“O funk na batida”, de Danilo Cymrot, e outros lançamentos
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“Um livro de poesia, história e estórias”, como escreve Sergio Salomão Shecaira no prefácio à obra, O funk na batida parte de uma hipótese bem definida: como determinadas práticas culturais produzidas e consumidas pela juventude pobre e negra são objeto de uma política penal no Brasil, em detrimento de uma política cultural, seguindo a estrutura de criminalização da população periférica e racializada. Fruto da pesquisa de mestrado do autor, a obra divide-se em três partes. Em “Funk e espaço público”, discute-se a relação do gênero musical com o espaço público e os arrastões em praias cariocas, os rolezinhos, a segregação urbana e os bailes de rua. Na segunda parte, “Funk e violência”, analisa-se a relação do funk com a violência, com foco nos “bailes de corredor” dos anos 1990 e a resposta do Poder Público. Na última parte, “Sexo, drogas e funk”, discorre-se sobre a presenta do tráfico e do crime no funk, a prisão de MCs e os projetos de lei para coibir o “funk proibidão”. Como escreve o autor na introdução, o livro parte da constatação do descompasso que existe entre o sucesso nacional e internacional do funk, com os benefícios econômicos que acarreta, e o preconceito e as tentativas de criminalização que, mesmo assim, ainda enfrenta.
Como o pensador florentino Nicolau Maquiavel fornece instrumentos úteis para pensar a democracia moderna, apesar de ter escrito no contexto monárquico? Essa é uma das questões sobre as quais Renato Janine Ribeiro discorre em sua nova obra, que une Maquiavel e democracia para pensar nossa atual situação política. Para isso, utiliza-se de dois conceitos centrais no pensamento do autor de O príncipe, fortuna e virtude, para refletir sobre a ação política nas incipientes monarquias europeias e nas dinâmicas políticas da Nova República brasileira, de 1985 até o governo atual. Ressaltando a importância do conceito de legitimidade, o autor ainda faz um balanço “sobre quais dos presidentes pós-redemocratização ascenderam graças a méritos próprios, a virtù, ou por meio dos acasos e idiossincrasias de nossa vida pública”, como escreve o editor na orelha de Maquiavel, a democracia e o Brasil.
Reunião, em edição bilíngue, de dois contos decadentistas do escritor russo simbolista Fiódor Sologub: “Esconde-esconde”, de 1898, publicado em 1909; e “Lembra, não vai esquecer?”, de 1911, publicado três anos depois. No primeiro, o leitor acompanha a doce menina Liólia e sua vontade de brincar de esconde-esconde com a mãe, evocando a felicidade ausente na vida da mãe, presa a um casamento infeliz, e a própria fugacidade da alegria de uma criança. Já no segundo, o foco da narrativa é o quase cinquentão Nikolai Skoromýslin, que rememora a época de sua juventude, quando, apesar da pobreza, vivia alegre ao lado da jovem esposa. Como registrado na apresentação da obra, “crianças e jovens são uma temática cara para Sologub e, em seus contos, muitas vezes morrem cedo, como se o mundo decaído não pudesse abrigá-las”.
Um lugar-tenente é nomeado, por um líder incógnito, para representá-lo em um oásis do deserto saariano. Mas sua posse envolve o uso de uma túnica misteriosa, que permite ao líder dominar e controlar seu representante. Assim se estrutura a trama de O tumor, novela do escritor líbio Ibrahim Al-Koni publicada originalmente em 2008. Como escrevem no site da editora, o enredo é um pretexto para o autor investigar seus grandes temas de interesse: “os processos de corrosão e devastação desencadeados pela sede de poder e pelas ambições desmedidas que a acompanham”. Como nota o tradutor Mamede Jarouche, a obra ainda apresenta certa peculiaridade em relação ao mundo árabe por ser ambientada no mundo dos tuaregues, etnia dos nômades berberes do deserto. Isso faz com que, registra Jarouche, o autor tente “se afastar de certas significações sedimentadas pela tradição cultural muçulmana”, tornando-o um “um árabe sintaticamente clássico, mas que, semanticamente, se viu obrigado a buscar conceitos introduzidos nessa língua em um período mais tardio”.
Reunião das vivências e processos de criação da artista Juliana Notari, que trabalha há 20 anos com marionetes. Em nove capítulos, a marionetista discorre sobre suas memórias de infância, uma poética do cotidiano, a construção de marionetes, exercícios e práticas de animação e a relação entre a arte da marionete e o contexto contemporâneo. É um livro da “palabra que vuela, la palabra desatada, la que se va y sólo deja su latido canturreando en algún hueco de la memoria de quien la escucha”, como registra no prefácio o narrador oral Aldo Méndez.