Para lidar com o trauma colonial e suas atualizações
Félix Guattari em entrevista no Japão na década de 1980 (Foto: Kazumi Hirose)
As práticas de genocídio que se estabeleceram no projeto colonial se atualizam permanentemente, afetando sobretudo a população negra e indígena. Escrever este texto, neste momento específico, mobiliza um repertório de sensações e percepções que conectam as inquietações e os desafios do presente com a trajetória dos ativismos no Brasil, entre eles o que contribuiu para a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), afinal já são mais de 570 mil mortes por Covid-19, grande parte delas evitáveis se houvesse mobilização política.
As inquietações e desafios aos quais me refiro percorrem vibrações de várias décadas e implicam inevitavelmente o momento atual com o início dos anos 1980, em especial os acontecimentos do último período de transição democrática no Brasil. Nesse movimento de pensar a memória como processo ativo e em constante disputa, encontro sintonia nas elaborações feitas por Félix Guattari. Em As três ecologias (1989), por exemplo, ele já tratava dos efeitos devastadores dos desequilíbrios ecológicos e de como os modos de vida humanos individuais e coletivos evoluíram numa progressiva deterioração.
O cenário de radicalização que Guattari identificava nos anos 1980 – com a implosão e a infantilização na relação entre a subjetividade e sua exterioridade, seja ela social, animal, vegetal ou cósmica – mantém-se forte no presente e conduz um movimento que procura frear os fluxos de liberação. Esse comprometimento e essa implosão se articulam no mesmo projeto que tenta se apossar de todas as form
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