Privado: O luto da arte

Privado: O luto da arte
Damien Hirst: a arte contemporânea, sendo trabalho do luto, prova sempre a experiência do desgosto

A discussão sobre a morte da arte teve um lugar essencial nas Lições de Estética, de Hegel, no século 19. Não se pode perder de vista que a morte da arte à qual Hegel se referia era a da arte bela e não da arte de modo geral. Se Hegel tem razão, em havendo uma morte da arte que não deve ser generalizada, trata-se de entender que tipo de arte, para além da arte bela, sobreviveu. Em um século de genocídios, ditaduras e violências de toda sorte, a arte é a memória da sua própria morte.

A pré-história dessa percepção está na Crítica da Faculdade de Julgar, de Kant, que antes afirmou a existência de dois sentimentos, o belo e o sublime, como sustentáculos da experiência estética. Belo – a sensação de prazer com os objetos agradáveis – e sublime – um misto de prazer com desprazer – são formas de acesso subjetivo à beleza, tanto da natureza quanto das artes. Kant define a arte bela como aquela que pode representar de modo belo até mesmo as coisas feias. A tarefa histórica da arte sempre foi a de colocar beleza no mundo e suplantar o feio. Criamos essa expectativa e isso hoje em dia não nos ajuda.

Mas o próprio Kant disse que havia uma espécie de feiura, que não pode ser representada de acordo com a natureza sem cancelar a complacência estética, ou seja, a nossa capacidade de perceber a beleza em geral e a beleza da arte. Kant refere-se à feiura que desperta asco. O asco, segundo Kant, é uma “sensação peculiar” marcada pela imposição do objeto feio que imediatamente se nos lança sobre os sentidos, sem que desejemos aceitar sua presença. O filósofo espanhol Eugenio Trías dá um exemplo repugnante só de ler: quem pisa em um rato morto e eviscerado na rua tem a sensação de que ele vai parar dentro da boca. A experiência do asco se dá como se um prato de merda fosse oferecido para se comer.

O asco é uma espécie de sentimento impossível, por estar na contramão do gosto. Podemos traduzi-lo por nojo. E nojo é algo que se traduz por luto. A experiência do asco ou do nojo, como experiência do desgosto, é da mesma ordem da experiência do luto, de algo que não desejamos e que mesmo assim se impõe. A lástima pela perda de um objeto amado, mas também do gosto – seja pela arte, seja pela vida – que acompanhava aquele objeto é experiência disseminada em nossa cultura, da qual a arte atual vem a ser a apresentação mais clara.

A arte, do asco ao luto

O luto é sempre uma reação à perda de um objeto amado. É, portanto, a experiência da morte enquanto ela pode ser conhecida: a morte dos outros, das coisas, das experiências. Até mesmo, como em Luto e Melancolia, de Freud, a perda de uma abstração, de um ideal qualquer. Nunca a da epicuriana morte que não encontraremos, pois já não estaremos quando ela aparecer. A arte contemporânea é experiência enlutada e, por isso, dói tanto tratar dela. Encará-la é experimentar o luto na forma de sua exposição possível. Mas, se há entre arte e vida, entre ficção e realidade, uma relação que é sempre de mimese, por imitação ou por mimetismo, e se há tanta perda na vida, a arte não deveria ser nosso resgate para além do que a vida nos dá sem nenhuma elaboração?

A promessa romântica da arte é que ela viria nos salvar da vida. Mas, após a perda da ingenuidade romântica, por que ainda esperamos tanto da arte? Arte é apenas um conceito que tem tão pouco valor quanto pouco uso nos dias de hoje. No entanto, arte ainda é, como conceito, algo que vai na frente da nossa sempre atrasada sensibilidade. Que a arte mova nossa sensibilidade é a esperança sem fundamento de muitos, mas sensibilidade é uma formulação imprecisa entre o perigoso culto da emoção e os sentimentos que só são elaborados mediante a interferência da racionalidade capaz de criar conceitos. Não há chance de que arte hoje seja mais do que uma construção para fazer pensar.

Temos na experiência contemporânea da arte a autopresentificação do seu próprio luto. Como se a arte ainda estivesse no período enojado em que tem que se haver com a memória de um cadáver que é ela mesma e que, na verdade, mimetiza o estado das coisas de um mundo em crise de sentido. Assim é que a obsolescência do conceito de arte o coloca na posição de um conceito-memória. Um conceito que foi válido, mas que perdeu sua circunstância na atualidade. Arte não é mais a bela arte, ainda que possamos com muito esforço descobrir nas obras que a beleza também é um conceito e, como tal, uma visão das coisas.

O paradoxo do gosto

O que a arte contemporânea nos sugere é a experiência do paradoxo do gosto. Como é possível “apreciar” esteticamente aquilo que repugna se neste momento a experiência estética como mediação entre sensibilidade e racionalidade foi anulada? A questão é que a arte contemporânea, sendo trabalho do luto, acontecendo na contramão do gosto, provoca sempre a experiência do desgosto. Por isso, a arte conceitual tem tanto espaço em nosso tempo, por chamar ao pensamento em tempos de cancelamento da sensibilidade. É como se toda obra nos enviasse a mensagem: se não podemos “gostar”, podemos “pensar”. É o paradoxo da inestética: a sensação é de perda da sensibilidade na arte; mais do que um problema da arte, é problema da cultura na qual ela surge. Um artista como Damien Hirst, com seus bezerros e tubarões no formol, não é, portanto, julgável segundo o padrão do gosto pela arte bela, porque estamos em tempos de perda do gosto. O que será que ele nos mostra que não sabemos pensar?

Com isso se consegue compreender o que acontece com a arte atual. Ela é a experiência da morte da própria arte bela nestes tempos de desgraça cultural. Tempos tensos: de um lado tragicofílicos – desejamos a tragédia – e de outro tragicofóbicos – evitamos a morte a qualquer custo –, como disse Hans Gumbrecht. Podemos dizer, nestes tempos, que a arte se faz na ordem do trágico, este sentimento da “morte em mim”, da morte como experiência subjetiva, como imagem da melancolia que nada mais é do que a morte do eu e do pensamento que sempre foi a prova de que existia algo chamado “eu”. Não, não exageremos.

A arte contemporânea não é nem trágica nem melancólica. Enlutada, ela nos pede que ultrapassemos a memória da morte e reinventemos o presente. Só o que impede isso é o capital culto à desgraça em que vivemos hoje. O gozo atual é com a ideologia da morte como um fim, quando, na verdade, estúpidos e conceitualmente avarentos, não sabemos entender o valor e o poder das transformações históricas das quais a arte nos dá apenas uma imagem para nos fazer acordar. Mas quando até mesmo a desgraça se tornou um “capital”, haverá espaço para a arte que denuncia o seu caráter capitalista?

(44) Comentários

  1. Tubarões e bezerros no formol… desgraça como capital… cães presos e morrendo de fome… 11 de setembro. Na chamada arte conceitual, alguém é mais artista do que aqueles que planejam e executam as guerras? Algum artista é mais artista que um pedófilo? Será que essas coisas são arte? Será esta a função do artista: denunciar, enojar? Fora a beleza dos primeiros momentos, qual a genialidade em derramar “ordenadamente” quilos e quilos de maçãs e esperar pacientemente que apodreçam?

  2. O que vc está dizendo é que a arte chegou ao cotidiano do homem comum, não é mais objeto de culto, porque a existência humana sempre foi de guerras, morte, fome, miséria, mas não apenas isso. Reinventar a arte o tempo todo porque não existe nada além do mundo. É libertação, tb..

  3. Penso que a arte existe a partir do olhar do artista. Ela está no mundo; é “contaminada” por ele mas ela não é o real. Foi isso que eu quis dizer. Não é necessário colocar animais no formol e apresentar isso como arte. Sendo assim, qualquer corpo mergulhado em formol é uma obra de arte? COncordo que a inspiração do artista seja o mundo em que ele vive, mas ele dá um testemunho do que os seus olhos vêem. Se isso for o que todos vêem…

  4. Acho que não dá para separar arte/vida/morte/tempo. Estive na exposição do Oiticica, em SP, com um grupo de pessoas em situação de rua,com o qual trabalho em oficinas de artesa-n-ato com sucata/lixo? e eles se sentiram em casa/rua/lar. Será que nós conseguimos/permitimos ver e ser incorporado pela arte ?

  5. Hoje, quanto vou a uma exposição, ou a uma bienal, o que mais me intriga são justamente as peças que não consigo compreender. Fico pensando, o que ele quis dizer com isso, o que está denunciando, ou o que é isso, ou ainda o que eu compreendo disso? Às vezes, do alto da minha ignorância, chego até a me perguntar: Será que ele quis dizer alguma coisa com isso, ou será que sou capaz de tirar alguma mensagem disso?
    Diferentemente de quando entro num artesanato, ou de quando vejo alguma peça renascentista, ou peças decorativas.
    Para mim, é muito mais válido um arbusto seco de cabeça para baixo do que o quadro da Mona Lisa. Válido em conceito, não em valor monetário, é claro. Acho que há muito tempo a arte deixou a aristocracia, o clero, e invadiu a periferia, ou foi o contrário: a periferia é que se apropriou da arte, sei lá. Ou o Mundo virou uma grande periferia…
    Acho que a violência, como a miséria, a miséria do sentimento, da sensibilidade, da existência humana, não são arte em si, mas o substrato mais autentico dos nossos dias com que o artista é capaz de se manifestar, retratar, amaldiçoar, irritar, enojar…

  6. Qdo aprecio uma obra de ARTE, seja ela qual for, necessito que ela rompa algo em mim, não posso sair da mesma forma que entrei. A arte diante da qual se sai indiferente ou apenas chocado é mal sucedida. O erro é sempre do artista e não da arte seja ela “bela” ou de “luto”, “contestação” ou qualquer outro nome ou conceito que se dê. A cultura evolui (bem ou mal) e a arte apenas a acompanha.

  7. Por que será que sempre tendemos a supervalorizar o passado remoto? O que existiu ou morreu, tudo que não tem retorno passa a ser endeusado.Será que da Vinci, Michelângelo e tantos outros recebiam a mesma admiração, quase endeusamento enquanto eram vivos, de “carne e osso”? Será que o valor de suas obras eram tão valorizadas? O que é banal no presente não pode ter o seu valor enaltecido no futuro? Os artistas, e suas obras tendem a ter seus valores reconhecidos após o fim. O que é vivo, presente e alcançável não tem o mesmo valor que o que é remoto, raro. O endeusamento e a valorização é dada com o fim, o luto. Circulação em excesso faz os preços caírem. O que é banal na atualidade tende a ser supervalorizado no futuro, com a escassez. Os artistas não ficaram menos inteligentes ou medíocres, muitos artistas não reconhecidos em sua época hoje são idolatrados, pois só os que morreram e os deuses podem ser idolatrados.Quem é mais valorizado: Raul Seixas ou Chico Buarque? No entanto não há comparação, um é medíocre o outro genial, a diferença é que um morreu e com isso foi endeusado (supervalorizado) e era considerado media no a medíocre quando vivo. Como Chico Buarque, e outros de seu quilate, vivos, serão vistos daqui há cem anos? Saqui há cem anos será que Raul será lembrado? Duvido.

  8. 1)Concordo c/oq foi abordado,acrescento ainda q esses individuos q fazem a tal dita arte decrépita e mórbida e são denominados “conceituais”-inclusive desconfigurando o real significado deste movimento-só são considerados fazedores de arte devido há alguns merchands,galeristas e colecionadores influentes(…)

  9. 2)(…)A Arte deve elevar o homem ao Bom, Belo e Verdadeiro, inclusive denunciando as mazelas q afligem a humanidade,no entanto,de forma q respeite todos os envolvidos,afinal,deixar um pobre cão indefeso definhar de fome é belo? Pq o “artista” ñ se submeteu ao papel daquele cão? Isso só p/citar um exemplo(…)

  10. 3)(…)A miséria da vida só existe pq focamos nossa atenção nela em detrimento à solução.É possível usar a arte p/protestar+de forma q nos sensibilize a sermos melhores.Oq ocorre é o contrário,o feio é exposto ñ como crítica e sim como exaltação,fomentando+caos ao invés de curá-lo.
    E o exemplo do comentário do caro Orlando q usa uma forma de arte como ferramenta social? Se merchants usassem seus poderes de influência c/essas pessoas em situação d rua, eles tbm seriam vistos como artistas. Devido a revolução em transformá-los em artistas,eles até poderiam ser expostos no Berkeley ou no MoMa-quem sabe!
    Enfim,ñ é a arte q está morrendo,são os mecenas e galeristas q perderam o senso estético.Senso q MariaLuisa e Oscar Americano, Eva Klabin e tantos outros tinham.Lembrando q hj o mercado da arte está+democrático e acessível,cabe a nós tbm fomentarmos o Bom,Belo e Verdadeiro em nossas aquisições artísticas.

  11. Será que esse tipo de arte está de acordo com o que os amantes da arte aprovam? Ou é uma arte nascida do pensamento crítico de filósofos que se encontram em uma esfera teórica longe da prática?

  12. OK; a Arte precisa num determinado momento ‘se declarar morta’ para não virar Religião (por exemplo), e se manter Arte e AUTÔNOMA.
    Mas vira um GERÚNDIO sem ‘finalidades’, que se mantém POLINDO o Espírito; enquanto isso, o Artista vai EXERCITANDO a expressão da liberdade de sua singularidade.
    Ora isso vai aparecer em coisas imersas em formol (vai te quem goste), ora no (‘mero’?) arrebatamento que Tomie Ohtake, Mira Schendel, Iole de Freitas e (felizmente) muitos outros provocam (e vai continuar a ter quem goste – eu, por exemplo rsrsrsrs…)
    Por isso não consigo ver a Arte ‘denunciando o capital e/ou suas perversões’; engajamento faz uma perigosa fronteira com a Religião, da qual a Arte – sabiamente – fugiu. BJS!

  13. Me transmitiu mais aflição, pois ela está mergulhada no tanque sem ar, o pescoço reto como se estivesse buscando respirar, as patas estiradas, os olhos não estão fechados, um segundo antes da morte é o que ele retrata. Na minha visão não tem nada haver com morte, tem haver com sofrimento e angustia, por isso sinto asco e nojo. Ele nem deve saber o que é uma vaca, muito menos uma vaca morta, por isso tanto faz se é uma vaca ou um tubarão, mas reflete muito bem o cinza em que muitos vivem. Todos que morrem devem merecer morrer em casa, assim como a vaca dele devia estar retratada morta em um descampado, assim ela não causaria asco nenhum, mas sim sentimento de passagem.

    Bjos Marcia,

    Rodrigo

  14. Sempre achei muito forçada essa tese de teóricos, filósofos sobre a morte da arte. Isso sempre me pareceu um discurso descolado da realidade, servindo mais como chamariz intelectual para alguns. Muito bem esclarecido no texto que se trata de uma “suposta morte” de um tipo de arte -ligada ao clássico ideal de belo e ocidental-, em detrimento de outras formas ou tipos de arte. A mudança está no conceito de arte, que se expandiu, porém preserva ainda hoje muito desse ideal de belo do passado convivendo com outros posicionamentos. Beleza é imprescindível ao ser humano, ainda mais em tempos de tragédia.

  15. Ao ler e reler o artigo e os comentários chego à conclusão de que “arte é arte”, ñ importa se é bela ou feia, boa ou má,enfim,é algo que reflete a sociedade e vai ao encontro do que é apreciado no momento.
    Inclusive, a Manoela Bowles levantou uma questão muito interessante a este debate iniciado com o excelente artigo da Marcia Tiburi, q é o fato de se levar em consideração oq os amantes da arte apreciam.Muitas vezes se é pensando no propósito da arte, oq gera uma teorização,mas a Manoela defende bem e está certíssima ao afirmar – em seu blog – q a arte deve ser sentida.
    A resposta à pergunta: Oq os amantes da arte apreciam? Reflete bem oq a Marcia aborda sabiamente no paradoxo da inestética: “a sensação é de perda da sensibilidade na arte; mais do que um problema da arte, é problema da cultura na qual ela surge.”
    Entretanto,oq quer q seja apreciado,ele deve ser sentido e isso conduz à importância de que a “Beleza é imprescindível ao ser humano, ainda mais em tempos de tragédia” como o Henrique comentou.

  16. Conceitos da Arte e da Não Arte plenamente imerso no paradoxo do conhecimento, Marcia; voce é sem dúvidas adorável e apreciável.
    O ponto crucial, o ser no artista e nos animais permanecem ainda no segundo plano, entregue, rss, talvez a “Deus dará”. Como se, o Ser, no fenômeno que é “aquela imagem”, não estivesse ali envolvidos. Quase um absurdo, século 21, depois de Kant, Hegel e Freud, e muitos outros, ainda subsiste tal exclusão “involuntária”.
    Donde se conclui que “os meninos de rua” até podem fazer “qualquer coisa” e essas coisas serem expostas no Moma, mas ainda continuarão sendo “meninos de rua”; com ou sem orelhas.
    Também sei da utopia voluntariamente excluída! O ser capaz de se enlutar, ou, em casos extremos, se enojar ou protestar, diante da “imagem” que morreu, simplesmente quer transcender a este limite, seja com sensibilidade ou razão, do (ainda) medo da morte física ou da irracionalidade/insensibilidade atual (e sempre?).
    Fianalmente, professora, embora de maneira compacta, o óbvio na questão de gosto duvidável!
    Vamos em frente, sentindo e pensando, dando cada vez mais sentido a quanto mais pessoas pudermos, incondicionalmente.

    Forte, quente e ilimitado abraço.

  17. Interessante!
    Ultimamente tenho pensado bastante sobre a arte contemporânea, fui a algumas exposição quando estive em Sao Paulo a duas semanas atrás, e sinceramente, tenho achado tudo muito estranho. O que não quer dizer que seja ruim, mas na minha concepção envolta de elementos que marcam minha forma de pensar, de achar, e agir, de me surpreender etc… confesso não me agradar muito dessa produção artística contemporânea, e afirmo isso por realmente não sentir nenhuma emoção ao olhar/vê,não me toca, e acho que uma das principais funções da arte é comover de alguma forma.

  18. Henkai-pan e panta-rhei, desde os gregos as coisas desse nosso mundo tão frágil e ao mesmo tempo tão sólido são colocadas assim: na dialética do tudo repousa e tudo flui. Há tempos em que é preciso se mexer, outros em que o silêncio e a contemplação são fundamentais. Sobre isso fiquei matutando nos meus passeios solitários que fiz recentemente pelas florestas e bosques da minha terra natal, o Tirol, revivendo os anos de minha juventude e adolescência, refazendo os mesmos caminhos. As árvores, fiquei pensando, estão aqui há séculos, sempre no mesmo lugar, viram guerras, viram jovens, hoje velhos, turistas que vão e vem, animais que passam, correm, morrem, e elas estão aqui, se sucedendo também em ritmo sereno, devagar, calmos. Esta paz quero nos meus quadros de hoje, que eles sejam um refúgio para o silêncio, não uma coisa morta, petrificada, mas a sucessão deles como uma onda do mar, uma unidade que se desdobra em movimentos calmos, sempre indo, fluindo, até chegar ao fim, a uma praia onde vai se acabar; aparentemente, porque por baixo a onda reflui e de outro jeito continua, se mistura de novo com a água que vem. Nossa vida é assim, ao morrermos deixamos de agir, mas o que nossa geração fez fica como herança boa ou má para as ondas vindouras de gente.

    Uma pintura é o outro lado do flat-screen que hoje predomina nas paredes das casas, sempre em movimento, sempre piscando, sempre barulhento, tal qual o dia das pessoas no trabalho, nas ruas, a mesmice dentro e fora de casa. Hoje uma pintura deveria ser o espaço do refúgio, da segurança, da descoberta, do estudo, da contemplação, do repouso.

    Existem períodos na história da arte em que a arte precisa ser mais um fator agente, revolucionário, quando a vida é aristocratizada ou aburguesada demais, presa em conceitos e preconceitos que se materializam em códigos predeterminados nas artes e na arquitetura que não se renovam para não perderem seu status quo. Mas o mundo gira, novas gerações aparecem, novos valores mudam as artes. Essas novidades, porém, essas quebras dos dogmas podem muito fácil elas mesmas virarem dogma e petrificarem-se. No momento, penso, estamos assistindo à revolta pela revolta, sem saber contra o que se revoltar, já que tudo pode ser, ”anything goes”. Nesse período da morte de tudo, especialmente das técnicas milenares, assistimos a depredações, pichações, bienais do vazio. Curadores, sem saber o que pensar e fazer, apelam para a politização das artes, em vez de se deixarem seduzir pela arte. Tem também uma geração por aqui que parece sobra dos hippies, agora velhos e parados no tempo. Estamos todos perdidos, tão perdidos que autoridades tentam achar um meio legal pra retirar das ruas o que chamam de “monstromentos” e leitores de jornais sugerem que se retirem também os prédios feios. Muitos jovens, no entanto, começaram a rever essas declarações de morte de tudo, suas vidas são pujantes, suas aspirações maiores, querem construir, aprender e também redescobrir velhas técnicas para novas finalidades, em vez de demolir. São mais globalizados e tolerantes.

    Mas, voltando à minha floresta tirolesa e seu silêncio duradouro: Para mim, neste momento de minha vida, o importante é tentar criar um templo de depuração, onde os milênios e sua sabedoria não se perderam, mas onde também pulsa o balanço da vida, a cada dia renovada. A história é um pêndulo que vai de um extremo ao outro, mas sempre em movimento. Henkai-pan no panta-rhei. Ou, como diria Fausto: “Verweile, Augenblick, Du bist so schön”.

  19. Quem inventou a arte? Os deuses ou os homens? Ou seria Ele, O Deus? Não sei. A arte existe? O que é arte? Seria mais uma palavra a se decifrar e encontrar infindáveis simbolismos, conceitos, histórias sem fim, etc e tal… O mundo já está tão cheio de formas de linguagens, que tanto faz se vaca em formol, lata de sopa, design e tudo mais. Difícil é viver, ou talvez não, difícil seria morrer. Por que é tão bom viver na terra, que também tanto faz se somos daqui, de Marte, de Orion, que se pudesse compreender o que é Vida, o que é sentir, gostar, amar, colaborar, morrer, talvez tenha aprendido um poquinho o que é Arte e o porque de tanta contemplação, alimento, intuição, construção, sensibilidades, sentidos, passagens e tudo aquilo que nos arrebata, nos incomoda, nos tira daquilo que acreditamos que seja realidade, e reflete uma outra ilusão. Quanto gosto, desgosto, desejos por mudanças, pensamentos novos, mas mudamos alguma coisa? No fundo das nossas aparências, “parece” ou aparece sempre o nosso outro lado, animal, alienígena, espiritual, emocional, energético transcendental, quântico. E ainda queremos entender o que é arte? O que sou eu, eu quero saber? E ainda não sei quem sou? Só sei que não sei? De novo, ser ou não ser? Arte e vida…

  20. Depois de tudo o que li, me vem à mente uma frase (peço desculpas por, nesse momento, ser incapaz de lembrar sua autoria):
    “Falar da morte da arte é como falar da morte da morte.”

  21. A arte morta espera na esquina mais próxima a arte posta para vampirizar-lhe a jugular até o próximo ensaio sobre a dodeira humana demasiadamente desumana.

  22. A medida em que o homem foi tomando conscência de si e percebendo que poderia manipular a natureza e os outros homens,e com o mau uso deste poder, houve a necessidade de um refugio contra a fria realidade, desde as pinturas nas cavernas, desenhos misticos onde o impossivel era alcançado, o culto a beleza(estética)etc. Assim a historia segue até chegar um momento onde não se tem para onde ir, e o jeito é negar tudo o que ja foi afirmado, ir de encontro com o que deixou de ser novidade, ou de interesse comercial: ” não vamos mais falar da beleza, a moda agora é falar da feiura!!!
    O desespero para continuar sendo o centro das atenções chega a tanto, que o sujeito se submete as exigências do mercado e o que poderia ser chamado de arte acaba sendo somente um produto, resultado da sociedade contemporanea alienada.

  23. Se a perda das coisas que amamos nos deixa de luto, a arte não está de luto, pois vive; Não podemos ignorar que é mutável, movente, como esta moderna que insiste em nos apresentar ASCOS. Cabe a nós querer acumular arte e gerar mais espaço para o capitalismo ou apenas passear pelos pensamentos do artista durante alguns momentos de visões extáticas encima daquela obra que nos causa NOJO. Liberdade de expressão nesta nova idade média.

  24. Arthur Danto, filósofo e crítico de arte, se não me engano foi um dos primeiros a abordar e a cunhar “a morte da arte”. Em seu livro Após o Fim da Arte, trata do assunto com profundidade.

  25. De fato, há concordâncias dos fatos – são reais – o capital domina tudo e todos. A arte, sendo um lugar da superestrutura, possibilita o controle dos sentidos (afetos, sentimentos …) humanos. Se o gosto não se discute – aqui -, torna-se uma mensageira do reino das necessidade – paradoxalmente – se colocando como o da liberdade do pensar: ledo engano.

  26. Além do inevitável questionamento sobre as linhas que separam (ou unem) a arte do ganha-pão e do entretenimento, um dos problemas dos quais ela sempre foi vítima é a visão não errônea, mas altamente distinta entre o público dito especialista e o dito leigo. Uns pensam que a arte deve ser entendida; outros, que deve ser sentida. Minha concepção (enquanto não-especialista) me leva mais à segunda visão: a arte contemporânea, por mais “racional” que ela possa ter se tornado, não tem como completo intuito ser “compreendida”. Ao ver uma obra de Damien Hirst, por exemplo, tamanha experiência nos passa mais experiências psíquicas do que cerebrais. Os surrealistas defendiam a arte enquanto completa explosão sentimental, completa ausência de racionalidade, demonstração intuitiva e instintiva (como seu método da escrita automática). Será que esta não seria a concepção de arte “pura”, pois sensível e que propõe a exclusão de qualquer Razão para chegar a uma demonstração sensível daquilo que nós, humanos, somos algumas vezes incapazes de alcançar?
    Acredito que, na arte, sempre existe muito da intuição autoral, na busca de algo intrínseco, de transformar algo insensível (o abate de um animal, por exemplo) em algo que nos toque, não necessariamente em um sentimento “bom”. Aristóteles já dizia que uma tragédia só se distinguia da comédia pela sensação que passava aos espectadores: na comédia, a identificação do público se dava justamente pelo absurdo situacional; na tragédia, se dava por terror ou piedade. A teoria aristotélica pode ser aplicada até hoje: a arte pode nos trazer não só satisfação, como desgosto, e os graus destes sentidos é o que diferencia a arte bela da arte em geral.
    Aí, pergunto-me: será que se a arte, caso fosse de todo racional, não seria mais uma ciência?

  27. Numa perspectiva grotesca, penso que a arte, hoje, não é memória do luto da arte. É o (re)nascimento da arte, uma segunda vida, uma outra arte, que não anula a ‘outra’ arte (o que significa que a arte bela, acadêmica, não morreu), livre. Assim como na cultura grotesca do carnaval, do teatro, que Bakhtin estuda em A Cultura Popular Na Idade Média e no Renascimento (excelente livro!). Fazer pensar não é exclusividade da arte conceitual, atual. A arte conceitual no faz pensar inclusive na necessidade de se pensar. Há obras que não compreendemos e que por esse motivo pensamos, repensamos, refletimos e nada compreendemos por que não há nada a compreender. Há, ainda hoje, obras que simplesmente estimulam a percepção e os sentidos de tal forma a nos dizer “não estou dizendo nada’, ‘pare de pensar sobre mim, pois nada há para pensar, apenas sentir’. E, assim, nos faz pensar… e sentir..

  28. Desde o momento em que a ATITUDE do artista passou a ser considerada uma arte, parece-me que o debate tornou-se muito mais amplo. As análises passionais costumam ser ocas e binárias, no entanto, qualquer indivíduo sem comprometimento neurológico é capaz de entender a natureza das obras renascentistas e o valor estético de gente como Da Vinci e Michelangelo. Diferentemente da Pop Art e congêneres, que dependem de uma “boa vontade” do olhar.

  29. “A arte contemporânea representa a ruptura de uma utopia romântica, que buscou no belo, através dos tempos uma fuga para um paraíso inexistente; na tentativa de suprimir e maquear a imperfeição do mundo e do homem através dos tempos . O conceito de belo finda-se na contemporaneidade como um líquido que se evapora de um recipiente e agora se completa com a realidade nua e crua, retirando a maquiagem do rosto do homem pós-moderno.” Wilson Inacio – Manifesto do Stressionismo –

  30. Achei seu texto ruim, Marcia, um deslindar de palavras que beira ao sublime que você nos apresenta, porém, de uma sublimidade/subliminaridade vazia, pura forma, algo transcendente. E que arte metafísica é essa que a senhora aponta? E quem está sofrendo e enlutado? E quem é que disse que não há “mais de gozar” nesse lucro todo de uma “pseuda arte” desencantada? Rimar gosto com desgosto é diletantismo retórico barato, bobo e fácil, como verniz filosófico inspirado e “desafiador”. Preguiça. Passe a frequentar mais artistas e galerias, leia seus textos, ouça-os, converse com curadores e galeristas e saia do mundo da filosofia – é hora de descer ao chão, minha cara. Até índios e aborígenes do mundo afora estão produzindo arte contemporânea mais que nunca e haja vitalidade e tesão.

  31. Li o comentário acima (alegando que o texto é ruim). Entao realmente nao sei o que se apresentaria como um bom texto. Nao é possivel apreender a arte com um olhar ou um pensamento superficial … não se separa arte e filosofia, por isso, temos a Estética (filosofia da arte). Ela se apresenta num estado atemporal… pois mesmo sendo produzida num passado seja ele recente ou remoto, continua latente aos nossos olhos; seja numa tribo, num museu ou em via publica. O passado é imprescindivel na construcao do futuro…. talvez esse seja o grande erro do discurso da arte moderna: enaltecer o novo em detrimento ao passado. O universo da arte nao se prende somente a galeristas ou curadores, a arte de galeria ou “catalogada” serve mais ao mercado de arte e a poucos privilegiados. Existem inumeros artistas brilhantes que estao fora deste eixo, sao estas pessoas acima citadas que ditam ou determinam o que é arte ou nao, atravez dos seus discursos. Arte antes de tudo é ideia, nao materia ou algo palpável… é pensamento que por sua vez é inato ao ser humano e nem sempre valorizado. Wilson Inacio – Manifesto do Stressionismo

  32. Caro Wilson, concordo que há filosofia na arte, dizem até que há religião. Recentemente estão dizendo que não há mais trans-estética universal, emocionalismo, mas há rito e agência, persona, subjetividade na coisa. Mas não precisamos ir tão longe. É só seguir o objeto e seu artista – seja o da galeria ou o da rua. Tem filosofia sim, mas não essa transcendente e autorizada, retórica acadêmica de poucos. Tô falando da filosofia do fazer cotidiano, experiência. E não de cifras. Sobre o passado concordo que ele não fundo resgatável, fantasma doloroso atravessável. Passado-presente-futuro é aqui agora. Convenção que se desvia e vira invenção que se conforma e reconvencionaliza. Acho que a arte e mesmo a vida é meio que isso, não. Pés cá e lá e nesse interstício, arrière pays! Matar a arte e declarar um luto é bobagem. Folclore até. Até pichador hoje em dia participa da Bienal de São Paulo. Já foi sacralizado. Amém. Não desencantemos o mundo. Há poesia, é só questão de perspectiva. Os mundos são múltiplos. rs

  33. Olá a todos,
    continuo achando que esse pensamento sobre o fim da arte é puramente especulativo mas válido por isso. É sempre bom pensar, refletir! Mas acho que, apesar das várias teorias filosóficas a respeito, a arte continua sendo algo “sagrado” que nos atravessa; algo que não pode ser medido nem computado, nem avaliado por nós a ponto de dizermos o que ela é de fato. A arte continua sendo! Nós, ao longo do tempo, mudamos em algumas coisas para melhor e em outras para pior, mas a arte, aquela que nos faz transcender e sentir amor em todos os seus graus, essa nunca vai morrer ou deixar de ser… nós sim!
    Pensar sobre isso é fantástico: um grande labirinto! Mas acredito que à medida que conseguirmos nos desvencilhar das armadilhas humanas e dos problemas seriíssimos relativos à subjetividade definida pelo moldes capitalistas, e nos ativermos de novo à simplicidade da vida, a valores mais nobres, a vida vai gradativamente melhorar e talvez não precisemos fazer absolutamente da arte um “instrumento” de expressão somente do caos. Desta forma, ela, assim como nós, voltaremos a um lugar que nos é mais digno: à vida simples, impermanente e belíssima! Viva a arte! Vamos nos educar para aprender, vamos nos educar para vivermos melhor e continuemos pensando nisso tudo porque faz parte do processo, da vida! Assim eu sigo pensando! Valeu Marcia!

  34. Caro LEo B… O luto no sentido do texto representa uma vivencia da atualidade, ou seja, este período de transição de uma sociedade industrial para uma sociedade da informacao – Mundo Moderno / Mundo Pos Moderno. Sendo assim é natural este sentimento de luto. Este mesmo luto é necessário para os novos desdobramentos artisticos, novos meios, tecnologias e hibridismos, novas vivencias. Enterramos todos os dias o passado e o ressuscitamos concomitantemente, como uma nova visao de mundo. É a cultura do REMIX, do Copyleft entre tantos outros neologismos encontrados. kant e Hegel foram suprimidos pelo pensamento do filosofo alemao Theodor Adorno no século XX, e não deixaram de ser importantes na construcao de conhecimento e na formacao do homem. Em relacao ao seu comentario que ate pichacao foi a bienal, penso que nao podemos ter uma visao superficial sobre a arte, se considerarmos que a pichacao de sao paulo é uma manifestacao cultural unica no mundo,um grafismo em forma de expressao se levarmos em consideracao que: quando escrevemos, tambem desenhamos e a partir da pichacao tivemos o desdobramento do proprio grafite. Como voce mesmo citou existem multiplos mundos. O que precisamos definir realmente, qual é a funcao social do artista hoje? A que ele se presta? Qual o seu valor…. sendo que pior que pichacao em bienal é exposicao de uma cachorra em nova york, incentivada pelo seu dono a arranhar superficies tendo por traz papel carbono e dessas impressoes nasceram as “obras” cadela artista…
    Wilson Inacio – Manifesto do Stressionismo

  35. È curioso. Há pouco assisti um documentário da BBC sobre a perda da beleza na arte moderna inspirado na obra “Why beauty matters”, daquele inglês que muitos odeiam o Roger Scruton e fiz o seguinte comentário “O mundo moderno sepultou o belo e a arte juntos”. Depois entro na internet e leio esse ótimo artigo falando sobre o luto da arte moderna.
    Ainda bem que minha opinião não é isolada. Toda vez que vejo uma obra de Hirst não sei se choro ou se vou as gargalhadas.
    Na maioria das vezes fico apenas impassível. Sua obra não merece nem mesmo uma reação…

  36. Perdão, embora de pouco valor esta minha opinião, mas gostaria de perguntar se o sepultamento da Arte, como alguém diz, e do Belo, como se quer de certa forma, parcial, às vezes, afirmar, se refere à Arte e ao Belo como ideia, como “fonte”, ou à arte e ao belo enquanto aquilo que se julga sê-lo ou ao que se é exposto aos olhos simplesmente e imediatamente?

    Se aqui se julga pelo conceito (generalizante), se o que se considera é a ideia, então a Arte e o Belo continuam a evidenciar-se sim, – e concordo com o Carlos que indaga qual arte permanecerá a seguir, já que antigos desconhecidos se nos tornaram hoje artistas endeusados, merecidos ou controversos. (Discordo de seu ponto de vista, contanto, em dizer que a arte de Raul Santos Seixas seja medíocre; pois devemos considerar aqui as questões que tangem a musicalidade, as quebras de paradigma, as lutas pelo avanço do intelecto e das conceituações morais, as questões sociais etc. Coisas que não nos cabe aqui discorrer).

    Pergunto assim se, deveras, estamos falando sobre a Arte ou sobre a mídia. Pois, quando abrimos tais debates, nos prendemos sempre ao que nos é exposto berrantemente aos olhos. Dificilmente entramos no mundo “underground”. Pouco nos colocamos diante daquilo que se inventa mas não está visível. Explico: não buscamos a descoberta, mas nos contentamos em comentar aquilo que já está comentado, discordar daquilo que se nos apresenta (o que nos dá maior visibilidade). Não nos propomos, contanto, a descobrir aquilo que se há de pesquisar, aquilo que se há ainda de desvendar.

    A Arte talvez não esteja assim nos olhos e o Belo quem sabe se oculte na ausência de se lhe atentar, de se lhe dar significação ignorando-se a “visibilidade” e o egoísmo, o orgulho e o medo, as particularidades pessoais; talvez se oculte na ignorância, por detrás da supervaloração da mídia em prol daquilo que é indicado como discutível, fique no âmbito do ignorável. Sim, talvez para perceber-se o belo seja como ao nirvana schopenhaueriano, de certa forma: o despojamento (acidental e não) de si para a realização efetiva da Verdade. Entretanto, o mais difícil é nos despirmos de nossos pré-conceitos e de nosso orgulho…

    Ou será que os grandes literatos, por exemplo, são somente aqueles que publicaram livros? – Veja-se Fernando Pessoa…

    Ou será que grande artista plástico, noutro exemplo, é somente esse que rende fortunas e polêmicas na mídia? – Bem, leiam-se as entrelinhas da história de toda arte…

    Pois então, em vez de avaliarmos essa questão mediante o discutível, busquemos mais o descobrível, o indagável, – e o indaguemos. Busquemos as particularidades do contexto de produção geral e as especificidades, com mãos de cientistas e corações receptivos.

    Por enquanto, na maior parte das vezes, seguimos apenas aquilo que é “riche”, no sentido todo irônico da inferência, a quem fizer traçá-la. E garanto que há bastante coisa incognoscível agora, mas que suplantará um dia o midiático, já que esta é a ordem mais natural.

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