O traço sem marca: a cisgeneridade entre o social e o psíquico

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O traço sem marca: a cisgeneridade entre o social e o psíquico
“Transicione I” (2023), de Fefa Lins
  O que é cis? Diferentemente das discussões acadêmicas de gênero, de certos espaços de militância ou bolhas da internet, grande parte da população brasileira desconhece o significado dessa abreviação e de seus termos associados: cisgeneridade, cisnormatividade, cissexismo, entre outros. Esse desconhecimento, contudo, é parte integrante da problemática em jogo nessa questão: travestis, transexuais, não binários, bichas, sodomitas, pecadores são sempre os outros, às vezes outras e, ironicamente, outres. À boca pequena, algumas pessoas dizem que cis é o contrário de trans. Outras, que é quando a identidade de gênero casa com a genitália, ou seja, quando se nasce no “corpo certo”. Há ainda os que afirmam que cisgênero não existe pelo simples fato de que transgênero também não: seríamos todes parte de um plano divino (ou radfêmico) no qual o psíquico e o social são meros espelhos de uma parte do nosso corpo. Será? Dentro do profícuo campo transfeminista no Brasil, diversas autorias já se debruçaram sobre a questão da cisgeneridade — dentre as quais destaco Beatriz Bagagli, Hailey Kaas, Helena Vieira, Letícia Nascimento, Sofia Favero e Viviane Vergueiro. Suas perspectivas guardam diferenças relevantes, mas, para os propósitos deste texto, convém ressaltar que parece haver um consenso segundo o qual cis pode ser compreendido como aquela experiência, normatividade ou discurso que naturalizam a convergência entre a identidade de gênero e o sexo designado no nascimento. Graças aos seus esforços intelectuais e suas impor

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