Privado: Tradução frustrada
Após duas décadas de Freudbashing (jogar pedras em Freud), as teorias freudianas voltaram nos últimos dez anos a ser objeto de grande interesse. Neurocientistas têm retomado sua teoria e diversas áreas das ciências humanas (passada a contra-reação à “invasão psicanalítica”) acabaram por incorporar conceitos freudianos. Igualmente no campo da saúde mental, vários países europeus e estados americanos passaram a autorizar a psicanálise nos serviços públicos de saúde. Assim, não é de se estranhar que também a tradução de suas obras desperte interesse.
Desde os anos 1970, Freud é o autor de língua alemã cuja tradução é a mais debatida. O curioso é que, em geral, Freud escrevia de modo acessível, visando à divulgação da psicanálise. Por que então a celeuma sobre a tradução de sua obra? Em parte porque sua obra não é apenas lida, mas estudada. Não só por psicanalistas, mas também por filósofos, semioticistas, críticos de arte etc.
Mas a celeuma também tem a ver com um debate dos anos 1970 e 1980 para o qual dois autores em especial contribuíram, Lacan e Bettelheim. Lacan criticava a terminologia psicanalítica adotada pela Standard Edition, que havia estabelecido um padrão internacional. Também Bruno Bettelheim, autor de Freud e a alma humana, exerceu grande influência nessa discussão. Ambos consideravam a terminologia “medicalizada” e estranha à linguagem original freudiana – mais ligada à experiência cotidiana e afetiva. De fato, termos como “catexia”, “estase”, “epistemofílico” são de difi
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