balizas sociais foram alterados: “casas passaram a ter suas portas manchadas pelo álcool e água sanitária, houve um boom dos serviços delivery e das vendas de produtos para home office. As redes sociais também mudaram. As selfies desapareceram, passamos ao mundo das lives, novo modo de mostrar que o corpo ainda está vivo”, escreve. Nesse panorama, a psicanálise aparece como importante componente para entender e aprofundar as novas dinâmicas sociais.

Nome importante do mundo corporativo e da promoção de igualdade racial no Brasil, Luana Génot compartilha experiências de sua trajetória para levantar reflexões sobre racismo e consciência racial. Diversos são os temas que aborda no caminho – como autoestima, beleza, ancestralidade, maternidade e empreendedorismo -, tendo sempre a palavra “forte” como fio condutor. Afinal, se a força definiu por muito tempo o percurso social da mulher negra, a autora levanta uma potente reflexão sobre os limites dessa definição e a necessidade de a mulher negra não mais precisar desempenhar o papel “mais forte” para ter um lugar na sociedade.

A obra percorre os passos do escritor norte-americano Ernest Hemingway enquanto esteve em Paris. Entre finais de 1921, quando tinha apenas 22 anos, até 1959, dois anos antes de sua morte, o autor de O velho e o mar passou em diferentes ocasiões pela capital das luzes. Suas andanças, relações pessoais, pontos de encontro e afeto são mapeados no livro de Benjamim Santos, que traça um retrato de Hemingway em paralelo ao da cidade. Publicado originalmente em 1999, essa segunda edição conta com dois cadernos de imagens do escritor, uma cronologia de sua vida e bibliografia básica para adentrar sua obra.

Escritora, professora, ativista e política estadunidense, líder da minoria na Assembleia Geral da Geórgia de 2011 a 2017, Stacey Abrams entretece suas recordações de vida a reflexões sobre o cenário político atual e novos rumos para pensar a ação política. Ao ocupar um cargo eletivo em uma das regiões mais estratégicas das eleições dos EUA, normalmente reservado a homens brancos, a autora parte de um lugar privilegiado para refletir sobre as formas de “encontrar brechas e cavar oportunidades” no sistema político. “Escrevi Você pode fazer a diferença porque queria desconstruir os sucessos e os fracassos que tive e redefini-los como potenciais guias para os outros”, nas palavras da autora, rememoradas por Maju Coutinho no prefácio à edição brasileira.


[ficção]

Ana e Joan, jovens de 17 anos, levam vidas diferentes e nunca se cruzaram. A primeira é uma jovem urbana, que frequenta a escola, tem brigas com o irmão e viaja com os pais. Já Joan ocupa uma zona de mistérios e indeterminações: vive isolada com a avó, em local de intenso contato com a natureza, desenvolvendo artes divinatórias e mágicas. A cada capítulo acompanhamos um mês da vida de Ana e Joan e das pessoas do seu entorno. Ao final da narrativa, quando completam 18 anos, ambas se encontram, sugerindo o momento das poderosas mulheres-mênades que “marchavam sob o sol”.

Segundo livro de contos da autora cearense, originalmente publicado em 2001, Linhas férreas reúne 21 narrativas breves estruturas em três eixos: “Estação da memória”, “Estação do mistério” e “Estação do silêncio”. São narrativas que, em diversos momentos, lembram fotografias, acontecimentos mínimos capturados no instantâneo das lentes de uma objetiva: um homem que descansa em frente ao mar, um casal na mesa de um restaurante, a cena de um morador no apartamento vizinho. Como diz a autora, são contos que, desde cedo, mostraram seu interesse pela narrativa que alia o imagético a personagens artistas, que dançam ou performam.

Inspirado em um município de Conceição da Feira, na Bahia, o romance do dramaturgo, professor e pedagogo Pawlo Cidade entrelaça a tradição da narrativa popular a mitos folclóricos para narrar os insólitos e inusitados acontecimentos do Povoado das Onze Mil Virgens no ano de 1941. “Personagens engraçados, curiosos, fofoqueiros, mágicos, sedutores constituem um enredo mirabolante em que o leitor se envolve e se diverte com as peripécias entrelaçadas com histórias de amor, de traição, de vingança”, nas palavras da escritora Lucília Helena do Carmos Garcez.

Uma mulher guarda por muito tempo uma verdade dentro de si. Quando seu abusador morre, sente-se finalmente livre para libertar essa verdade e dizer suas memórias, suas histórias e dores. O título do romance, assim, não deixa de ser provocativo, pois a ausência do diálogo e a impossibilidade da fala atravessam muitas das relações das personagens. “O quanto a violência acorrenta a vítima ao abusador? Há muita saliva em suas relações de beijo, mas na hora de contar ‘o segredo’ não há palavra no recinto, o não diálogo atravessa as relações da protagonista também com a mãe e com o mundo”, como reflete a escritora Aline Bei no prefácio.


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