Sem heróis ou santos

Sem heróis ou santos
Raymond Williams, 1985 (Foto: Mark Gerson/Reprodução)
  Ao rastrearmos na obra de Raymond Williams algumas linhas de força da sua teoria da literatura e da leitura, pode nos parecer estranho o modo como o autor se relaciona com o cânone literário de língua inglesa e, de modo geral, com o texto literário. Em sistemas literários como o brasileiro, em que escritores são, em geral, tratados como heróis ou santos pela crítica especializada (sobretudo se já estiverem canonizados) e em que o texto só pode ser relacionado à sociedade após ter passado pelo escrutínio analítico que, entre outras coisas, determinaria o seu valor, causa espécie ler um estudioso da literatura que não está preocupado em construir hagiografias ou leituras internas; mais ainda, pensa obras e autores como produtoras e produtores de sentidos muitas vezes atrelados ao pensamento hegemônico, no caso, o das classes dominantes. Para Williams, uma teoria da literatura e uma literatura baseadas na imaginação, na organicidade e no gênio criador podem, eventualmente, trazer uma visão homogênea e irreal de sociedade, limitada por uma perspectiva da classe a que pertencem os proponentes; tal perspectiva pode, inclusive, encobrir a heterogeneidade e as contradições da realidade social sendo, assim, conservadora. É o que sugere o capítulo “O artista romântico”, de Cultura e sociedade, publicado em 2015 pela editora Vozes, ao tratar do modo como, no romantismo inglês, alguns poetas e críticos criam um espaço singular para a poesia, como se ela fosse uma reserva de imaginação na sociedade capitalista que se transformava rapi

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