E o PT resiste
O PT espantosamente ressurge da tragédia dos cinco anos do seu Apocalipse e volta ao estágio anterior (Foto: Reprodução)
Resiliência é a propriedade que alguns corpos têm de voltar à forma original depois de terem sido deformados por alguma pressão exercida sobre eles. Você pisa, esmaga, amassa, eles deformam, mas, de um jeito ou de outro, voltam a ficar como eram antes. Resiliência é a capacidade que alguns demonstram de resistir às condições mais adversas e de sobreviver onde outros geralmente sucumbem.
Desde o final da semana passada, começaram a aparecer as primeiras pesquisas da corrida eleitoral que refletem as candidaturas registradas até o momento. E há, naturalmente, muita coisa de que se pode falar sobre a fotografia que elas apresentam. Eu escolho falar do que mais me chamou a atenção em tudo isso: a resiliência da candidatura de Lula e do Partido dos Trabalhadores.
O Datafolha divulgou no dia 23 de agosto mais uma rodada de uma sondagem, cuja série histórica inicia no longínquo ano de 1989, que busca identificar a preferência partidária dos brasileiros. Emergiu do levantamento que, a despeito de tudo por que passou – e por tudo, entenda-se escândalos a não mais poder, conspirações, impeachment, intensa cobertura negativa, prisões, inclusive a prisão de Lula e o agigantamento do antipetismo etc. -, o PT não apenas continua sendo o partido preferido dos brasileiros, mas a simpatia pelo partido voltou a crescer depois da baixa ocorrida durante a crise de 2015 e 2016. O PT é o partido preferido dos brasileiros desde 1989, quando pela primeira vez superou o PMDB. Atingiu o pico de preferências em fevereiro de 2010, com 24% de adesão popular versus 6% do PMDB, em segundo lugar. Mas eis que a predileção pelo PT despencou na aferição de junho de 2015, para apenas 11%. Ano em que também foi a primeira única vez em que o PSDB ocupou o segundo lugar isolado em preferência partidária, com 9%. O ponto mais baixo de preferência partidária do PT viria mais tarde, em 9%, e foi detectado logo depois das eleições de 2016, momento em que muitos analistas, torcedores e analistas-torcedores decretaram (e celebraram) a morte do partido.
Mas eis que agora, às vésperas das eleições de 2018, o PT ressurge como o partido preferido de 24% dos brasileiros e recupera a sua máxima histórica. O PSDB e o MDB dividem o segundo lugar, como os preferidos de apenas 4% dos entrevistados. As demais 32 siglas partidárias brasileiras, somadas, chegam a 5%. O que significa que, pelo menos do ponto de vista da preferência partidária dos brasileiros, o PT espantosamente ressurge da tragédia dos cinco anos do seu Apocalipse e volta ao estágio anterior. Talvez até o supere, mantido o ritmo de recuperação.
A preferência partidária pelo PT é algo que para muita gente deve ser assombroso. Antes de tudo, porque os números demonstram que, a rigor, há realmente apenas uma sigla que os brasileiros reconhecem como significando um partido político. Apesar dos 35 partidos registrados no TSE e apesar de muitos deles terem extrema densidade ideológica, à direita ou à esquerda.
Hoje, 52% dos brasileiros dizem não ter preferência partidária. E, curiosamente, mesmo quando as pessoas se afastam do PT, como registrou o Datafolha em 2015 e 2016, não cresce significativamente a preferência por outros partidos. De fato, neste período, os sem-preferência partidária chegaram a 75%, o que indica que quando as pessoas se afastam do PT se afastam também de qualquer partido. Provavelmente isso também signifique que o sentimento do antipetismo também aumenta o sentimento antipolítica em geral, em vez de gerar preferência por outras agremiações partidárias.
Agora, sugiro pegarmos essa informação para cruzá-las com os resultados das pesquisas eleitorais da semana: a do instituto MDA, a do Ibope e, enfim, o último Datafolha. Na estimulada do MDA, Lula tem 37,3%, o dobro de Jair Bolsonaro, em segundo. Na estimulada do Ibope, os dados são os mesmos: Lula tem 37%, Bolsonaro, 18%. Na estimulada do Datafolha, Lula tem 39% e Bolsonaro 29%. Notem, além disso, que os eleitores de Lula são os mais convictos: só 18% dizem que podem mudar o voto, segundo o MDA, enquanto no caso dos eleitores de Alckmin, por exemplo, o percentual dos que “estão pra jogo” supera 60%. E, o que é mais curioso, segundo o Datafolha, 45% dos eleitores entre 16 e 24 anos de idade dizem que votarão em Lula (contra 24% do segundo preferido). Lula é, então, de longe, o mais forte candidato entre os meninos que não tinham idade quando Lula foi presidente, para lembrar dele, que cresceram durante o massacre público do PT e de Lula e que, não obstante isso, preferem-no a qualquer outro.
Não há como certeza disso sem ir a campo pesquisar, mas provavelmente a recuperação do PT e de Lula pode não estar acontecendo apesar da cobertura negativa e das astúcias da Justiça, do Ministério Público e da Polícia Federal, que claramente manobram para enterrar politicamente o partido e o seu líder mais importante. Talvez esteja acontecendo justamente por causa disso. Acho pouco provável, por exemplo, que os que preferiam o PT como partido político até 2012 estejam voltando para casa depois do terrível quinquênio de lamaçais e furacões que complicou a vida do partido. Há certamente mais ex-petistas nas falanges antipetistas do que a filosofia da senadora Hoffmann consegue imaginar. Assim, me parece mais razoável supor que sejam novos simpatizantes se juntando à tripulação. Por que o fazem, não sei, mas tendo a pensar que, para muita gente, o cerco a Lula, e as tramas e os jeitinhos envolvidos neles, parecem já ter há muito superado o limite de uma divergência justa e de um constrangimento limpo e leal. Não sei, mas desconfio que, a este ponto, o morismo & assemelhados, com seus truques e as suas ações “ad hoc” e “ad hominem”, estejam paradoxalmente jogando água no moinho do Partido dos Trabalhadores.
(1) Comentário
A Resiliência no caso citado na matéria é, na verdade, uma resistência à lei e a ordem, necessárias para a existência de uma sociedade harmônica. O PT e o seu líder são perseguidos justamente por seus crimes. O elogio a uma “resiliência” desta natureza soa como apologia ao crime. Assim penso.