Godard 90 anos
Edição do mêsO cineasta Jean-Luc Godard completa 90 anos em 3 de dezembro (Foto: Philippe Doumic/Domínio Público)
Não se comete um exagero ao afirmar que Jean-Luc Godard é o maior cineasta vivo em atividade. Sua obra é extensa – são mais de 120 filmes ao longo de 64 anos como realizador, além de mais alguns como crítico, e 90 anos de vida. Seu aniversário é em 3 de dezembro, motivo da publicação deste especial. O mais impressionante, no entanto, é o fato de que não se trata de um especialista. Ao filmar, Godard impulsiona o cinema para além de seus limites, não só recorrendo a outras artes, à filosofia ou mesmo à baixa cultura, mas sobretudo forjando vias de percepção e pensamento que minam o estatuto e a hierarquia das disciplinas do saber. Dotado de certo espírito humanista, Godard até hoje se defronta com um mundo fraturado, onde imagens em profusão vertiginosa exprimem uma condição segundo a qual todas as relações sociais aparecem como relações entre coisas.
Se, no início de sua carreira, o cinema foi o ponto de partida para tal reflexão, desde o reconhecimento em retrospecto do trabalho autoral de diretores que operavam na indústria hollywoodiana – a irreverente politique des auteurs, concebida pelos “jovens turcos” dos Cahiers du cinéma – até a análise da sociedade de consumo em seus filmes da segunda metade da década de 1960, Godard não demorou a desenvolver um duplo ativismo curioso: a negação radical do modo de produção capitalista (apregoada pela militância no período do Grupo Dziga Vertov, quando a práxis diretamente política e o alinhamento com grupos oprimidos regulavam seu fazer audiovisual) e o contraband
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