Um ponto de inflexão na poética do ensaio
A chinesa, 1967, Godard (Foto: Divulgação)
Na primeira sessão pública de cinema, em 1895, entre as diferentes reações registradas, houve uma observação notável de Georges Méliès sobre um dos filmes dos Irmãos Lumière, O almoço do bebê. Estamos na mansão dos Lumière, onde vemos a família sentada a uma ampla mesa no jardim: no centro da cena, o infante e seu séquito, o teatro feito para a câmera; ao fundo, o jardim e suas árvores agitadas, as folhas ao vento. A cena do bebê concentrou a atenção dos espectadores, mas algo mais decisivo se expressou na frase de Méliès: “no cinema, as folhas se agitam”. Ou seja, para ele, o encanto do que se projetava na tela não estava no centro, mas lá no fundo, onde a imagem em movimento tornava visível algo fugaz: o movimento das folhas, que até então não seria possível observar na experiência teatral, cujo “pano de fundo” trazia uma imagem fixa capaz de evocar um ambiente, mas não o sentimento vivo de sua presença e movimento.
A frase de Méliès resumia bem uma possível resposta à pergunta: o que há de inaugural no cinema? A imagem em movimento nos faz sentir a presença do instante que não é centro de um drama, nem ponto de inflexão de uma vida, mas um instante qualquer. Naquela observação, já em 1895, Méliès inseriu o cinema no campo das inquietações dos pintores que, desde o final do século 19, buscavam o corpo a corpo com o mundo instável, as ocorrências fugazes, seja na natureza, seja na vida urbana moderna.
Há uma potência do cinema nessa “captura”, e nas imagens originárias da experiência cinemat
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