A massa e a malta

A massa e a malta
Raymond Williams (Reprodução)
  “Não há de fato massas; há apenas maneiras de ver as pessoas como massa.” A formulação lapidar de Raymond Williams na conclusão de Cultura e sociedade, de 1958, faz eco à análise crítica do uso do conceito de massas realizada dois anos antes por Theodor Adorno e Max Horkheimer em Temas básicos da sociologia. O fato de representantes maiores de duas correntes do chamado “marxismo ocidental” firmarem posição quase ao mesmo tempo sobre a mesma questão expressa a urgência em afinar instrumentos para um combate indissociavelmente intelectual e político em que as vertentes tomam o mesmo partido contra o pensamento conservador, mas revela também em seus meandros argumentativos diferenças sutis, embora significativas, entre eles. Creio que parte importante do legado de Williams para a compreensão mais geral do mundo social reside justamente aí, razão pela qual tentarei explicitar a singularidade e a riqueza sociológica contida em seu aforismo, tomando a licença de lê-lo assim (espero que não abusivamente). Como Adorno e Horkheimer constroem sua análise criticando aquele que, a meu ver, é o ponto problemático na fonte essencial da discussão – a saber, o livro Psicologia das multidões, de 1895, de Gustave Le Bon –, será preciso explicitá-lo rapidamente. Em sua obra, Le Bon articula a análise de dois níveis do comportamento coletivo: a especificidade do funcionamento anímico do indivíduo sob o influxo do pertencimento à multidão e uma teoria mais geral dos fenômenos associativos. No plano do indivíduo, o destaque é

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