As origens do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

As origens do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha
Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver, 2015, em Brasília (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

 

A população negra corresponde a mais da metade dos brasileiros: 54%, segundo o IBGE. Na América Latina e no Caribe, 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes, de acordo com a Associação Mujeres Afro. Tanto no Brasil quanto fora dele, porém, essa população também é a que mais sofre com a pobreza: por aqui, entre os mais pobres, três em cada quatro são pessoas negras, segundo o IBGE.

Quando se trata nas mulheres negras da região, a situação é ainda mais alarmante. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), dos 25 países com os maiores índices de feminicídio do mundo, 15 ficam na América Latina e no Caribe.

Em um contexto de tanta violência, mulheres negras são mais vítimas de violência obstétrica, abuso sexual e homicídio – de acordo com o Mapa da Violência 2016, os homicídios de mulheres negras aumentaram 54% em dez anos no Brasil, passando de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013 (enquanto os casos com vítimas brancas caíram 10%).

Barradas dos meios de comunicação, dos cargos de chefia e do governo, elas frequentemente não se vêem representadas nem nos movimentos feministas de seus países. Isso porque a desigualdade entre mulheres brancas e negras é grande: no Brasil, mulheres brancas recebem 70% a mais do que negras, segundo a pesquisa Mulheres e Trabalho, do IPEA, publicada em 2016.

Para denunciar essas opressões e debater soluções na luta contra o racismo e o sexismo, grupos de mulheres negras de 32 países da América Latina e do Caribe se reuniram, em 1992, em Santo Domingo, na República Dominicana. A data foi reconhecida pela ONU naquele mesmo ano como Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, que passou a ser celebrado em todo 25 de julho.

No Brasil – que tem o maior índice de feminicídios na América Latina -, a presidenta Dilma Rousseff transformou a data em comemoração nacional. Aqui, desde 2014, comemora-se em 25 de julho o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra – em homenagem à líder quilombola que viveu no século 18 e que foi morta em uma emboscada.

Esposa de José Piolho, Tereza se tornou rainha do quilombo do Quariterê, no Mato Grosso, quando o marido morreu, e acabou se mostrando uma líder nata: criou um parlamento local, organizou a produção de armas, a colheita e o plantio de alimentos e chefiou a fabricação de tecidos que eram vendidos nas vilas próximas.

Em São Paulo, a data tem sido celebrada desde 2016, com uma marcha de mais de 15 mil mulheres negras pelas ruas da cidade. Em 2022, após dois anos de atos virtuais, por conta da pandemia de covid-19, a Marcha das Mulheres Negras de São Paulo confirmou ato de rua em São Paulo, Belém e Salvador A manifestação levanta a bandeira “nem fome, nem tiro, nem cadeia, nem covid, parem de nos matar”.

Texto atualizado em 25 de julho de 2022

 


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(1) Comentário

  1. Achei seu artigo excelente. Usei parte dele para contextualizar um discurso de agradecimento por uma homenagem que recebi. Citei a fonte quando sugeri que buscassem mais sobre o assunto.

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