Dissonância renovadora

Dissonância renovadora
(Oswald Jones Archive/Bridgeman Images)

 

“Um homem chamado Berg, que mudou seu nome para Greb, veio para uma cidade do litoral com a intenção de matar seu pai…” É assim que se inicia o romance experimental Berg, da autora inglesa Ann Quin: autora publicada pela primeira vez no Brasil em 2025, pela DBA. Sem revelar sua identidade, Berg se hospeda na mesma pensão – de aspecto beckettiano – em que seu pai vive e acaba se envolvendo em um triângulo amoroso.

De certa forma, é surpreendente que a tradição literária brasileira tenha tomado contato com a obra de Quin mais de 50 anos após a sua trágica morte – por afogamento, em 1973, aos 37 anos –, já que a autora representa uma das vozes mais dissonantes e renovadoras da vanguarda literária inglesa da segunda metade do século 20.

A premissa insólita de Berg, romance de estreia de Quin, se desdobra diante dos olhos do leitor através da prosa enérgica e confessional de um fluxo de consciência múltiplo, na qual as vozes de Berg e Greb se confundem: abrindo espaço para digressões, alucinações, ruídos e gestos desorientantes. Tudo é; tudo está acontecendo. Cabe ao leitor reconstruir essa narrativa quase noir como quem recolhe fragmentos de um crime, reconhecendo as motivações e os afetos que mobilizaram Berg a praticar o parricídio que dá norte ao livro.

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