A escrita abre suas pernas

A escrita abre suas pernas
Marcelo Isarrualde edouard caupeil/divulgação

“Minha casa é a escrita”, escreve a uruguaia Cristina Peri Rossi. Nascida em Montevidéu e exilada durante a ditadura, que proibiu a circulação de suas obras, ela mora em Barcelona desde 1972. Considerada a única mulher do Boom Latino-Americano – movimento que inclui autores como Gabriel García Márquez e Julio Cortázar –, Rossi finalmente recebe os leitores brasileiros em seu lar, com as traduções inéditas da antologia poética Nossa vingança é o amor e do romance A insubmissa (Bazar do Tempo, tradução de Anita Rivera Guerra).

A poesia de Rossi mistura temas como feminismo, homoerotismo e exílio para expressar sua paixão obsessiva pela palavra, que se traduz ao leitor como expressão do eterno êxtase de estar viva. O desejo da escrita – de se atrever a trair a língua dos conquistadores, como escreve no poema “Condição de mulher” – se divide entre relatar as paixões e as angústias do eterno exílio em que construiu sua vida e obra. A autora escreve as mulheres de sua vida sem deixar detalhes de lado, atrevendo-se a erotizar o corpo feminino sem dissimular sobre o inevitável fim de cada paixão.

Vencedora do Prêmio Cervantes de 2021, Rossi dobra o papel do verso para construir não só elegia e ode, mas também sátira, autoficção e até crítica literária. Em edição bilíngue com seleção representativa de toda a obra da autora, Ayelén Medail e Cide Piquet organizam para a Editora 34 uma festa de boas-vindas para essa filha pródiga da poesia latino-americana.

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