Arcas de Babel: Natália Agra traduz Patti Smith

Arcas de Babel: Natália Agra traduz Patti Smith
(Fotos: Fabiano Calixto e Andre D. Wagner)

 

A poesia leva ao que há de mais singular em cada língua e desafia a experiência da tradução. Entretanto, muitas e muitos poetas traduzem, e às vezes a escrita poética surge junto com um olhar estrangeiro para a própria língua, vem com a consciência de sua singularidade, entre tantas outras. Esse estranhamento intensifica as forças de transformação no interior das línguas, estendendo seus limites, ampliando seus horizontes. E nunca precisamos tanto dos horizontes que a poesia projeta, agora que uma nuvem pesada encobre perspectivas de futuro… Talvez traduzir poesia seja um modo de contribuir para a construção, não de uma torre, mas de uma ponte ou de uma arca utópica que nos ajude a atravessar o dilúvio. Que nela, aos pares, as línguas se encontrem, fecundas.

A série Arcas de Babel acolhe semanalmente traduções de poesia e está aberta também a testemunhos sobre a experiência de traduzir.

Nesta nona Arca, a poeta e editora Natália Agra, traduz e apresenta poemas inéditos de Patti Smith

Natália Agra é poeta, editora e tradutora. Publicou os livros de poesia De repente a chuva (Corsário-Satã, 2017) e o megamíni fotogramas [o silêncio possível] (7Letras, 2019). Publicou, também em 2019, seu primeiro livro infantil Os balões de Nise, na coleção Coco de Roda, da Imprensa Oficial Graciliano Ramos. Edita, ao lado de Fabiano Calixto, Rodrigo Lobo Damasceno e Tiago Guilherme Pinheiro, a revista de poesia Meteöro. Organiza, com Emily Hozokawa, Fabiano Calixto e Tiago Marchesano, a Desvairada – Feira de Poesia de São Paulo, que acontece anualmente na capital paulista. Já verteu para o português poemas de Alejandra Pizarnik, Billy Corgan, Lawrence Ferlinghetti, PJ Harvey, entre outros.  Seu novo livro de poemas Noite de São João (Corsário-Satã, 2020) acaba de ser lançado.

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Patti Smith nasceu em 1946, em Chicago, nos Estados Unidos. Mas foi sua ida para Nova York (onde vive até hoje) que mudou os rumos de sua vida. Patti ficou muito conhecida após o lançamento de seu clássico disco Horses (1975), um dos precursores do punk rock e um marco em sua carreira – é considerado um dos álbuns mais influentes de rock de todos os tempos. Apaixonada por literatura, publicou vários livros de poesia e prosa. Dentre eles estão: Babel (1978), The coral sea (1996), Auguries of innocence (2005), Just kids (2010), devotion (2017) e Year of the monkey (2019).

Aqui, apresento a vocês seis poemas de um conjunto maior que venho traduzindo calmamente nos últimos três anos e uma letra de música. Os poemas “To the reader”, “Music (a woman)”, “A bed of roses” e “Crux” pertencem ao livro The coral sea (1996) e são uma coleção de poemas em homenagem ao fotógrafo Robert Mapplethorpe, seu grande amigo e companheiro de muitos anos. Considero o poema “To the reader” um pequeno ensaio para o que seria o livro Just kids (Só garotos, publicado pela Companhia das Letras). Os poemas “The blue doll” e “Tara” são do livro Auguries of innocence (2005), que é um livro vibrante, que transita entre poemas em verso e em prosa. “Amerigo” faz parte do álbum Banga (2012) – esta tradução está também no livro Tocando fogo no mundo das ideias – canções de Patti Smith (É selo de língua, 2019), que reúne versões de letras de Patti por vários poetas brasileiros contemporâneos.

Patti já disse diversas vezes que escrever sobre pessoas queridas de sua vida (que já não estão por aqui) é uma maneira de trazê-las de volta à vida e agradecê-las pelo amor, pela amizade, pela alegria e pelo encantamento do convívio. Ela é, sem dúvida, uma das artistas mais ativas e importantes do nosso tempo. Basta, por exemplo, passear por sua página no Instagram para nos depararmos com uma artista feroz, inconformada com os rumos da política e das coisas do mundo. Em contrapartida, vemos, também, o seu lado mais amoroso, sempre relembrando com lindas homenagens seus amigos, artistas importantes para sua formação e, também, suas descobertas na literatura. No começo do ano passado, ela fez um post que agradou muito a nós brasileiros: era uma foto que mostrava o livro A paixão segundo G. H., da Clarice Lispector, em tradução para o inglês. O texto que vinha junto com a foto não falava do livro, mas foi emocionante saber que em algum momento Patti encontrou as palavras de Clarice.

Ela sempre exalta seus ídolos em suas falas públicas e trabalhos. Roberto Bolaño, Bob Dylan, William S. Burroughs (e toda a literatura beat), Jean Cocteau, Arthur Rimbaud, dentre outros, são muito mencionados. Este último, a poeta descobrira em 1964 e, muitos anos mais tarde, assinou um manifesto que exigia a manutenção da casa de Rimbaud e Verlaine. Felizmente deu certo e hoje o local é um centro de poesia em homenagem aos dois grandes poetas simbolistas.

Essa é Patti Smith, a poeta punk, a voz potente, inventiva e rebelde que recebeu o Nobel de Bob Dylan a pedido do próprio. Uma mulher que, no auge de seus 73 anos, nos faz acreditar que é o coletivo, o povo que tem o poder de mudar as coisas. Façamos como ela, um mundo melhor nos espera – se lutarmos por ele. – Natália Agra

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Para o leitor

 

A primeira vez que vi Robert, ele estava dormindo. Eu estava em pé sobre ele, o garoto de vinte anos que, sentindo minha presença, abriu os olhos e sorriu. Em poucas palavras, ele se tornou meu amigo, meu companheiro, minha amada aventura.

Quando ficou doente, chorei – e não conseguia mais parar de chorar. Ele me recriminou por isso, não com palavras, mas com um simples olhar de reprovação – e eu parei.

Quando o vi pela última vez, sentamos em silêncio e ele descansou sua cabeça em meu ombro. Assisti a luz mover-se sobre suas mãos, sobre seu trabalho, sobre toda a nossa vida. Mais tarde, voltando para sua cama, nos despedimos. Mas quando estava de saída, algo me fez parar e voltei para o seu quarto. Ele estava dormindo. Eu estava novamente em pé sobre ele, um homem à beira da morte que, sentindo a minha presença, abriu os olhos e sorriu.

Quando ele morreu, não pude chorar, então escrevi. Assim sendo, peguei as páginas e as guardei. Aqui estão essas páginas, meu adeus ao meu amigo, minha aventura, minha alegria absoluta.

 

Música (uma mulher)

 

No convés, um cavalheiro entretinha alguns convidados em seus trajes de gala. Aulas de violão clássico, adoráveis, embora um pouco entediantes. M manteve-se a distância e inclinou a cabeça, deixando-se levar pela abstrata monotonia. As notas pareciam suspensas e prolongadas, acariciando o mar e a si próprio. Ele acenou do deque, mas não queria voltar para sua cabine.

Viu-se, então, no corredor de uma parte pouco explorada do navio. Vagou por baixo, seduzido pelo perfume de uma melodia familiar. Ficou, por um instante, diante de uma porta esmaltada de branco, em seguida agachou-se para ouvir. Depois de um tempo, foi carregado, as notas musicais o abraçaram, formando um casulo que o fez cair no sono.

Uma mulher abriu uma porta pesada e outra realidade. “Aqui é onde você deveria estar nesta noite” – a melodia respirou, separando suas roupas. E novamente ele foi envolvido.

Mais tarde, ele mal pôde suportar. Sentiu-se levemente adormecido e suas pernas ficaram enrijecidas. Havia uma canção em seu crânio. Sentiu-se vítima de alguma transformação maliciosa. Pressionou as amplas paredes curvas em busca de apoio e ficou aliviado ao voltar à cabine. Falhou ao não notar uma bota ao seu lado, mas ficou surpreso ao encontrar, no meio da cama, uma minaudière cheia de joias que, apressadamente, abriu.

 

Uma cama de rosas

 

Ele chegou à conclusão de que cada um de nós sabe tudo, pois o destino nos é familiar, permeia nossa respiração. Sua atmosfera é onde um bebê descansa a cabeça. Sinais agitam seus braços quando o atravessamos. Os amantes desviam seus olhos até que a trêmula consciência se torne insuportável – e, então, eles se separam. Cada um segurando um pedaço do futuro que se encaixa como um coração de dez centavos.

Ele estava destinado a ficar mal e parte dele sabia disso. Mas ele não queria falar sobre isso – não agora. Então, fugiu para as entranhas do tédio disfarçadas de aventura – um transatlântico no meio do mar; em uma mente inexplorada – pura e ampla. Aqui, o tempo se esticava como um super-herói de massinha de modelar. Aqui, o destino poderia ser cortejado e conquistado. Tal perspectiva preencheu-o com enorme determinação e ele seguiu os sinais, moldando-os e remoldando-os.

Encostou-se no deque, eufórico, tamborilando os minúsculos espinhos do mar. E lá, ele se rendeu – uma jovem águia espalhada sobre uma cama de rosas. Uma inflamação se manteve como uma garra cravada em sua barriga inchada, ele a abriu com as próprias mãos – entorpecido demais para sentir, extasiado demais para falar.

 

Crux

 

“Qual é o ponto?”, ele gritou. “Qual é o ponto?”

E a névoa pesada, uma confusão de sal, desenhou-se ao seu redor, abraçando-o como uma aranha à sua presa. E ele podia sentir, no âmago, outro ser, orando por ele sem sucesso. Pois ele fazia parte de uma festa deliciosa, má, cheia de amor, longe do alcance de um mortal e de uma copa mortal.

E ele viu um garotinho arrancando as pontas do céu sulista e jogando-as em uma urna de prata. Viu um rio de folhas e o garoto se curvando para tirar as folhas dos sapatos. De repente, percebeu as lágrimas caindo e manchando seus próprios sapatos.

Qual é o ponto?”, ele sussurrou. “Qual é o ponto?”

E ele tirou a camisa. E se sentia imensamente livre. E a pesada névoa o cingiu, preenchendo-o até que, com arrepios de consciência, ele resolveu atropelar.

Você, senhor, você é o ponto.”

Você, senhor, você é o ponto.”

 

A boneca azul

 

Esta manhã sonhei que você voltava e deixava uma boneca azul de ponta cabeça na colcha da minha mãe. Eu estendia o braço para virá-la enquanto um líquido preto escorria de uma rachadura na parede e pingava como sangue, formando uma poça que crescia embaixo da nossa cama. A boneca tinha cabelo e rosto azuis. Segurei-a pelos tornozelos e a balancei como um chocalho xamânico. Balancei-a com tanta força que sua cabeça saiu. E senti remorso.

Levantei e prendi meu cabelo. Meu robe foi arrastado pela poça negra. Meu nariz começou a sangrar, lentamente no início, depois em grandes gotas como lágrimas que deslizavam pela minha garganta manchando meu colarinho e meu corpete. Meu vestido era o vestido da boneca azul. Andei na água, atravessei as paredes, entrei na floresta e subi uma colina rochosa. Cortei caminho e subi com os pés descalços.

Deitei-me de bruços no cume, cantarolando a música de um sol canelado. Não estava mais com raiva. Eu não era mais do que a extensão de uma nota cantada, no bosque, por uma sabiá.

 

Tara

 

Estava parada à porta
de sua fazenda na Virgínia
vestindo um suéter
os galhos
da amoreira
inclinaram-se
a neve repentina
derrubou as flores
o cervo, mudo,
maravilhou-se
à beira do jardim
ela deslizou o celular
em seu bolso
sua filha
ilesa
entre
as pétalas caídas
ela estalou
um galho
o temporal parou
ela sentiu o menino
ela sentiu os mortos
ela sentiu as famílias
ela sentiu o vento
os cervos não fazem isso
ela disse
os cervos não fazem isso

 

Amerigo

 

“Nós partimos para ver o mundo
Nessa terra, colocamos pias batismais
E inúmeros foram batizados
E eles nos chamaram de caribe
Que significa ‘homens de grande sabedoria’”

Para onde você vai?
E você vai a qualquer lugar?
Para onde estamos indo?
Envie-me uma carta se você for mesmo

“Ah, a salvação das almas!
Mas não tínhamos sabedoria
Pois essas pessoas não tinham nem rei nem senhor
E não se rebaixavam a ninguém
Viviam em sua própria liberdade”

Para onde você vai?
E você vai a qualquer lugar?
Dando voltas
E mais voltas em todo canto

“Eu vi e conheci a inconstante mudança da fortuna
E agora escrevo para você
Palavras que nunca foram escritas
Palavras do Novo Mundo”

Riscando os círculos
Que se movem em minha mente
Deitada no convés
Olhando para o céu do Ocidente
Riscando círculos preguiçosos no céu

Ei!
Acorde!
Acorde!

Para onde você vai?
E você vai a qualquer lugar?
Para onde estamos indo?
Envie-me uma carta se você for mesmo

“Vê-los dançar é extasiante
Livres do sacrifício, do romance!
Livres de todas as amarras!
Está claro, Vossa Alteza?
E acho que é hora de partir, mas
Tenho que escrever mais umas linhas
Sobre o Novo Mundo”

Riscando os círculos
Que se movem em minha mente
Deitada no convés
E olhando para o céu do Ocidente
Riscando círculos preguiçosos no céu

“E o céu abriu-se
E deitamos nossas armaduras
E dançamos, pelados como eles
Batizados pela chuva
Do Novo Mundo”

***

To the reader

 

The first time I saw Robert he was sleeping. I stood over him, this boy of twenty, who sensing my presence opened his eyes and smiled. With few words he became my friend, my compeer, my beloved adventure.

When he became ill I wept and could not stop weeping. He scolded me for that, not with words but with a simple look of reproach, and I ceased.

When I saw him last we sat in silence and he rested his head on my shoulder. I watched the light changing over his hands, over his work, and over the whole of our lives. Later, returning to his bed, we said goodbye. But as I was leaving something stopped me and I went back to his room. He was sleeping. I stood over him, a dying man, who sensing my presence opened his eyes and smiled.

When he passed away I could not weep so I wrote. Then I took the pages and set them away. Here are those pages, my farewell to my friend, my adventure, my unfettered joy.

 

Music (a woman)

 

On deck a gentleman entertained a handful of guests in formal dress. Classical guitar studies, charming though a bit tedious. M kept at a distance and bowed his head, allowing himself to be drawn into the abstract monotony. The notes seemed to suspend and draw out in length, stroking the sea and himself. He began to nod at the rail but he did not wish to return to his cabin.

He found himself in the corridor of an unexplored section of the ship. He had wandered below, seduced by the scent of a familiar aria. He stood for a moment before a white enamel door, then slid to a crouching position to listen. After a time he was carried away, the strains of music tightening around him, forming a cocoon within which he dropped into sleep.

A woman opening the heavy door and another reality. “Here is where you ought to be tonight,” the aria breathed, parting her garment. And he was enveloped once more.

Later he could hardly stand. He felt slightly numb and his legs had stiffened. There was a singing in his skull. He felt the victim of some mischievous transformation. He pressed the wide curving walls for support and was relieved to reenter his cabin. He failed to notice a dress boot on its side but was amazed to find, on the center of his cot, a jewelled minaudiere which he hastily unclasped.

 

A bed of roses

 

He had come to the conclusion that each of us knows everything, for destiny is our familiar, she permeates our breath. Hers is the atmosphere whereon a babe pillows his head. Signs wave their arms as we pass over. Lovers avert their eyes until the quivering recognition becomes unbearable, and they part. Each holding a piece of future fitting together like a dime-store heart.

He was destined to be ill, and part of him knew it. But he did not wish to address it, not now. So he fled into the bowels of tedium disguised as adventure–a liner in the center of the sea; into a mind untapped–pure and roomy. Here time stretched like a superhero of elastic clay. Here destiny could be courted and swept off her feet. Such a prospect filled him with tremendous resolve and he grasped the signs, molding and remolding them.

He leaned against the rail, euphoric, drumming scores of tiny thorns into the sea. And there he surrendered–a youth spread-eagle upon a bed of roses. A burning held like a claw within his swelling belly, which he slit with his own hand–too numb to feel, too ecstatic to speak.

 

Crux

 

“What is the point?” he cried out. “What is the point?”

And the heavy mists, a confusion of salt, drew about him, embracing him as a spider embraces his prey. And he could feel, in the center of his being, another being, praying for him to no avail. For he was party to a delicious submission, evil, full of love, far from a mortal’s reach and a mortal’s cup.

And he saw a small boy plucking the points from the southern sky and dropping them into a silver urn. He saw a river of leaves and the boy bending to brush the leaves from his shoes. And he was suddenly aware of tears falling and staining his own shoes.

What is the point?” he whispered. “What is the point?

And he removed his shirt. And he felt immeasurably free. And the heavy mists drew about him, filling him until he seemed to run over with a thrill of recognition.

You sir, you are the point.”

You sir, you are the point.”

 

The blue doll

 

This morning I dreamed you returned and left a blue doll face down on my mother’s quilt. I reached to turn it over, as a black liquid seeped from a crack in the wall and bled into a pool, rising beneath our bed. The doll had blue hair and a blue face. I gripped it by the ankles and shook it like a medicine rattle. I shook it with such force, the head spun and I felt remorse.

I rose and fastened my hair. My robe trailed the rim of the black water. My nose began to bleed, slowly at first, then tear sized drops that slid down my throat, staining my collar and bodice. My dress was the dress on the blue doll. I walked on the water through the walls into the forest to a rocky hillock. I cut a path and ascended barefoot.

I lay face down on the crest, humming the music of a fluted sun. I was no longer angry. I was no longer than the span of a note sounded by a thrush in the wood.

 

Tara

 

She stood by the door
of her Virginia farm
pulling a sweater on
the branches
of the dogwood
were bowed
blossoms tossed
in sudden snow
the deer stood
in mute wonder
at the garden’s edge
she slipped the phone
in her pocket
her daughter
unharmed
amongst
petals gone
she snapped
a branch
a tempest stalled
she felt the boy
she felt the dead
she felt the families
she felt the wind
the deer don’t do that
she said
the deer don’t do that

 

Amerigo

 

“We were going to see the world
In this land, we placed baptismal fonts
And an infinite number were baptized
And they called us ‘caribe’
Which means ‘men of great wisdom’”

Where are you going?
And are you going anywhere?
Where are we going?
Send me a letter if you go at all

“Ah, the salvation of souls!
But wisdom we had not
For these people had neither king nor lord
And bowed to no one
For they’ve lived in their own liberty”

Where are you going?
And are you going anywhere?
Going in circles
Going in circles anywhere

“I saw and knew the inconstant shifting of fortune
And now I write to you
Words that have not been written,
Words from the new world”

Tracing the circles
Moving across my eyes
Lying on the ship
And gazing at the western sky
Tracing lazy circles in the sky

Hey!
Wake up!
Wake up!

Where are you going?
And are you going anywhere?
Where are you going?
Send me a letter if you go at all

“It’s such a delight to watch them dance
Free of sacrifice and romance!
Free of all the things that we hold dear!
Is that clear, your excellency?
And I guess it’s time to go
But I gotta send you just a few more lines
From the new world”

Tracing the circles
Moving across my eyes
Lying on the ship
And gazing at the western sky
Tracing lazy circles in the sky

“And the sky opened
And we laid down our armor
And we danced, naked as they
Baptized in the rain
Of the new world”


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