Acadêmicos, artistas e ativistas debatem descolonização em Salvador
A historiadora Lilia Moritz Schwarcz fala no primeiro dia da conferência Ecos do Atlântico Sul (Foto: Taylla de Paula)
O que fazer com a história da colonização? Como lidar com a imensidão de imagens, objetos e representações que nasceram desse processo? A questão foi um dos principais temas de debate no primeiro dia da conferência internacional Ecos do Atlântico Sul, organizada pelo Instituto Goethe, em Salvador. De 23 a 25 de abril, mais de 60 artistas, ativistas e acadêmicos da Europa, África e América do Sul se reúnem na capital baiana para repensar as relações – e o futuro – do Atlântico Sul.
A antropóloga Lilia Schwarcz, que abriu a conferência com a palestra “Imagens da escravidão afro-atlântica”, defendeu a necessidade de “descolonizar” as imagens desse período – em sua grande maioria produzidas por estrangeiros que retrataram o Brasil como um país manso, onde a escravidão se deu de forma pacífica.
“É preciso pensar não só no que essas imagens e fotografias mostram, mas no que podem criar”, ressaltou, criticando a falta de contexto, politização e crítica na maneira com que obras de Jean-Baptiste Debret, por exemplo, são expostas em museus e exposições mundo afora.
Como transformar os museus em espaços de histórias diversas e não apenas de “curiosidades” foi o tema da fala de Nanette Snoep, diretora e curadora de três museus etnológicos no estado da Saxônia, na Alemanha. Juntos, os espaços possuem mais de 3.500 objetos do período colonial, “mais do que provavelmente possuem os museus africanos”, de onde milhares dessas peças são originárias.
“Como lidar com coleções etnográficas? Museus terão que reconhecer que não são donos das obras que exibem”, afirmou a curadora, reconhecendo que muito do acervo dos museus etnográficos europeus são fruto da violência exercida pelos países colonizadores.
Quando a discussão passa pelo tema da repatriação dessas obras, entretanto, afirma que “pressões políticas” impedem que elas sejam devolvidas aos seus países de origem. A discussão, segundo Snoep, é uma das mais importantes a ter lugar dentro dos museus na última década – e foi definitivamente a mais acalorada no primeiro dia do encontro em Salvador.
“A Europa deve pensar que outras culturas e outros países têm suas próprias narrativas do passado e do presente, além de outra imaginação de futuro. Por isso deve haver um intercâmbio [de ideias]”, afirma o diretor executivo do Goethe, Manfred Stoffl.
O tema da conferência é o mesmo da 11ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre (que vai até 3 de junho), e de uma série de palestras e exposições programadas pelo Masp em 2018. A coincidência, afirma Stoffl, é resultado de crises jamais resolvidas e que “agora se mostram urgentes”. A conferência Ecos do Atlântico Sul termina nesta quarta (25), com a abertura da exposição homônima no Instituto Goethe.
Exposição Ecos do Atlântico Sul
26 de abril a 7 de maio (segunda a sábado), das 9h às 19h, grátis, na Galeria do Goethe-Institut Salvador (BA) – Av. Sete de Setembro, 1809, Corredor da Vitória