‘Literatura afeminada’, de Amarildo Felix, e outros lançamentos
Terceiro livro de poesia de Amarildo Felix, escritor, dramaturgo e psicanalista sergipano. Ao longo de 50 poemas, percorremos o universo do autor, marcado pela “pele preta”, o “corpo gay”, nordestino, “instrumento para teu prazer / encaixe, gemido, requebro, bamboleio”, como traz em seus versos. Como o poeta expressa em alguns de seus poemas, trata-se justamente de provocar os alicerces da literatura, racializando-a, orientando e localizando o ato de escrita: “eu sou um poeta negro cisgênero gay nordestino!”. Mas, como escreve Marcelino Freire no poema-apresentação da obra, não se trata apenas de provocação, mas de “renascimento, de reconhecimento de ‘ponderamento’ máximo”, em uma poética que “não deixa as coisas paradas. Estagnas”. Para Jurandy Valença, que assina a orelha do livro, os poemas podem ser lidos como um “autorretrato multifacetado que incorpora um Macunaíma urbano no século XXI revisitando à deriva a cidade, a noite, os bares e quartos quaisquer”.
A partir da ideia que, na contemporaneidade, as assombrações são frutos de futuros que não aconteceram, o crítico, teórico cultural e filósofo britânico Mark Fisher analisa o lugar da melancolia no “realismo capitalista”. Nova nostalgia, depressão cultural e futuros perdidos são algumas das noções mobilizadas pelo escritor para pensar a interface entre cultura e formação subjetiva. Assim, por meio da análise de vida e obra de artistas como David Peace, John Le Carré, Christopher Nolan, Joy Division e Burial, o intelectual traceja a dimensão política da disposição melancólica, pensando-a como uma linha de fuga que impede a estagnação nos horizontes fechados do capitalismo.
Romance autobiográfico em que, por meio de reminiscências e lembranças pessoais, a autora expõe as relações de poder e dominação que imperam no Brasil, com suas marcas racistas e patriarcais. Como Fabiane Albuquerque escreve, as “cartas” são dirigidas a um homem negro, e não a outras pessoas que ela amou, porque foi ele “quem compartilhou comigo momentos únicos: sofremos pelo nosso pertencimento a uma classe e a uma raça, embora o gênero e talvez valores tenham nos distanciado”. Para Diane Valdez, a autora, assim, “exerce o poder humano de nos ajudar a recusar a herança feminina do silêncio das gerações que nos antecederam”.
No romance de estreia de Tatiana Lazzarotto, acompanhamos a trajetória e o deambular poético de uma mulher que perdeu o pai de forma repentina. Após a morte do patriarca, a narradora precisa retornar à fictícia Província para cumprir os últimos desejos de seu progenitor: recuperar a casa da família e salvar a velha árvore do quintal, condenada e prestes a ser derrubada. Como entrevemos pelo título, a árvore cumpre papel central na economia narrativa, que se desenvolve como uma árvore que cresce: parte da raiz, ganha tronco, os galhos espraiam-se e ela frutifica. E, igualmente, ao rememorar o pai em seu processo de luto, os integrantes de sua família entrelaçam-se como as árvores de uma floresta.
Análise do papel da mulher na literatura, no Cinema Novo e na MPB entre os anos 1950 e 1980. Ao longo dessas três décadas, a autora passa pela obra e pela atuação de diversas mulheres – Elis Regina, Rita Lee, Leci Brandão, Joyce Moreno, Carmen da Silva, Carolina Maria de Jesus, Ana Cristina Cesar, Marina Colasanti, Marilene Felinto, Adélia Sampaio, Helena Solberg, Vera Figueiredo e Eunice Gutman, para ficar em alguns nomes –, ressaltando como essas artistas, mesmo sem tal percepção, fizeram o feminismo avançar. Heloisa Buarque de Hollanda, assim, parte da produção cultural de mulheres para pensar em uma história do feminismo brasileiro.