Satanismo, santidade e política
O escritor e crítico de arte francês J.-K. Huysmans, autor de 'Nas profundezas', relançado pela Carambaia (Foto: Reprodução)
A idealização da Idade Média como sociedade harmoniosa, organizada em corporações, voltada para a fé; a defesa do absolutismo. Tal ideário já foi defendido e exposto didaticamente por T. S. Eliot no ensaio The Idea of a Christian Society. Outros gênios literários, desgostosos com a ascensão da burguesia e a sociedade de massas, também o adotaram: Balzac, Flaubert, Yeats. E J.-K. Huysmans, de quem foi lançada no Brasil uma excelente edição de Là-bas (Nas profundezas, Carambaia, tradução de Mauro Pinheiro, posfácio de Pedro Paulo Catharina).
Adaptaram, todos, a História a seu horror à sociedade em que viviam. Falsearam-na. A verdade é que, sob o esplendor gótico que maravilhou outro grande tradicionalista, Oswald Spengler, e a impressionante produção literária tão bem examinada por E. R. Curtius, de Chrètien de Troyes a Dante Alighieri, passando pelos provençais, a Idade Média foi caótica. Pipocavam rebeliões religiosas, como bem mostra, entre outros, Norman Cohn em The Search of the Millenium. Guerreava-se constantemente. Dante escreveu a Divina comédia em meio aos sanguinolentos combates entre Guelfos e Gibelinos. Guerras se alternavam com epidemias de peste. A expectativa de vida era de 30 anos. A grande maioria da população, inclusive aristocratas, era analfabeta. Frente aos absolutismos e ao feudalismo, foi real o progresso trazido pelo Iluminismo e pela sociedade burguesa, como observaram não apenas defensores do liberalismo, os Karl R. Popper, Isaiah Berlin ou Raymond Aron, mas o próprio Karl Marx.
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