Arcas de Babel: Camila Assad traduz Anne Carson
Camila Assad: versos traduzidos são enxertos de longo poema autobiográfico originalmente publicado em 1994 (Fotos: Divulgação/Annette Hornischer)
A poesia leva ao que há de mais singular em cada língua e desafia a experiência da tradução. Entretanto, muitas e muitos poetas traduzem, e às vezes a escrita poética surge junto com um olhar estrangeiro para a própria língua, vem com a consciência de sua singularidade, entre tantas outras. Esse estranhamento intensifica as forças de transformação no interior das línguas, estendendo seus limites, ampliando seus horizontes. E nunca precisamos tanto dos horizontes que a poesia projeta, agora que uma nuvem pesada encobre perspectivas de futuro… Talvez traduzir poesia seja um modo de contribuir para a construção, não de uma torre, mas de uma ponte ou de uma arca utópica que nos ajude a atravessar o dilúvio. Que nela, aos pares, as línguas se encontrem, fecundas.
A série Arcas de Babel acolhe semanalmente traduções de poesia e está aberta também a testemunhos sobre a experiência de traduzir.
Esta trigésima edição traz a poesia de Anne Carson traduzida e apresentada pela poeta Camila Assad. A obra poética de Carson está entre as mais influentes e originais da atualidade, embora tenha sido pouco traduzida no Brasil.
Camila Assad nasceu em 1988, em Presidente Prudente (SP). É poeta, escritora e tradutora, com aprimoramento em Ficção Literária pela UC Berkeley. É autora dos livros Cumulonimbus (Quintal Edições), Eu não consigo parar de morrer (Editora Urutau) e Desterro (Edições Macondo), obra contemplada pelo ProAC/SP na categoria criação literária. Atualmente vive em São Paulo.
***
Anne Carson nasceu em 1950 em Toronto, Canadá. É poeta, ensaísta, professora de Letras Clássicas e tradutora, tendo vertido para o inglês peças de Sófocles, Eurípedes e poemas de Safo. Seu nome figura entre os principais escritores da atualidade, sendo uma das favoritas nas apostas ao Prêmio Nobel de Literatura nos últimos anos. Carson é conhecida por turvar os limites entre o verso, a prosa e o ensaio, com novelas em versos como Autobiografia do vermelho (1998) e A beleza do marido: um ensaio ficcional em 29 tangos (2001). Sua única obra publicada no Brasil foi O método Albertine, com tradução minuciosa de Vilma Arêas e Francisco Guimarães, pelas Edições Jabuticaba, 2017.
Os dois livros já circulam em Portugal com publicações da não (edições), para a sorte dos leitores lusófonos. Carson não é uma poeta de entendimento simples, muito embora não se valha de vocábulos cerimoniosos e tampouco trabalhe com temas complexos. Seus textos são híbridos, com diversas camadas de compreensão, capazes de transitar entre o erudito e o acessível; o estável e o desequilíbrio numa mesma estrofe, recheados de referências a demais autores, pensadores e artistas, bem como figuras bíblicas, históricas e mitológicas.
Os versos traduzidos aqui são enxertos do Ensaio do vidro, longo poema autobiográfico (também classificado como ensaio lírico) originalmente publicado em Glass, irony and God (1994). Nele, a escritora estabelece um diálogo com Emily Brontë, autora do Morro dos ventos uivantes, que passou a maior parte da curta vida reclusa em uma atmosfera doméstica – e, para aquém desta, dentro da própria mente, recusando trocas inclusive com os familiares com quem vivia. Em Ensaio do vidro, Carson revela fatos pessoais da vida de Brontë, como o rompimento de um namoro, o luto, o isolamento, sua relação com a mãe, e combina memórias para refletir sobre a escrita e a vida da autora. Compara, ainda, essas situações com a de escritoras reclusas em uma charneca, embora deixe claro no texto que não deseja o mesmo destino desta.
De acordo com Júlia Ferreira Massaroni em “The Glass Essay: um espelho entre duas autoras”, “Carson usa uma mistura de gêneros e imagens para explorar sua interioridade, dialogar com sua percepção da autora Emily Brontë e ensaiar sobre luto, liberdade e feminilidade. O poema é também um espelho, possibilitando inúmeras interpretações e refletindo tanto o leitor quanto a si mesmo”. Em um momento como o que vivemos, de confinamento e restrições, além do luto coletivo pela perda de mais de 150 mil vidas e desestruturas de existências, estamos todos aptos a participar dessa conversa.
EU
Eu posso ouvir pequenos cliques dentro do meu sonho
A noite e suas gotas prateadas
pingam nas minhas costas
Às 4 da manhã. Eu desperto. Pensando
no homem que
partiu em setembro.
Seu nome era Law.
Meu rosto no espelho do banheiro
tem manchas brancas.
Enxaguo o rosto e volto para a cama.
Amanhã vou visitar minha mãe.
ELA
Ela mora em um pântano no norte.
Ela mora sozinha.
Ali a primavera se abre como uma lâmina.
Eu viajo o dia todo em trens e levo muitos livros —
alguns para minha mãe, outros para mim
incluindo a Obra Reunida de Emily Brontë.
É minha autora favorita.
Também é meu maior medo, que pretendo enfrentar.
Sempre que visito minha mãe
Sinto que me torno a Emily Brontë,
minha vida solitária ao meu redor como um pântano,
meu corpo desajeitado tropeçando nas planícies de lama com um olhar de transformação
que morre quando eu chego na porta da cozinha.
De carne é essa, Emily, que precisamos?
TRÊS
Três mulheres caladas na mesa da cozinha.
A cozinha da minha mãe é escura e pequena, mas fora da janela está o pântano, paralisado de gelo.
Ele se estende até onde os nossos olhos podem ver
por milhas planas até um sólido apagado céu branco.
Mamãe e eu mastigamos alface com cuidado.
O relógio de parede da cozinha emite um zumbido baixo e irregular que passa
uma vez por minuto em cima do doze.
Eu tenho Emily p. 216 aberta e apoiada no açucareiro
mas estou secretamente observando minha mãe.
Mil perguntas atingem meus olhos por dentro.
Minha mãe está estudando sua alface.
Passo para a p. 217.
“Ao fugir pela cozinha, esbarrei com o Hareton,
que estava a brincando na soleira da porta com uma ninhada de cachorrinhos,
tentando encavalitá-los nas costas de uma cadeira…”
É como se todas nós tivéssemos sido rebaixadas para uma atmosfera de vidro.
De vez em quando, um comentário atravessa o vidro.
Impostos do lote traseiro. Não é um bom melão,
é muito cedo para melões.
A cabeleireira da aldeia encontrou Deus, fecha o salão toda terça.
Camundongos na gaveta de toalhas de chá novamente.
Pequenas bolinhas. Morderam
as bordas dos guardanapos, se eles soubessem
quanto custam os guardanapos de papel hoje em dia.
Chuva essa noite.
Chuva amanhã.
Aquele vulcão nas Filipinas está ativo de novo. Como se chama
Anderson morreu não Shirley não
a cantora de ópera. Negra.
Câncer.
Não está comendo sua guarnição, você não gosta de pimenta?
Pela janela, posso ver folhas mortas atravessando a planície
e resíduos de neve marcados pela sujeira dos pinheiros.
No meio do pântano
onde o terreno forma uma depressão,
o gelo começou a descongelar.
Chegam águas abertas e negras
coagulando como a ira. De repente minha mãe fala.
Essa psicoterapia não está te fazendo muito bem, não é?
Você não está superando-o.
Minha mãe tem um jeito de resumir as coisas.
Ela nunca gostou muito de Law
mas ela gostava da ideia de eu ter um homem e seguir com a minha vida.
Bem, ele é daqueles que tomam e você é daquelas que doam, espero que funcione,
foi tudo o que ela disse depois que o conheceu.
Dar e receber foram apenas palavras para mim
na época. Eu nunca tinha me apaixonado antes.
Era como uma roda girando ladeira abaixo.
Mas esta manhã, enquanto mamãe dormia
e eu estava lá embaixo lendo a parte do Morro dos Ventos Uivantes
em que Heathcliff se agarra à treliça durante a tempestade soluçando
Entre! Entre! para o fantasma do coração de sua amada,
Caí de joelhos no tapete e chorei também.
Ela sabe como pendurar os cachorros,
aquela Emily.
Não é como tomar uma aspirina, sabe, eu respondo debilmente.
Dra. Haw diz que o luto é um processo longo.
Ela franze a testa. O que se alcança
remoendo tanto o passado?
Oh — eu abro as minhas mãos—
Eu triunfo! Encaro seus olhos.
Ela sorri. Sim, você faz.
LIBERDADE
Liberdade significa coisas diferentes para pessoas diferentes.
Nunca gostei de me deitar na cama pela manhã.
Law gostava.
Minha mãe gosta.
Mas assim que a luz da manhã atinge meus olhos, eu quero estar lá fora —
me movendo ao longo do pântano
nas primeiras correntes azuis e navegação fria de tudo desperto.
Ouço minha mãe na sala ao lado se virar, suspirar e afundar mais.
Eu retiro a velha gaiola de lençóis das minhas pernas
e estou livre
No pântano, tudo é brilhante e duro depois de uma noite de geada.
A luz mergulha do gelo direto para um buraco azul no topo do céu.
A lama congelada estala sob os pés. O som
me traz de volta ao sonho que estava tendo
esta manhã quando acordei,
um daqueles doces sonhos noturnos em que me deito nos braços de Law
como uma agulha na água—é um esforço físico
para me puxar para fora de suas mãos de seda branca
enquanto elas deslizam pelos meus quadris do sonho —Eu
viro a face para o vento
e começo a correr.
Goblins, demônios e morte fluem atrás de mim.
Nos dias e meses após a partida de Law
Eu senti como se o céu tivesse sido arrancado da minha vida.
Eu não tinha mais um porto seguro.
Ver o amor entre Law e eu
Se tornar dois animais mordendo e desejando um ao outro
em direção a uma outra fome foi terrível
Talvez seja isso que as pessoas entendem por pecado original, pensei.
Mas que amor poderia existir antes disso?
O que é anterior?
O que é amor?
Minhas perguntas não eram originais
Nem eu as respondi.
Nas manhãs em que eu meditava
Me foi apresentado um vislumbre da minha alma
Não os complexos mistérios do amor e do ódio.
Mas os Nus ainda estão claros em minha mente
como peças de roupa que congelaram no varal durante a noite.
Havia ao todo treze deles.
Nu # 2. Mulher presa em uma gaiola de espinhos.
Grandes espinhos marrons brilhantes com manchas pretas
onde ela se torce para um lado e para outro
incapaz de ficar em pé.
Nu # 3. Mulher com um único grande espinho implantado na testa.
Ela agarra-o com as duas mãos
esforçando-se para arrancá-lo.
Nu # 4. Mulher em uma paisagem destruída
Iluminada em vermelho como Hieronymus Bosch.
Cobrindo sua cabeça e parte superior do corpo está uma engenhoca infernal
como a metade superior de um caranguejo.
Com os braços cruzados como se estivesse tirando um suéter
ela trabalha muito para desalojar o caranguejo.
Era mais ou menos nessa época que
Comecei a contar à Dra. Haw
sobre os Nus. Ela disse,
Quando você vê essas imagens horríveis, por que fica com elas?
Por que continua assistindo? Por que não
vai embora? Eu fiquei maravilhada.
Ir embora para onde? Eu disse.
Essa ainda me parece uma boa pergunta.
Mas agora o dia está aberto e uma estranha luz jovial de abril
está enchendo o pântano com leite dourado.
Eu cheguei ao meio
onde o solo desce em uma depressão e se enche de água pantanosa.
Ele está congelado.
Um painel sólido preto de vida do pântano capturado em suas próprias atitudes noturnas.
Certos arranjos em ouro selvagem de ervas daninhas são visíveis no fundo da escuridão
Quatro troncos de amieiro despidos erguem-se diretamente dele
e balançam no ar azul. Cada tronco
onde ele penetra o gelo irradia um mapa de pressões prateadas —
milhares de rachaduras finas captando o branco da luz
como um rosto preso
atraindo sorrisos através das barras.
Emily Brontë tem um poema sobre uma mulher na prisão que diz
…………………………………..Um mensageiro da esperança, todas as noites para mim aparece
……………………………………A Liberdade eterna, para a vida breve, ele oferece
Eu me pergunto que tipo de Liberdade é essa.
Seus críticos e comentaristas dizem que ela significa a morte
ou uma experiência visionária que prefigura a morte.
Eles entendem a prisão dela
como as limitações impostas à filha de um clérigo
no século XIX em uma paróquia remota em um pântano frio
no norte da Inglaterra.
Eles ficam impacientes com os termos extremos com que ela interpreta a vida na prisão.
“Em muito dos trabalhos de Brontë
a auto dramatização e postura desses poemas oscilam
à beira de um melodrama potencialmente patético”,
um deles diz. Outro
refere-se ao “sublime de papelão” de seu mundo capturado.
Parei de contar à minha psicoterapeuta sobre os Nus
quando percebi que não tinha como responder sua pergunta,
Por que continuar assistindo?
Algumas pessoas assistem, é tudo o que posso dizer.
Não há outro lugar para ir,
nenhuma saliência para escalar.
Talvez eu possa explicar isso a ela se esperar o momento certo,
como com uma irmã muito difícil.
“Numa mente assim só o tempo e a experiência podiam influir,
impenetrável que era à influência de outros intelectos”,
escreveu Charlotte de Emily.
Eu me pergunto que tipo de conversa essas duas tiveram
no café da manhã na casa paroquial.
“Minha irmã Emily
não era gregária por natureza” Charlotte enfatiza
“Em alguém com recessos de mente e sentimentos,
mesmo aqueles mais próximos e queridos a ela não poderiam,
com impunidade, se intrometer sem licença”. Os recessos foram muitos.
Num dia de outono em 1845 Charlotte
“descobria acidentalmente um volume de versos com a caligrafia de
……………………minha irmã Emily”
(…)
Bem, existem diferentes definições de liberdade.
Amor é liberdade, Law gostava de dizer.
Eu considerei isso mais um desejo do que um pensamento
e mudei de assunto.
Mas linhas em branco não dizem nada.
Como Charlotte diz,
“A prática de sugerir por meio de letras únicas esses palavrões
com o qual pessoas profanas e violentas costumam enfeitar seu discurso,
me parece um processo que,
embora bem intencionado, é fraco e fútil.
Eu não posso dizer o que isso faz de bom —que sentimento ele poupa —
que horror esconde.”
Eu viro meus passos e começo a andar de volta sobre o pântano
para casa e café da manhã. É um tráfego de mão dupla,
a linguagem do não dito. Minhas páginas favoritas
da Obra Reunida de Emily Brontë
são as notas na parte de trás
registrando os pequenos ajustes feitos por Charlotte
ao texto do verso de Emily,
que Charlotte editou para publicação após a morte de Emily.
“Prisão para o mais forte [nas mãos de Emily] alterada para nobre por Charlotte.”
Nota da Tradutora: os trechos do livro Morro dos ventos uivantes e as falas de Charlote Brontë no prefácio do mesmo foram retirados da versão da editora Publicações Dom Quixote Ltda., com tradução de Ana Maria Chaves (Lisboa, 1993).
I
I can hear little clicks inside my dream.
Night drips its silver tap
down the back.
At 4 A.M. I wake. Thinking
of the man who
left in September.
His name was Law.
My face in the bathroom mirror
has white streaks down it.
I rinse the face and return to bed.
Tomorrow I am going to visit my mother.
SHE
She lives on a moor in the north.
She lives alone.
Spring opens like a blade there.
I travel all day on trains and bring a lot of books—
some for my mother, some for me
including The Collected Works Of Emily Brontë.
This is my favourite author.
Also my main fear, which I mean to confront.
Whenever I visit my mother
I feel I am turning into Emily Brontë,
my lonely life around me like a moor,
my ungainly body stumping over the mud flats with a look of transformation
that dies when I come in the kitchen door.
What meat is it, Emily, we need?
THREE
Three silent women at the kitchen table.
My mother’s kitchen is dark and small but out the window
there is the moor, paralyzed with ice.
It extends as far as the eye can see
over flat miles to a solid unlit white sky.
Mother and I are chewing lettuce carefully.
The kitchen wall clock emits a ragged low buzz that jumps
once a minute over the twelve.
I have Emily p. 216 propped open on the sugarbowl
but am covertly watching my mother.
A thousand questions hit my eyes from the inside.
My mother is studying her lettuce.
I turn to p. 217.
“In my flight through the kitchen I knocked over Hareton
who was hanging a litter of puppies
from a chairback in the doorway. . . .”
It is as if we have all been lowered into an atmosphere of glass.
Now and then a remark trails through the glass.
Taxes on the back lot. Not a good melon,
too early for melons.
Hairdresser in town found God, closes shop every Tuesday.
Mice in the teatowel drawer again.
Little pellets. Chew off
the corners of the napkins, if they knew
what paper napkins cost nowadays.
Rain tonight.
Rain tomorrow.
That volcano in the Philippines at it again. What’s her name
Anderson died no not Shirley
the opera singer. Negress.
Cancer.
Not eating your garnish, you don’t like pimento?
Out the window I can see dead leaves ticking over the flatland
and dregs of snow scarred by pine filth.
At the middle of the moor
where the ground goes down into a depression,
the ice has begun to unclench.
Black open water comes
curdling up like anger. My mother speaks suddenly.
That psychotherapy’s not doing you much good is it?
You aren’t getting over him.
My mother has a way of summing things up.
She never liked Law much
but she liked the idea of me having a man and getting on with life.
Well he’s a taker and you’re a giver I hope it works out,
was all she said after she met him.
Give and take were just words to me
at the time. I had not been in love before.
It was like a wheel rolling downhill.
But early this morning while mother slept
and I was downstairs reading the part in Wuthering Heights
where Heathcliff clings at the lattice in the storm sobbing
Come in! Come in! to the ghost of his heart’s darling,
I fell on my knees on the rug and sobbed too.
She knows how to hang puppies,
that Emily.
It isn’t like taking an aspirin you know, I answer feebly.
Dr. Haw says grief is a long process.
She frowns. What does it accomplish
all that raking up the past?
Oh—I spread my hands—
I prevail! I look her in the eye.
She grins. Yes you do.
LIBERTY
Liberty means different things to different people.
I have never liked lying in bed in the morning.
Law did.
My mother does.
But as soon as the morning light hits my eyes I want to be out in it—
moving along the moor
into the first blue currents and cold navigation of everything awake.
I hear my mother in the next room turn and sigh and sink deeper.
I peel the stale cage of sheets off my legs
and I am free.
Out on the moor all is brilliant and hard after a night of frost.
The light plunges straight up from the ice to a blue hole at the top of the sky.
Frozen mud crunches underfoot. The sound
startles me back into the dream I was having
this morning when I awoke,
one of those nightlong sweet dreams of lying in Law’s
arms like a needle in water—it is a physical effort
to pull myself out of his white silk hands
as they slide down my dream hips—I
turn and face into the wind
and begin to run.
Goblins, devils and death stream behind me.
In the days and months after Law left
I felt as if the sky was torn off my life.
I had no home in goodness anymore.
To see the love between Law and me
turn into two animals gnawing and craving through one another
towards some other hunger was terrible.
Perhaps this is what people mean by original sin, I thought.
But what love could be prior to it?
What is prior?
What is love?
My questions were not original.
Nor did I answer them.
Mornings when I meditated
I was presented with a nude glimpse of my lone soul,
not the complex mysteries of love and hate.
But the Nudes are still as clear in my mind
as pieces of laundry that froze on the clothesline overnight.
There were in all thirteen of them.
Nude #2. Woman caught in a cage of thorns.
Big glistening brown thorns with black stains on them
where she twists this way and that way
unable to stand upright.
Nude #3. Woman with a single great thorn implanted in her forehead.
She grips it in both hands
endeavouring to wrench it out.
Nude #4. Woman on a blasted landscape
backlit in red like Hieronymus Bosch.
Covering her head and upper body is a hellish contraption
like the top half of a crab.
With arms crossed as if pulling off a sweater
she works hard at dislodging the crab.
It was about this time
I began telling Dr. Haw
about the Nudes. She said,
When you see these horrible images why do you stay with them?
Why keep watching? Why not
go away? I was amazed.
Go away where? I said.
This still seems to me a good question.
But by now the day is wide open and a strange young April light
is filling the moor with gold milk.
I have reached the middle
where the ground goes down into a depression and fills with swampy water.
It is frozen.
A solid black pane of moor life caught in its own night attitudes.
Certain wild gold arrangements of weed are visible deep in the black.
Four naked alder trunks rise straight up from it
and sway in the blue air. Each trunk
where it enters the ice radiates a map of silver pressures—
thousands of hair-thin cracks catching the white of the light
like a jailed face
catching grins through the bars.
Emily Brontë has a poem about a woman in jail who says
……………..A messenger of Hope, comes every night to me
……………..And offers, for short life, eternal Liberty.
I wonder what kind of Liberty this is.
Her critics and commentators say she means death
or a visionary experience that prefigures death.
They understand her prison
as the limitations placed on a clergyman’s daughter
by nineteenth-century life in a remote parish on a cold moor
in the north of England.
They grow impatient with the extreme terms in which she figures prison life.
“In so much of Brontë’s work
the self-dramatising and posturing of these poems teeters
on the brink of a potentially bathetic melodrama,”
says one. Another
refers to “the cardboard sublime” of her caught world.
I stopped telling my psychotherapist about the Nudes
when I realized I had no way to answer her question,
Why keep watching?
Some people watch, that’s all I can say.
There is nowhere else to go,
no ledge to climb up to.
Perhaps I can explain this to her if I wait for the right moment,
as with a very difficult sister.
“On that mind time and experience alone could work:
to the influence of other intellects it was not amenable,”
wrote Charlotte of Emily.
I wonder what kind of conversation these two had
over breakfast at the parsonage.
“My sister Emily
was not a person of demonstrative character,” Charlotte emphasizes,
“nor one on the recesses of whose mind and feelings,
even those nearest and dearest to her could,
with impunity, intrude unlicensed. . . .” Recesses were many.
One autumn day in 1845 Charlotte
“accidentally lighted on a MS. volume of verse in my sister Emily’s
handwriting.”
(…)
Well, there are different definitions of Liberty.
Love is freedom, Law was fond of saying.
I took this to be more a wish than a thought
and changed the subject.
But blank lines do not say nothing.
As Charlotte puts it,
“The practice of hinting by single letters those expletives
with which profane and violent persons are wont to garnish their discourse,
strikes me as a proceeding which,
however well meant, is weak and futile.
I cannot tell what good it does—what feeling it spares—
what horror it conceals.”
I turn my steps and begin walking back over the moor
towards home and breakfast. It is a two-way traffic,
the language of the unsaid. My favourite pages
of The Collected Works Of Emily Brontë
are the notes at the back
recording small adjustments made by Charlotte
to the text of Emily’s verse,
which Charlotte edited for publication after Emily’s death.
“Prison for strongest [in Emily’s hand] altered to lordly by Charlotte.”