Privado: Passagens de Franz Kafka
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Em “Catorze contos exemplares”, Modesto Carone nos deixa saber que, em um intervalo de seis meses, Franz Kafka se recolheu na minúscula casa da rua dos Alquimistas, em Praga, para dedicar-se à escrita, longe da repartição e da casa paterna. Nesse conjunto de casinhas, que lembram imediatamente aquelas dos contos de fada, alquimistas da Idade Média travavam uma luta de vida e morte para transformar chumbo em ouro. Para aqueles que desesperavam do êxito, a saída era se atirar no precipício que se abria nos fundos daquelas portas baixas e estreitas. É neste cenário que Kafka escreverá aquilo que ele chamou de “prosa miúda”.
Após tal designação, Kafka afirma duas vezes a seu editor Kurt Wolff que O veredicto se confunde com um poema. Primeiramente, em um cartão postal de 14 de agosto de 1916: “O veredicto, ao qual atribuo uma importância particular, é seguramente bem pequeno, mas também é mais um poema que uma narrativa, ele precisa de espaço livre em volta dele e não é indigno de tê-lo”; cinco dias depois, ele retoma a colocação: “Isso que para mim fala, sobretudo, a favor de O veredicto ser publicado separado é: essa narrativa depende menos da forma épica que do poema, por isso, ele precisa de um espaço livre diante dele se ele deve produzir todo o seu efeito. E, ainda, ele é dos meus textos o que eu prefiro, de onde vem o desejo que eu sempre tive de deixá-lo se impor, se possível, de modo independente”.
Se, em agosto de 1912, enviando Contemplação ao mesmo editor mencionado, ele qualificou os escritos que compõem tal l
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