Angela Davis defende fim de prisões em livro que chega em maio ao Brasil
A ativista e filósofa Angela Davis (Foto: Cortesia de Angela Davis)
Prisões são tão naturalizadas na sociedade que pensar em aboli-las parece utopia. Mas, para a filósofa e ativista Angela Davis, dar fim ao sistema prisional é ponto de partida para pensarmos em um novo modelo de sociedade. Davis desenvolve o argumento em Are prisons obsolete? (São as prisões obsoletas?), originalmente publicado em 2003 e que chega ao país em maio pela Bertrand Brasil.
Professora emérita do departamento de estudos feministas da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, Davis considera que a superlotação das prisões norte-americanas é resultado do fracasso em se produzir democracia para pessoas negras no período pós-abolição. Isso porque, apesar de representarem 12% da população dos Estados Unidos, negros constituem 40% da população carcerária do país, segundo dados da Universidade de Stanford, na Califórnia.
Em Are prisons obsolete?, além de defender novos terrenos de Justiça nos quais a prisão não serve como “principal âncora” da sociedade, a pensadora ataca o que chama de complexo industrial prisional, modelo que transforma o aprisionamento em negócio lucrativo para corporações do capitalismo global. Analisa ainda como a questão de gênero estrutura o sistema prisional, pensado a partir da masculinidade.
“No passado houve quem defendesse a manutenção da escravidão de forma ‘mais humanizada’. Esse argumento não nos faz sentido, mas há os que defendem a reforma do sistema carcerário hoje. A escravidão e o cárcere são instituições de repressão estruturadas no racismo. Abolir o sistema carcerário nos faz pensar a sociedade em que esse sistema de punição emerge e buscar novas formas de justiça”, defendeu durante palestra na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em julho deste ano.
Desde o fim dos anos 1960, o assunto se tornou um dos principais temas da produção intelectual de Angela Davis, ela mesma presa aos 26 anos pelo FBI, acusada de envolvimento no tiroteio que resultou na morte de quatro pessoas no tribunal de San Rafael, na Califórnia, em 1970. A sentença final a declarou inocente dois anos depois, após campanhas nacionais e internacionais pela sua libertação. Sobre o tema, a Bertrand também relança A democracia da abolição: para além do império das prisões e da tortura, publicado em 2009 pela Difel.
(3) Comentários
Lerei com Muito a atenção. A tese dela é muito bem fundamentada.
Interessante, mas como fica os indivíduos de alta periculosidade, e praticas de crimes hediondos?
após perder a adolescencia , a juventude e boa parte da vida adulta nas prisões , viver livre é uma busca constante hoje em dia , pois nunca vi sentido nesta politica de aprisionamento em massa a não ser como um sistema capitalista onde o ser humano preso é a mercadoria que sustenta essa sociedade , o fim de tudo isso sim faria sentido , por isso apoio e corro junto nesta busca , eu não fui ressocializado pelo sistema , mas sim busquei a minha própria ressocialização através do rap , teatro e a cultura em geral…