As coisas que pedem tempo
(Ravy Marmor)
Em O fotógrafo, de Cristovão Tezza, a trama (edificada sobre uma Curitiba real) é definida por um narrador que troca a cada “fotograma” seu personagem em foco; em A união das Coreias, de Luiz Gustavo Medeiros, o narrador onisciente se mantém junto do protagonista, Paulo – mas a técnica que, apurada, burila dentro da ampulheta os grãos de areia cadentes é uma interseção entre os dois autores.
Evidente: em relação à maturidade e a estratagemas literários, deve-se levar em conta que o Tezza de O fotógrafo já assinava mais de uma dezena de livros – e A união das Coreias é a estreia de Medeiros no romance.
Com trama (edificada sobre uma Goiânia real) que se passa às vésperas da eleição presidencial de 2018, em breve período manhã-noite, A união das Coreias – publicação mais afastada, considerando O fotógrafo, do presente em que a ficção se situa – também discute a política brasileira, na consciência do protagonista e em discursos filtrados pelo protagonista, e disseca os relacionamentos dos personagens: que pegam Uber, falam no WhatsApp, usam Instagram e Word.
“Goiânia não combina com literatura, Rebecca escreveu no primeiro balão de comentários do Word, o trecho destacado já no primeiro parágrafo, é tanta letra e tanto número que parece mais fórmula química do que rua rsrs, ele relembra enquanto gira a aliança no dedo da mão direita como quem gira o trinco de uma porta.”
Desse modo, Medeiros abre a porta de seu ótimo romance – e conduz o leitor para os meandros de rara e minuciosa arquitetura narrativa.






