E agora, direita?
Arte Revista CULT
Há pouco tempo era difícil alguém se declarar “de direita” no Brasil. Por receio de ser identificado com o regime militar e ser estigmatizado de forma generalizada. Mesmo tendo inclinação pelo autoritarismo, poucos se arriscavam a assumir seus desejos mais íntimos – pelo menos em público.
De repente, a vergonha desapareceu e, depois de quase sumirem do mapa político do país desde a redemocratização, nos anos 1980, a direita agora renasce das cinzas com seu ódio, desamor, incompreensão e passa a se alastrar sorrateiramente.
Um pessoa ser chamada de “reacionária”, “conservadora” e “neoliberal” ainda incomoda, dói nos ouvidos. Mas, dia após dia, a turma da direita decidiu “sair do armário” e bater panelas. Mas e agora, direita?
A situação da política é: um presidente com o maior índice de rejeição da história, que não pode sair do poder pois não há nada melhor que ele. Mesmo que ele saísse, nada mudaria: ainda assim, o governo ficaria nas mãos de um mesmo bloco político. E agora, direita ?
A situação está tensa. O general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército Brasileiro, ameaçou acabar com a Constituição Federal. Nada foi feito. Há dois anos, durante o governo Dilma, a mesma atitude marcial implicou a transferência do general Antonio Hamilton Martins Mourão do estratégico Comando Sul para o Quartel General, em Brasília. Em seis meses, passou para a reserva. Hoje, o governo silenciou e deixou passar.
É ingênuo supor que não haja nenhuma diversidade de pensamento político na extrema direita. Mas é correto ter a certeza de que acima e além do campo das reflexões está o conceito da disciplina. O general que colocou tanques e seis mil soldados na estrada na madrugada de 31 de março de 64 é um outro Mourão, de um outro tempo da história, 53 anos no passado. E agora?
Na verdade, todos aceitariam a continuação de um governo muito conservador, apesar de muito corrupto, e assim ninguém precisaria intervir. Quanto a proteger o Brasil do autoritarismo, ninguém protege um país de 200 milhões de habitantes. Nem a ONU, nem ninguém. Se houver um regime autoritário que passe a prender, torturar e matar centenas de pessoas, é bom todos se alertarem. E agora, direita?
É importante notar que os setores dominantes da direita brasileira estão muito divididos, muito mais do que em 1964. Muita gente não quer a intervenção militar. Alguns militares têm a mesma visão econômica que a direita liberal, mas outros não: são mais nacionalistas e nacionalistas-autoritários. Não saberíamos quem iria ganhar.
Eles poderiam, por exemplo, querer prender todo mundo para ficar com todo o poder e mandar todo o PSDB para a cadeia. Neste caso, é muito melhor organizar uma eleição indireta em 2018 para ficar no poder e manter uns e outros bem longe. O ódio se instalou no país, a confusão leva ao ódio que mata. O que fazer se o tiro saiu pela culatra?
E agora, direita?