Um certo antídoto para a solidão: “Paisagens inclinadas”, de Michaela Schmaedel, e mais

Um certo antídoto para a solidão: “Paisagens inclinadas”, de Michaela Schmaedel, e mais

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No livro Paisagens inclinadas, de Michaela Schmaedel, há sempre algo nascendo, enquanto outro morre, algo que resiste em meio aos desaparecimentos e algo que se transforma, sobretudo nós mesmos

Por um desses mistérios bonitos da vida, eu e Michaela Schmaedel, poeta a quem admiro demais, pensamos nossos últimos livros dentro de um mesmo recorte de tempo, guiados pelas estações climáticas, porém, em ordem contraintuitiva: do verão à primavera.

Poderia arriscar algumas explicações para esta coincidência, mas nenhuma delas faria jus ao encantamento do inexplicável que nos conecta em dimensões desconhecidas, tampouco a esta maravilha de livro que Michaela escreveu.

Paisagens inclinadas (editora 7Letras) subverte não apenas a ordem intuitiva das estações, mas nos convida o tempo todo a romper com o lugar-comum dos sentidos a começar pelo título, que nos sugere um olhar livre de toda e qualquer diretriz.

Desse lugar fora de prumo de sentidos propositalmente embaralhados “pra dar à realidade/ ares de ilusão”, somos desafiados a encarar a vertigem e nos perguntarmos: será possível distinguir o que é ilusão do que é real?

Desse lugar incomum ela nos convida também a um novo olhar para o aqui e agora “Reparar o comum/ o muito conhecido” e a notar as semelhanças “O mar/ como a um irmão”.

Assim como nos ciclos das estações, em Paisagens inclinadas há sempre algo nascendo, enquanto outro morre, algo que resiste em meio aos desaparecimentos e algo que se transforma, sobretudo nós mesmos.

“Só existe movimento” e, assim como “Até a tartaruga morta/ na beira do mar/ não está parada”, é na instabilidade que podemos perceber “os nossos pequenos momentos de glória”.

Não passamos inertes pelas estações, nem pelo amor primeiro, mas, diferentemente de nós, as flores retornam inalteradas e

É de um jardim inesperado
nesta área semidevastada
que volta-se a ter fé
no amor.

Ainda assim, não há como escapar da solidão,

a solidão está
sempre à espreita
como um gafanhoto
pousado nos trigos
.

E nesse ciclo interminável da exaustão à esperança, talvez seja até preciso passar por ela, porque “É dos penhascos/ o recomeço.

Então, como quem sabe ser esta a melhor opção, a poeta confessa: “gosto de ser eu/ a dona dos desmoronamentos” e como quem procura recolher os próprios restos em meio às ruínas, em meio ao seus “territórios destruídos”, ela pede gentilmente de volta as partes de um coração fatiado.

E é neste ponto do “Arrepender-se logo depois/ o coração aos pedaços/ em cinco pratos”, que Michaela ensina: é possível pedir de volta as nossas partes servindo-se da mesma gentileza com a qual um dia as ofertamos – e que toda gentileza é um certo antídoto para a solidão.

Tatiana Eskenazi é poeta, com dois livros publicados: Seu retrato sem você (Editora Quelônio, 2018) e Na carcaça da cigarra (Laranja Original, 2021).


por Redação

Em seu livro de estreia, a soteropolitana Catharina Azevedo apresenta ao leitor 40 poemas que se colocam como “um corpo que caminha a imensidão  da aridez da existência, da geografia dos conflitos internos, dos solos rochosos das desvelações”, nas palavras de Hosanna Almeida, que assina o posfácio da obra. Em seus poemas, à força avassaladora dos sentimentos sobrepõe-se a força dos elementos naturais, com especial enfoque à água, com suas ligações afetivas no imaginário poético de uma escritora que vive em Salvador. Mas essa “brisa salina”, igualmente, é revestida de ambivalências e contrações, como lemos no penúltimo poema da obra: “Mesmo se sou fogo destrutivo,/ e o vermelho que carrego incinere meu cabelo,/ não serei água esperando em refúgio enquanto/ o solo se aquece para recebê-lo”.

Com um forte tom metalinguístico, as 19 crônicas enfeixadas em Crônicas do ofício refletem, como vislumbrado no título, sobre o universo da escrita e as circunstâncias peculiares ao ofício de escritor. Além das crônicas, o volume também encerra 17 resenhas de livros do cenário literário nacional, passando pela escrita de poetas, contistas e romancistas contemporâneos. Crônicas do ofício abarca textos escritos por Luiz Eduardo de Carvalho desde 1988, dando a ver um autor “que exercita o talento de escritor antenado às coisas de seu país, concentrado em seu tempo, em seu árduo ofício de artesão da palavra”, como assinala Leonardo Almeida Filho no prefácio.

Diretor do Museu de Arte de São Paulo (MASP) por mais de 50 anos e precursor do setor de quadros e esculturas no país, Renato Gouvêa Magalhães tem sua carreira e trajetória exploradas em Maestro. Entre as décadas de 1950 e 1990, Gouvêa Magalhães revolucionou o mercado de arte nacional ao organizar  venda de obras de arte e estabelecer preços, qualidade e glamour em um padrão até então não praticado no país. Repleta de fotos de época, de seus personagens e de importantes obras de arte, a biografia de Rogério Godinho percorre não só a trajetória de seu biografado, mas adentra o universo do mercado de arte no Brasil.


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