Políticas e direitos trans no século 21
Edição do mês“& se trans for mar eu rio” (2022), de Fefa Lins
Uma história entre Xicas, Waldirenes e Dandaras
Xica Manicongo foi sequestrada na região africana do Congo e trazida, escravizada, para a Salvador do século 16. Teve de trabalhar como sapateira e era conhecida por sua liberdade. Recusava-se a usar vestimentas masculinas como tentavam lhe impor, além de praticar o “pecado nefando”. Por não se comportar “como um homem”, foi então acusada de sodomia e condenada pelo Tribunal do Santo Ofício, em sua primeira visitação à Bahia, a ser queimada viva em praça pública e ter seus descendentes desonrados até a terceira geração. Xica teve de assumir uma identidade masculina para preservar sua vida e escapar das referidas penas.
Em 1969, a maquiadora Waldirene Nogueira saiu de Lins, cidade do interior paulista, rumo a São Paulo para buscar ajuda médica, pois queria realizar uma cirurgia de redesignação sexual. No Hospital das Clínicas, após atendimento por equipe multidisciplinar e terapias semanais, foi diagnosticada com “disforia de gênero”, sendo-lhe então recomendada a pretendida cirurgia. Na época, só seria possível realizá-la no exterior, mas Roberto Farina, cirurgião plástico e professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, foi aprender a técnica e, em 1971, realizou o procedimento em Waldirene. Em 1975, ela entrou com pedido junto ao Judiciário para retificação de seu registro, o que deu ao seu caso, a primeira cirurgia de uma mulher trans no país, repercussão ainda maior. Não demorou para que o médico e a paciente sofressem um cerco com a atuação judicial do Min
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