A última gota de veneno

A última gota de veneno
Arquivo da família

Morrendo de rir, livro póstumo da escritora e jornalista Elvira Vigna, lançado pela Arquipélago Editorial, revela – ao longo de um conjunto abrangente de crônicas curtas produzidas em vários períodos de sua vida – o olhar aguçado de uma autora sincera e ácida, que sabe fazer uso da crueldade como ferramenta literária, não se furtando a escrever sobre os bastidores dos meios culturais de sua época com um olhar impregnado de boas doses de humor, autoironia e, por que não?, veneno.

A crônica talvez seja um dos gêneros mais pessoais e íntimos da literatura brasileira, e a produção de Elvira reunida no livro mostra o quanto ela se sentia totalmente à vontade para lançar canetadas impiedosas e esfacelar de uma vez por todas a imagem do escritor que veste seu terno e se posiciona diante da página em branco para vomitar argumentos e juízos edificantes no leitor.

Como aponta Cristhiano Aguiar em seu prefácio, “algumas das crônicas de Morrendo de rir são umas coisinhas malévolas, terríveis mesmo, e rimos com elas quase num estado de risco”. Ao lermos Elvira, tomamos contato com uma voz que está em constante interlocução com si mesma – sem filtro. “Homem é um bicho que não tem ouvidos sintonizados para o comprimento de onda da voz feminina”, diz Elvira, “tendendo a delegar o sentido da audição a outros órgãos do corpo. O que eu digo é simples: em vez de seduzir para obter, batalhe para conquistar.”

Deixe o seu comentário

Novembro

TV Cult