O humor da serpente

O humor da serpente
Sebastião Uchoa Leite sempre foi um sujeito tímido, menos dado a explosões verbais (Foto Mila Waldeck / Divulgação)
  A poesia de Sebastião Uchoa Leite sempre foi um prato cheio para a discussão sobre o lirismo contemporâneo no Brasil. A crítica soube pinçar com cuidado na sua obra as questões que o poeta foi destacando ao longo de sua trajetória, sendo a principal delas o modo de lidar com os escombros do lirismo e com a figura do poeta no poema. Como já destacava o poeta e crítico Franklin Alves Dassie, num artigo na revista de poesia Modo de Usar & Co., era recorrente na poesia de Uchoa Leite os “elementos referentes ao fazer poético”. E ele listava: escrita, língua, poeta, poética e poesia, sem contar em figuras de linguagem, como sinédoque, metáfora, silepse e tantas outras. Sebastião era quase que um poeta para poetas: ali se elaborava um horizonte de onde partir, de onde discutir as possibilidades de uma voz e de uma persona em épocas de reificação do sujeito, de destruição e massacre cultural por meio da avassaladora indústria imprimindo seu selo de padrão de qualidade média, desgastando velhas palavras caras ao lirismo de origem romântica e subjetiva. Foi diante dessa tentacular cidade de palavras gastas e sentimentos mofados que o poeta procurou armar seu espaço e sua barricada com um humor de mal­‑humorado, que era uma das características da persona que ele foi elaborando em sua poesia. Talvez por esses motivos, ele nunca tenha alcançado a popularidade de alguns poetas com quem conviveu nos anos 1970, como Paulo Leminski, Waly Salomão e Ana Cristina César. Os dois primeiros eram o seu oposto completo: eram excessivos e pú

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