Arcas de Babel: Pedro Köberle traduz Marianne Moore

Arcas de Babel: Pedro Köberle traduz Marianne Moore

 

A poesia leva ao que há de mais singular em cada língua e desafia a experiência da tradução. Entretanto, muitas e muitos poetas traduzem, e às vezes a escrita poética surge junto com um olhar estrangeiro para a própria língua, vem com a consciência de sua singularidade, entre tantas outras.

Esse estranhamento intensifica as forças de transformação no interior das línguas, estendendo seus limites, ampliando seus horizontes. E nunca precisamos tanto dos horizontes que a poesia projeta, agora que uma nuvem pesada encobre perspectivas de futuro… Talvez traduzir poesia seja um modo de contribuir para a construção, não de uma torre, mas de uma ponte ou de uma arca utópica que nos ajude a atravessar o dilúvio. Que nela, aos pares, as línguas se encontrem, fecundas.

A série Arcas de Babel acolhe traduções de poesia e está aberta também a testemunhos sobre a experiência de traduzir.

Hoje, o poeta, pesquisador e tradutor Pedro Köberle traduz e apresenta “O Pangolim”, longo poema de Marianne Moore, uma das principais vozes da poesia moderna norte-americana. Apresenta também uma instigante reflexão sobre suas próprias escolhas e métodos tradutórios.

Pedro Köberle (1995-) atualmente pesquisa e traduz Wallace Stevens no Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da FFLCH-USP sob o título provisório Moradas impalpáveis: Paisagem e pensamento em duas traduções de Wallace Stevens. Traduziu O comediante como a letra C (1923), de Stevens, com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2021 pelo Selo Demônio Negro.

 

***

 

Marianne Moore (1887-1972) foi uma das principais representantes do modernismo poético nos Estados Unidos. Publicando seus primeiros poemas em 1915, na revista Poetry editada por Harriet Monroe (que publicou também T.S. Eliot, Ezra Pound, W.C. Williams, etc), Moore continuaria a publicar e a revisar exaustivamente seus poemas até 1966, quando publicou seu último livro Tell Me, Tell Me: Granite, Steel and Other Topics. Como é bem ilustrado pelo poema Poetry, que na sua forma revisada conta com apenas quatro linhas, Moore, no que concerne à revisão de sua própria obra, preferia a peixeira ao bisturi – omissions are not accidents, lia a epígrafe de seu primeiro livro Observations.

Segundo Elizabeth Bishop, sua amiga por toda a vida, Marianne Moore era uma mulher reclusa, com senso de humor irônico, hábitos estranhamente vitorianos e devotamente católica (ou católico-irlandesa). Após passar boa parte da vida descrevendo e escrevendo animais, depois de ganhar o que Randall Jarrell chamou a “tríplice coroa” dos prêmios literários estadunidenses (National Book Award, prêmios Bollingen e Pulitzer) e ser alçada a uma fama raramente concedida aos poetas nos Estados Unidos durante os anos 50, Marianne Moore tornou-se ela própria uma espécie de animal fantástico, de personagem querida do Brooklyn e de Manhattan. Escritora de alguns dos poemas mais enigmáticos do modernismo, aparecia então posando para fotos com Cassius Clay (que ainda não era Muhammad Ali) e redigindo uma longa lista de possíveis nomes para um novo carro da Ford. Moore sugeriu, por exemplo, “the Intelligent Whale”; “the Arcenciel”; “the Mongoose Civique”; “the Pastelogram”; the “Turcotingo”; e, o meu favorito: “The Utopian Turtletop” (a Ford educada mas decididamente recusou as propostas). O final da vida de Marianne Moore trouxe 16 diplomas honorários, inúmeras declarações públicas de apoio a (pasmem) Dwight Eisenhower, ao prefeito Lindsay de Nova York e a Richard Nixon (cujo broche Marianne usava desde a eleição presidencial de 60 sempre que ia votar), figurando como um exemplo singular da poeta/pessoa pública estadunidense.  Seria rasteiro esperar que Marianne Moore correspondesse aos diagramas de engajamento político que se oferecem às poetas hoje em dia, mas é importante contrapesar aos pendores conservadores de Moore aquela Marianne que marchou com Inez Milholland e as sufragistas, e que supostamente teria escalado um poste durante uma dessas demonstrações – como Elizabeth Bishop nos lembra: o que quer que ela tenha feito lá de cima resta à nossa imaginação.

Estas as instâncias que Moore navegava usando o seu característico chapéu tricorne, como se viesse recém-saída de uma reunião dos Revolucionários Americanos do século XVIII. Comparados com os anos de trabalho duro da década de 30 e 40, as décadas finais da vida de Marianne Moore foram surpreendentemente afortunadas. A Mrs. Moore Mãe havia deixado o pai de Marianne antes que ela nascesse, ao que tudo indica porque ele havia enlouquecido depois de tentar inventar uma fornalha sem fumaça, e as duas passariam o resto da vida morando juntas, como “as Brontë dos subúrbios da Filadélfia” e depois do Brooklyn, como escreveu recentemente o crítico William Logan. A vida relativamente insular de Marianne, sua densa e detida relação com a mãe, talvez (sempre talvez) se reflita no interesse reiterado de Moore por armaduras e proteções: escreveu poemas sobre baluartes, escudos, avestruzes e seus modos de disfarce, bichos escamados e a dureza de suas escamas,  sobre “a armadura e a sua modéstia minante”.

 

A armadura, no entanto, não é simplesmente uma barreira contra a intimidade ou um cercado contra a inteligibilidade – embora, é verdade, os poemas de Marianne Moore raramente soem intimistas, embora, claro, algumas estrofes em Marianne Moore sejam frequentemente (a princípio) ininteligíveis. A fascinação pela armadura e pela proteção seria mais um indício da profunda solidariedade de Moore à resistência que os seres vivos oferecem à observação, daí a ironia em Observations ser o título de seu primeiro livro. Há algo em todos esses bichos que escapa ao escrito, como se o animal tivesse pouco a responder diante da operação da símile – que isso seja como aquilo não diz nada se não pensarmos como isso é tudo que aquilo não é. A armadura é sempre o nexo entre um indivíduo e seu meio, nunca entre um sujeito e um objeto, como o são também as células fotossensíveis que provocam mudanças de cores no corpo do polvo (An Octopus), a capacidade digestiva do avestruz (He Digesteth Harde Yron), o peso ínfimo de um ratinho do deserto (The Jerboa), o jato de água expelido pelo náutilo para locomover-se na água (The Paper Nautilus).

Na sua persistente zoografia, o poema-bicho de Moore não é nem poema nem bicho, mas uma concrescência particular dos dois, de seus traços distintivos. O modo de existência do poema se alimentando do modo de existência do animal, resistente, frequentemente envolto em escamas, espinhos, plumagem densa, no que os dois guardam de disfarce. Moore transforma todo animal de um poema em protótipo de uma integração extrahumana. O avestruz de He Digesteth Harde Yron é um desses: com um engenho particular, o avestruz escapa da extinção que desola as demais aves sem vôo (o roc, o aepyornis, o moa) através da firmeza de sua postura, das capacidades excepcionais de seu trato digestivo. Como escreve Wallace Stevens em um ensaio sobre Marianne Moore, “Uma integração estética é uma realidade”. Essa realidade, no entanto, não é o meio absoluto onde animais e humanos interagem ou um artifício mimético remetendo transparente ao mundo, mas um contexto emergente e provisório onde gente e bicho trocam propriedades segundo a lógica figural do poema. Não a realidade mas uma realidade.

Tudo isso sempre com humor, com um distanciamento irônico que parece dizer “sim, eu sei que existe aqui uma atenção absurda ao detalhe, ao modo de funcionamento anatômico dos bichos e das plantas, mas veja o que isso nos recusa, que tipo de acesso eles nos dão a um mundo ético ou moral, que imagem da gente esses seres nos devolvem?”. Os poemas se escandem, ainda que a duras penas, os bichos não.

O método composicional de Marianne Moore me parece, ainda que sua metrificação seja tecnicamente virtuosística, uma colagem de materiais díspares, citações sem remissão à fonte, observações técnicas, etológicas, extraídas de um rol de enciclopédias e manuais técnicos que ela (às vezes só) franqueia em notas de fim, de modo que o poema é antes um ponto de miragem compósito, emergindo de perspectivas mutuamente inconsistentes, do que um artefato escrito coextensivo à intenção literária de uma só autora.

“Marianne se interessava intensamente pelas técnicas das coisas”, escreve Elizabeth Bishop: pelo modo “como as camélias são cultivadas; como funcionam os prismas de quartzo nos relógios de cristal; como o pangolim fecha as suas orelhas, nariz e olhos; como dirigir um carro; como jogar uma bola de beisebol, como fazer uma figura de proa para um barco a vela”. O modo exato como qualquer coisa é feita ou funciona era poema. O Pangolim, poema que traduzimos e que o leitor encontrará adiante, é uma dessas exegeses de um modo de funcionamento. O seu maior admirador no Brasil, João Cabral de Melo Neto, não deixou de perceber essa mesma feição nos poemas de Moore, e a transcrevê-la em sua própria obra:

 

Um núcleo de cabra é visível
Por debaixo de muitas coisas.
Com a natureza da cabra
Outras aprendem sua crosta

Um núcleo de cabra é visível
Em certos atributos roucos
Que têm as coisas obrigadas
A fazer de seu corpo couro.

A fazer de seu couro sola,
A armar-se em couraças, escamas:
Como se dá com certas coisas
E muitas condições humanas.

 

Encontramos em O Pangolim “uma coisa feita graciosa pelas adversidades”, que é de certa forma o que João Cabral  tenta mostrar no seu Poema(s) da Cabra. O Pangolim é esse poema às voltas com o que requer “explicar a graça”: explicação que ora aproxima o Pangolim de uma máquina, ora de um homem indefeso, sem nunca resolvê-lo em símile categórica. A enigmática sexta estrofe de O Pangolim, em que temos que nos situar entre imagens ortogonais de uma arquitetura depurada (“aprovados mainéis de pedra enveredados pelos perpendiculares”) e o sentar-se frio, baixo e luxuoso de “um monge e monge e monge”, parece recapitular o trajeto que vai desde a “réplica de Leonardo da Vinci”, na primeira estrofe, até o “barco a vela” da sétima, reforçando o parentesco do Pangolim com uma intrincada maquinaria anatômica organizando dinamismos, até a sabedoria insondável e plácida dos monges, que têm também os seus desafios em lidar com a graça.

“Explicar a graça” talvez requeira o tipo de metro que Marianne Moore pratica (a própria poeta contribui reiteradas vezes para esse mal entendido, dizendo, em dado lugar, que escande sempre silabicamente, em outros que não poderia se importar menos com a questão). O estatuto entre silábico e acentual do verso em Marianne Moore é uma equivocação caríssima à maquinação do sentido em seus poemas. É sempre no istmo entre esses dois modos do metro que a leitura de Marianne Moore se dá, rasurando a força do hábito que tende a encaixar o poema anglófono imediatamente numa fôrma acentual e simultaneamente desarticulando a natureza quantitativa do verso silábico.

A voz poética em Marianne Moore deriva de um registro livresco-enciclopédico prosaico tornado poema, da rítmica extraída de um material de prosa e dos efeitos de uma exatidão observacional “científica”. Se tomamos o verso como a nervura oculta de toda composição com palavras, como uma comunidade de laços rítmicos que subjaz à linguagem ela própria, tanto faz o modo da escansão, compostos de sílabas ou de pés como de engrenagens mais ou menos azeitadas, com mais ou menos fricção, os poemas tecem a partir delas os corpos quase-vivos dos bichos que escandem.

Traduzir O Pangolim foi uma tarefa, ou melhor,  um quebra-cabeças que me propus a montar em quarentena. Dado o papel desempenhado pelo Pangolim (melhor seria dizer o papel de sua predação insensata visando o lucro) no salto zoonótico responsável pela propagação do Coronavírus, imaginei que talvez ele estivesse precisando de uma reabilitação da sua imagem pública. Após acompanharmos suas andanças (e uma caçada, um tombo árvore abaixo) a nota de esperança pervasiva, ou de repetição emancipatória, que encerra o poema, proferida pelo próprio Pangolim, pode nos dar alguma proteção diante do cenário deprimente de isolamento social e abandono institucional que começa 2021, talvez nos sugira uma lida ético-estética (para usar um termo da moda) com a adversidade que nos ligue com tudo no mundo que não seja gente. Marianne Moore, que traduziu (maravilhosamente, em sua própria voz) as fábulas de La Fontaine não pode ser indiferente ao caráter pedagógico, instrutivo mas não edificante, de uma cenografia animal.

Me dedico com alguma timidez a compartilhar alguns dos critérios que tive em mente durante a tradução de O Pangolim:

– Abandonar qualquer lastro quantitativo dos versos (ironicamente, para traduzir o silábico pro português, foi necessária uma marcação acentual), de modo que, se o leitor assim se dispuser, não encontrará o mesmo número de sílabas por verso no poema original e na minha tradução. Tomamos essa decisão já que só assim conseguimos manter sonoros os cliques e claques do original, sua dicção “engripada” e angular, sua “forma e rastejo maquinal”, como o próprio poema nos indica.

– Resistir à solução mais “poética” em favor da nitidez imagética, em conformidade com o extrato basicamente prosaico do material de Moore: poema como prosa lineada? Sim, mas sobredeterminando a prosa pela constrição do verso. A maior influência que escutei no Pangolim não é nenhum poeta mas Henry James, que se apanha entre os versos pela modulação da linha, pela sintaxe enodada, sua reflexividade alongada que, para citar João Cabral “mesmo ruminando / não é jamais contemplativa”. Praticamente isso significa uma presença marcante do gerúndio, que pode causar algum estranhamento, mas guarda também boa parte do tom humorístico do poema

– Rigor taxonômico/etológico: o Pangolim, animal asiático, encontra em algum momento a “driver ant”, a maior formiga do mundo cujo nome científico é Dorylus, uma de suas presas nativas. Seu nome popular é “formiga safári”, que, embora se encaixe mal na sonoridade do verso em questão, têm de ser mantido em conformidade com a exatidão de Marianne Moore e com a extração enciclopédica dos dados que ela apresenta sobre o Pangolim.

– O problema da hifenização: Marianne Moore faz amplo uso de hífens (no seu poema Elephants: “half-dry sun-flecked stream-bed”; no Pangolim: “not unchain-like machine-like”) como operadores rítmicos que podem, numa só articulação, alterar a acentuação normal do verso. Tentamos compensar o seu uso com semelhantes alterações da tônica, já que a hifenação em português tem outra função morfossintática, no nível da própria palavra e não do seu emparelhamento pelo hífen. Se perdemos algo da engenhosidade do dispositivo, sinto segurança nas soluções propostas.

 

O Pangolim

 

……………………..Outro animal blindado – escama
………………………………….beirando escama com a regularidade da pinha até que
……………………..formam a ininterrupta fileira
……………………..central da cauda! Essa quase-alcachofra com cabeça e pernas e moela equipada com cascalho
…………………………………..o artista engenheiro miniatura da noite é,
…………………………………..sim, réplica de Leonardo da Vinci –
……………………………………………animal impressionante e labutador de quem ouvimos tão pouco.
…………………………………..Armadura soa um excesso. Mas para ele,
…………………………………..a crista da orelha fechando –
……………………………………………….ou orelha exposta a que falta até essa pequena
……………………………………………….eminência e o similarmente seguro

……………………..focinho contraindo e aberturas dos olhos
………………………………..fechando impenetráveis, não são; – um verdadeiro comedor-de-formiga,
…………………….não comedor-de-barata, que aguenta,
……………………………….desconhecido à noite, viagens exaustivas pelo lugar
……………………………….voltando antes do nascer do sol; pisando no luar,
…………………………………………..No luar peculiarmente, de modo que a parte de fora das patas
…………………………………………..Possa aguentar seu peso e guardar as garras
……………………………………………………..Para escavar. Serpentinado ao redor
…………………………………………………….Da árvore, ele retrai
…………………………………………………………………Para além do perigo impugnaz
…………………………………………………………………Com som nenhum salvo um inofensivo sibilo; guardando

……………………….a graça frágil das videiras
……………………………………de ferro fundido da Abadia de Westminster Thomas-of-Leighton Buzzard, ou
………………………se enrola numa bola que tem
……………………………………o poder de desafiar todo esforço de abri-la; encaudalado firme, precisa
……………………………………a cabeça como caroço, pescoço que não quebra, com pés contraídos.
…………………………………………………………….Ainda assim as escamas são anti-picadas; e o ninho
…………………………………………………………….De pedras fechado com terra desde dentro, que ele assim escurece.
……………………………………………………Sol e lua e dia e noite e homem e besta
……………………………………………………Cada um com um esplendor
……………………………………………………………….Que o homem em toda sua vileza não pode
………………………………………………………………..Pôr de lado; cada um com uma excelência!

………………………..“Temeroso mas ainda a ser temido”, o tamanduá
……………………………………………blindado encontrando a formiga-safári não bate em retirada, mas
………………………….engolfa o que pode, as folhas-beiras-de-espada
……………………………………….achatadas da sua cauda e pernas postas em alcachofra e placas do corpo
………………………………………Palpitando violentamente quando ela retalia
…………………………………………………..e enxameia sobre ele. Compacto como os folhos e franjas folhosas
…………………………………………………..Na aba do chapéu da cabeça de ferro oca do
………………………………………matador de Gargallo, ele cai e então
……………………………………………Sai andando,
……………………………………………………Intacto, no entanto se não fosse surpreendido,
……………………………………………………Ele desce da árvore, com ajuda

……………………………de sua cauda. A cauda-de-pangolim-
………………………………………..gigante, ferramenta graciosa, como apoio ou mão ou rodo ou pá, na ponta
…………………………….uma pele especial como nas trombas de elefante,
…………………………………..não se desperdiça nesse engolidor de formigas e pedras, alcachofra
…………………………………..inferível que os simplórios imaginavam uma fábula viva
……………………………………………………..nutrido pelas pedras, quando foram as formigas
……………………………………………………..que o fizeram. Pangolins não são animais agressivos; entre
…………………………………………A madrugada e o dia eles têm a feição não tão distinta das correntes, maquinal,
………………………………………………………………..Forma e rastejo sem atrito de uma coisa
………………………………………………………………..Feita graciosa pelas adversidades, con-

……………………………..versidades. Explicar a graça requer
………………………………………….uma mão curiosa. Se aquilo que chega a ser não fosse para sempre,
……………………………..Porque deveriam aqueles que engraçaram os pináculos
………………………………………….Com bichos e se reuniram ali para descansar, em frios luxuosos
………………………………………….Baixos assentos de pedra – um monge e monge e monge – entre as assim
……………………………………………………..Engenhosas vigas do teto, exaurir-se para confundir
………………………………………………………A graça com uma disposição gentil, tempo em que se paga uma dívida,
………………………………….A cura dos pecados, um uso gracioso
……………………………………..Do que são ainda
……………………………………………………aprovados mainéis de pedra enveredados
…………………………………………………….pelos perpendiculares? Um barco a vela

……………………………….foi a primeira máquina. Pangolins, feitos
…………………………………………..para mover-se em silêncio também, são modelos do exato,
……………………………….sobre quatro patas; sobre pés traseiros plantígrados,
…………………………………………..com certas posturas de homem. Sob sol e lua, o homem se exaurindo
…………………………………………..para fazer a vida mais doce, deixa metade das flores que vale ter consigo,
………………………………………………………Precisando escolher com sabedoria como usar a força;
………………………………………………………fazedor de papel como as vespas; trator de insumos,
…………………………………Como a formiga: aranhando um trecho
…………………………….De teia da ribanceira
……………………………………………………sobre o riacho; em brigas, mecanizada
……………………………………………………como o pangolim; naufragando em

……………………………..decepção. Empaquetado ou totalmente
………………………………………..nu, o homem, o eu, o ser que chamamos humano, mestre-
…………………………….escritor desse mundo, grifa um obscuro
………………………………………“Como não como como que é irritante”; e escreve erro com quatro
……………………………………….erres. Entre os animais um tem senso de humor.
……………………………………………………O humor poupa alguns passos, poupa anos. Inignorante,
……………………………………………………modesto e sem emoções, e todo emoção,
……………………………………….ele tem eterno vigor,
……………………………………….poder de crescer,
……………………………………………..ainda que haja poucas criaturas que fazem com que
……………………………………………..respiremos tão rápido e fiquemos tão eretos.

………………………………Ele que não teme nada
……………………………………depois vem acovardado, o trilho ritmado para encontrar um obstáculo
……………………………..a cada passo. Consistente com a
……………………………………..fórmula – sangue quente, sem guelras, dois pares de mãos e alguns pelos – isso
…………………………….é um mamífero; e ali está ele em seu próprio habitat,
……………………………………..trajado de sarja, calçado firme. A presa do medo, ele, sempre
…………………………………………..cerceado, extinguido, frustrado pelo crepúsculo, o trabalho meio-feito,
……………………………………..diz ao fulgor alternante,
………………………………………………….“De novo o sol!
……………………………………………………de novo a cada dia; e novo e novo e novo,
……………………………………………………que assim entra e me firma a alma”.

 

The Pangolin

 

……………………..Another armored animal – scale
……………………………………………..lapping scale with spruce-cone regularity until they
……………………..Form the uninterrupted central
………………………………..Tail-row! This near artichoke with head and legs and grit-equipped gizzard
………………………………..the night miniature artist engineer is,
………………………………………………yes, Leonardo da Vinci’s replica –
………………………………………………………….Impressive animal and toiler of whom we seldom hear.
………………………………………………Armor seems extra. But for him,
………………………………………………………….the closing ear-ridge–
…………………………………………………………………….Or bare ear lacking even this small
…………………………………………………………………….Eminence and similarly safe

……………………..Contracting nose and eye apertures
…………………………………Impenetrably closable, are not; – a true ant-eater,
……………………..Not cockroach-eater, who endures
…………………………………Exhausting solitary trips through unfamiliar ground at night,
…………………………………Returning before sunrise; stepping in the moonlight
……………………………………………..On the moonlight peculiarly, that the outside
……………………………………………..edges of his hands may bear the weight and save the claws
……………………………………………..for digging. Serpentined about
…………………………………………………………..the tree he draws
…………………………………………………………..away from danger unpugnaciously
…………………………………………………………..with no sound but a harmless hiss; keeping

……………………..the fragile grace of the Thomas-
………………………………….of-Leighton Buzzard Westminster Abbey wrought-iron vine, or
……………………..rolls himself into a ball that has
………………………………….power to defy all effort to unroll it; strongly entailed, neat
………………………………….head for core, on neck not breaking off, with curled-in feet.
…………………………………………………Nevertheless he has sting-proof scales; and nest
…………………………………………………of rocks closed with earth from inside, which he can thus darken.
………………………………….Sun and moon and day and night and man and beast
…………………………………………………Each with a splendor
……………………………………………………………….which man in all his vileness cannot
……………………………………………………………….set aside; each with an excellence!

……………………..“Fearful yet to be feared”, the armored
………………………………….ant-eater met by the driver-ant does not turn back, but
……………………..engulfs what he can, the flattened sword-
………………………………….edged leafpoints on the tail and artichoke set leg – and body plates
………………………………….quivering violently when it retaliates
…………………………………………….and swarms on him. Compact like the furled fringed frill
…………………………………………….on the hat-brim of Gargallo’s hollow iron head of a
………………………………….matador, he will drop and will
…………………………………………….then walk away
………………………………………………………….unhurt, although if unintruded on,
………………………………………………………….he cautiously works down the tree, helped

………………………………….by his tail. The giant-pangolin-
…………………………………………….tail, graceful tool, as prop or hand or broom or axe, tipped like
………………………………….an elephant’s trunk with special skin,
…………………………………………….is not lost on this ant- and stone-swallowing uninjurable
…………………………………………….artichoke which simpletons thought a living fable
………………………………………………………..whom the stones had nourished, whereas ants had done
………………………………………………………..so. Pangolins are not aggressive animals; between
…………………………………………….dusk and day they have the not unchain-like machine-like
………………………………………………………..form and frictionless creep of a thing
………………………………………………………..made graceful by adversities, con-

………………………………….versities. To explain grace requires
…………………………………………….a curious hand. If that which is at all were not forever,
…………………………………………….why would those who graced the spires
………………………………….with animals and gathered there to rest, on cold luxurious
………………………………….low stone seats – a monk and monk and monk – between the this
…………………………………………….ingenious roof-supports, have slaved to confuse
…………………………………………….grace with a kindly manner, time in which to pay a debt,
…………………………………………….the cure for sins, a graceful use
………………………………………………………..of what are yet
………………………………………………………..approved stone mullions branching out across
………………………………………………………..the perpendiculars? A sailboat

………………………………….was the first machine. Pangolins, made
………………………………………………for moving quietly also, are models of exactness,
………………………………….on four legs; on hind feet plantigrade,
………………………………………………with certain postures of a man. Beneath sun and moon, man slaving
………………………………………………to make his life more sweet, leaves half the flowers worth having
………………………………………………………….needing to chose wisely how to use his strength;
………………………………………………………….a paper-maker like the wasp; a tractor of foodstuffs,
………………………………………………like the ant; spidering a length
………………………………………………of web from bluffs
………………………………………………………….above a stream; in fighting, mechanickedfou
………………………………………………………….like the pangolin; capsizing in

……………………..disheartenment. Bedizened or stark
………………………………….naked, man, the self, the being we call human, writing-
……………………..master to this world, griffons a dark
………………………………….“Like does not like like that is obnoxious”; and writes error with four
………………………………….r’s. Among animals, one has a sense of humor.
………………………………………………..Humor saves a few steps, it saves years. Unignorant,
………………………………………………..modest and unemotional, and all emotion,
………………………………….he has everlasting vigor,
………………………………….power to grow,
………………………………………………..though there are few creatures who can make one
………………………………………………..breathe faster and make one erector.

……………………..Not afraid of anything is he,
………………………………….and then goes cowering forth, tread paced to meet an obstacle
……………………..at every step. Consistent with the
………………………………….formula – warm blood, no gills, two pairs of hands and a few hairs – that
………………………………….is a mammal; there he sits in his own habitat,
………………………………………………..serge-clad, strong-shod. The prey of fear, he, always
………………………………………………..curtailed, extinguished, thwarted by the dusk, work partly done,
………………………………………………..says to the alternating blaze,
…………………………………………………………….“Again the sun!
………………………………………………………………anew each day; and new and new and new,
………………………………………………………………that comes into and steadies my soul!”


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