Vidas trans

Vidas trans
  É importante que as vivências transexuais e travestis sejam conhecidas, que as nossas múltiplas formas de existir possam se apresentar ao mundo com a força que possuem. helena vieira, 32, escritora, professora, transfeminista, dramaturga e pesquisadora do monitor do debate político no meio digital (usp) “A rosa de plástico que enfeitava a mesa de centro da sala de minha avó estava presa atrás de minha orelha. O lençol de cama azul estrelado cobria minha cabeça e meu corpo como uma espécie de manto, que eu copiava das personagens femininas dos animes a que assistia. Sentia-me como uma deusa (dos animes) e andava de um canto ao outro do quarto ao som de alguma melodia mental, que já não lembro mais. Eu tinha seis anos. Era tudo muito mágico, até que um tio me interrompe e diz: ‘Fernando! Está parecendo uma drag queen’. Eu rapidamente retirei a flor da orelha e disse: ‘Não, tio. Eu estava brincando de super-herói’. Eu não sabia exatamente o que era uma drag queen. Sabia que eram todos gays, e que os gays não eram bem-vistos. Aquelas palavras ecoaram em mim por dias, talvez anos. ‘Está parecendo uma drag queen.’ Aquele momento não foi apenas a interrupção de minha brincadeira infantil, mas também uma denúncia, um tanto distorcida sobre mim mesma, que dizia algo como: ‘Fernando, você não é como os outros meninos’. Logo esse não ser passaria a compor o meu cotidiano. Eu era o que envergonhava o pai ao não jogar futebol — até tentei, mas preferi deixar de fazê-lo. A adolescência me surgiu como o período de a

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