O conservador brasileiro e a caixa de Perpétua

O conservador brasileiro e a caixa de Perpétua
As atrizes Betty Faria e Joana Fomm nos papéis de Tieta e Perpétua, respectivamente (Foto: Reprodução)

 

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Uma das personagens mais presentes no imaginário ficcional brasileiro é a viúva Perpétua, do romance Tieta do Agreste, de Jorge Amado, que se tornou amplamente conhecido no final da década de 1980, ao ser adaptado para a televisão. Eu era criança quando assisti à novela Tieta pela primeira vez, mas lembro vividamente da imagem caricata de Perpétua, imagem que se revelava por meio de suas roupas pretas, de sua feição desconfiada, de seu temor obsessivo a Deus, de suas ideias estupidamente moralistas, de seu apego à caixa misteriosa que escondia no guarda-roupa e, sobretudo, de seus repetidos ataques de delírio.

Em 2021, assisti à novela outra vez. E a minha impressão, hoje, é que Perpétua foi mesmo construída para despertar o riso, já que ela performa, talvez como nenhuma outra personagem da nossa ficção, o “ridículo” que caracteriza o dito “conservador brasileiro”, especialmente aquele que se forjou nos porões da Ditadura Civil-Militar e que se introjetou na realidade político-social do Brasil a partir do golpe de 2016.

O problema do riso como resposta a figuras caricatas é que o “ridículo” – aquele que faz rir – pode ser uma figura perversa que se vale da própria caricatura para exercer mal em diferentes níveis, até que ele se torne uma prática banal e/ou institucionalizada. Isso se torna evidente no caso de Perpétua, visto que a personagem caricata, com posições tão absurdas que chegam a ser engraçadas, é a mesma que faz de tudo para destruir a irmã, Tieta, chegando ao ponto de tentar asfixiá-la com as próprias mãos.

No tocante à realidade brasileira, a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, é a maior prova de como o ridículo-perverso se aproveita do “estado de graça” de um povo para conquistar espaço e chegar ao poder. Quem poderia imaginar que aquele bobo da corte, que se projetou nacionalmente a partir dos absurdos que dizia em um programa de auditório, se tornaria Presidente da República? Com certeza, poucos de nós imaginamos; e esse foi o nosso maior equívoco.

Fomos incapazes de imaginar que o sujeito que disse “Você está ensinando o homossexualismo”, referindo-se a uma campanha para a educação sexual de jovens LGBTQIA+, poderia ser o mesmo a dizer, anos depois, “Vamos metralhar a petralhada…”, referindo-se aos seus opositores políticos. A maioria de nós precisou viver as consequências do que a filósofa Marcia Tiburi chama de “ridículo político” – “cena em que atores patéticos e ignorantes se qualificam para exercer o poder” – para dar-se conta de uma premissa histórica: no fascismo, o cômico é a véspera da tragédia.

Em termos cronológicos, o ápice do levante nazifascista insuflado por Bolsonaro se deu a partir da vitória de Lula nas eleições de 2022, quando milhares de apoiadores do ex-presidente resolveram ocupar espaços públicos e acampar em frente a quartéis do exército pedindo intervenção militar. Como já era de se imaginar, tal movimentação foi permeada por uma avalanche de cenas bizarras, que, transformadas ou não em memes, levaram novamente muitos de nós ao riso.

Eu mesmo não consegui me conter perante a cena da atriz Cássia Kis ajoelhada na rua, com um terço nas mãos, debaixo de chuva, clamando pela salvação da pátria. Talvez por isso, grande parte dos brasileiros tenha se surpreendido com a destruição causada pelo golpismo bolsonarista em 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Ou seja, mesmo depois de tudo que vivemos nos últimos anos, não conseguimos entender o que aquelas cenas bizarras anunciavam.

Agora, temos o desafio de aprender essa lição antes que seja tarde, o que, a meu ver, só será possível se colocarmos em prática a sugestão que João Cezar de Castro Rocha apresenta em Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político, que é nos mover da “caricatura” à “caracterização” do sujeito bolsonarista, identificando os fatores que constituem a sua mentalidade “conservadora” para além do ridículo imediatamente perceptível. Afinal, quem é o sujeito bolsonarista? Qual a natureza e a lógica do seu conservadorismo? O que a sua caricatura à la Perpétua esconde?

Inicialmente, é preciso considerar dois pontos. O primeiro é que o conservador brasileiro de hoje é um dos principais legados não apenas do projeto bolsonarista, mas também, e principalmente, dos acordos obscuros que possibilitaram a farsa política que chamamos redemocratização e a própria emergência do bolsonarismo. Isso significa que esse sujeito não foi um simples devaneio político-social ou, ainda, um mero acidente no percurso de nossa história. Como argumento em outro texto, ele materializa o retorno alucinatório de um significante excluído do nosso campo simbólico – o nazifascismo –, fato que certamente o manterá vivo entre nós por tempo indeterminado.

Já o segundo ponto é que o conservador bolsonarista não se orienta por visões mais intelectualizadas sobre o conservadorismo. Ouso dizer, inclusive, que a maioria desse grupo não faz ideia do que seja o pensamento conservador; de quando e sob que circunstâncias ele surgiu; de como ele opera na política, na economia e na cultura; e de qual o seu papel nas contradições e tragédias que marcam a história ocidental. Muito provavelmente, esse grupo também nunca ouviu falar do filósofo irlandês Edmund Burke e de sua obra Reflexões sobre a Revolução na França (1790), considerada um marco na organização teórica do pensamento conservador.

A principal – e talvez única – referência evocada pelo conservador bolsonarista é o finado Olavo de Carvalho, que, como sabemos, passou longe do rigor, da ética e do compromisso social e epistêmico que subsidiam a produção acadêmica. Aliás, como explica João Cezar de Castro Rocha, foi a partir dos discursos mobilizados por Olavo de Carvalho durante os anos 1990 que a extrema direita formou a sua base e conseguiu desenvolver uma linguagem própria no Brasil, caracterizada pela “resistência ao mais elementar princípio de realidade”.

Atendo-se à mediocridade e ao tom chulo e agressivo que corporificam a retórica olavista, o autor conclui que o sujeito bolsonarista se pauta por um “sistema de crenças” marcado por uma forma particular de anti-intelectualismo. Na visão da arte-educadora Rita Von Hunty, a falta de rigor do “pensamento” olavista produziu um tipo específico de lealdade política que ela chama de “mentalidade de seita”: “ou você tem aderência total ou você é um inimigo”. É dessa mentalidade que surge, por exemplo, a certeza de que figuras liberais como Joe Biden, Emmanuel Macron e Fernando Henrique Cardoso são comunistas. Um nítido exemplo de como a mentalidade de seita irrompe a conexão com a realidade e o pensamento.

Para entender as raízes dessa identificação, é necessário revisitar dois enquadres fortemente ligados à projeção do ridículo político no Brasil. O primeiro deles foi o discurso inflamado que Janaína Paschoal proferiu em abril de 2016, no Largo de São Francisco, em São Paulo. No discurso, a então professora manifestava o seu apoio ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff de forma totalmente alucinada, sobretudo, a partir do momento em que disse, aos gritos e rodopiando a bandeira nacional, que “o Brasil não é a república da cobra”, sendo “cobra” um termo utilizado para se referir a Lula, a Dilma e ao PT. O argumento era que, se a “cobra” não fosse destruída, ela continuaria “dominando as nossas mentes, as almas dos nossos jovens”. Dado o seu caráter psicótico, o referido discurso ficou popularmente conhecido como “o exorcismo de Janaína Paschoal”.

O segundo enquadre foi a conturbada votação pela abertura do processo de impeachment, na Câmara dos Deputados, que aconteceu alguns dias após o evento do Largo de São Francisco. Embora o termo “cobra” não tenha sido diretamente evocado, a maioria dos deputados favoráveis ao impeachment não mediu esforços para demonizar o PT e seus atores, justificando, com notável excitação, que o seu voto era “por Deus [e] pela família”. Uma das falas mais marcantes foi a do então deputado Jair Bolsonaro, que, além de justificar o voto “pela família e pela inocência das crianças”, dedicou-o “à memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra”, oficialmente reconhecido como torturador da Ditadura Civil-Militar. À época, muitos classificaram a votação como um “circo de horrores”.

Aqui, é importante notar que a ascensão do ridículo político se dá a partir de duas metáforas: o exorcismo e o circo. A metáfora do exorcismo designa o pânico que Janaína Paschoal e grande parte dos brasileiros tentavam expurgar de seus corpos no período, como resposta às mudanças discursivas e materiais promovidas pelos governos petistas. Já a metáfora do circo remete ao teor caricatural que atravessa toda a votação e que, após a fala injuriosa de Bolsonaro, escancara o horror por trás do ridículo encenado tanto por Janaína Paschoal quanto pelos deputados favoráveis ao impeachment-golpe.

Ambos os enquadres – e suas respectivas metáforas – revelam que o sujeito conservador que se projetou no Brasil recente é movido por um fenômeno de ordem cultural, que Marina Basso Lacerda chama de “novo conservadorismo brasileiro”. Na esteira do neoconservadorismo norte-americano, tal fenômeno emerge como “reação às políticas de bem-estar e ao avanço de movimentos feministas, LGBT e pelos direitos civis”, tendo como elementos-base – além do protagonismo cristão/evangélico – “a defesa da família patriarcal, o militarismo, o idealismo punitivo e o neoliberalismo”.

Isso explica por que o sujeito bolsonarista releva ou ignora os casos de corrupção em que Bolsonaro está envolvido, mas é o primeiro a se levantar contra os alegados casos de corrupção envolvendo Lula. Porque a “corrupção política” nunca foi o real problema. A opção por Bolsonaro e a mentalidade de seita que se formou em torno da sua figura sempre foram guiadas pelo desejo de frear, por vias antidemocráticas, uma suposta “corrupção de valores” mobilizada pelo PT. Em outras palavras, o que move o conservador brasileiro atual é o desejo psicótico de se impor como herói de uma “guerra cultural”, para citar o termo usado por João Cezar de Castro Rocha.

Segundo Heloísa Starling, a força motriz dessa guerra – típica de investidas totalitárias como o nazismo – é a mistificação da história, baseada na crença fantasiosa de um “tempo de antes”, que acaba por assumir a forma de uma “utopia regressiva”: “um dia o mundo foi o que nós achamos que ele devia ser, portanto, nós precisamos partir rumo ao passado”. Embora concorde com a historiadora, acredito que, na guerra cultural travada pelo conservador bolsonarista, a mistificação histórica convive, lado a lado, com a negação democrática.

Afinal, se um dos objetivos fundamentais da democracia, como consta no Artigo 3º da Constituição de 1988, é “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, incitar uma guerra contra políticas de inclusão, justiça e bem-estar significa, a rigor, deflagrar uma guerra contra o Estado democrático. Nesse sentido, a tragédia que a caricatura à la Perpétua do conservador brasileiro esconde é o seu “desejo autoritário” ou, como diria Jean-Pierre Faye, a sua “vontade totalitária” marcada pela absoluta negação das pluralidades, contradições e disputas inerentes ao campo democrático.

Em nome dessa vontade, forjada por meio dos vínculos libidinais mantidos com o líder, como ensina Freud em Psicologia das massas e análise do eu, a massa conservadora se projeta “intolerante e crente na autoridade”, exigindo “de seus heróis […] fortaleza, até mesmo violência”. É por isso que, em vez de perceber a caricatura do sujeito bolsonarista como piada, devemos percebê-la como expressão psíquica de uma massa entregue à irracionalidade nazifascista.

Sobre os vínculos libidinais entre a massa e o líder, é importante ressaltar o seu protagonismo no retorno alucinatório da vontade totalitária no país, um retorno que não somente transformou o Brasil em um palco delirante, repleto de Perpétuas em estado permanente de surto, como também, parafraseando Mino Carta, elevou o delírio à forma de governo. Como ideologia e prática política, o delírio tende a convencer as pessoas de que a alucinação é uma forma legítima de ser/estar no mundo e de intervir na realidade, o que a move do lugar de transtorno para a posição de norma.

Nas palavras de Marcia Tiburi, isso ocorre porque “na perda da razão, o gozo emocional substitui o prazer do conhecimento”. Obviamente, não estamos falando de uma condição criada, na base, por Bolsonaro e seu projeto de poder, se considerarmos, a exemplo do que defende a autora, que o próprio “capitalismo é uma forma de racionalidade perversa que cria delírios em seu favor”. Nessa perspectiva, o capitalismo seria o aparato racional que fundamenta e estrutura a irracionalidade nazifascista, ao passo que o enlouquecimento seria um efeito do colapso do sistema capitalista com os seus próprios objetivos e limites.

Na condição de porta-voz desse colapso, o sujeito bolsonarista se projeta, também, como agente de uma “guerra civil psicótica”, que Michael Parenti define como uma reação “desprovida de qualquer outra motivação que não seja o sofrimento psíquico, o desespero e a violência”. Um sofrimento, desespero e violência que, vale frisar, emergem como sinais de uma brutal aversão à democracia e aos direitos e conquistas democráticas.

No entanto, a grande ironia dessa conjuntura é que a força destrutiva mobilizada por tal aversão acaba se destinando não apenas ao outro, visto como um inimigo a ser aniquilado, mas também ao próprio sujeito que a mobiliza. Basta nos lembrarmos, por exemplo, do militante bolsonarista que se pendurou no para-brisa de um caminhão em movimento, como forma de tentar impedi-lo de ultrapassar um bloqueio golpista em Caruaru; do empresário detido no Distrito Federal por planejar um atentado à bomba nas proximidades do aeroporto da capital; e do homem que veio a óbito após atear fogo no próprio corpo em protesto contra o ministro Alexandre de Moraes, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Como se sabe, esses três casos, bem como diversos outros que poderíamos citar aqui, tiveram uma motivação comum: contestar a vitória de Lula nas eleições. Isso porque o seu retorno à Presidência da República representaria, naquele cenário, o retorno de um projeto de poder minimamente comprometido com os valores democráticos, o que, para o conservador brasileiro atual, significaria ter que se submeter novamente à “república da cobra”. Dessa postura, pode-se inferir duas conclusões: a primeira é que, sob a ótica do sujeito bolsonarista, o inimigo a ser aniquilado, ou a “cobra” que se deve pisotear, é a democracia; a segunda é que, por trás da sua brutal aversão, esconde-se um pânico hediondo dos efeitos que a democracia pode produzir. Mas… por que um efeito democrático seria tão insuportável para alguém?

Quando lemos a obra Tieta do Agreste ou assistimos à novela com um olhar mais crítico, não demoramos a perceber que a rixa das irmãs Tieta e Perpétua simboliza o duelo entre democracia e autoritarismo, respectivamente. À medida que avançamos no enredo, percebemos também que as reações de Perpétua contra Tieta expressam, na realidade, o medo que a viúva moralista sente da presença da irmã libertária. Medo que não é sem razão, já que o retorno de Tieta para Santana do Agreste marca um período de questionamento e ruptura na forma como os habitantes da cidade percebem a vida.

O ápice da disputa entre as irmãs se dá quando Tieta descobre e expõe o conteúdo da caixa misteriosa de Perpétua – tudo leva a crer que se trata do pênis de seu marido, o falecido major –, revelando publicamente a sua hipocrisia e a raiz do seu estado alucinatório. Talvez, o pânico que assombra o conservador brasileiro atual seja precisamente este: que a democracia se consolide ao ponto de revelar o conteúdo de sua caixa misteriosa ou, pelo menos, de não lhe deixar outra alternativa senão ter que encará-lo. O que também não seria descabido, pois, como no caso de Perpétua, o conteúdo dessa caixa certamente envolve uma gama de desejos inconfessáveis para um “cidadão de bem”, os quais vão desde desejos sexuais obscuros e dissidentes até desejos de cunho eugenista e totalitário, como a legação do racismo e de práticas escravocratas ou o extermínio das populações negra, indígena, periférica, LGBTQIA+ etc.

Diante da possibilidade de ter o conteúdo de sua caixa exposto ou de ser obrigado a encará-lo, o conservador brasileiro torna-se capaz não somente de deflagrar uma guerra contra a democracia, mas de matar ou morrer para que ela não se consolide. A “pátria livre” que ele entoa com orgulho no trecho do Hino da Independência, “Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil”, é, portanto, um Estado liberto dos valores e prerrogativas democráticas.

Sem dúvida, é uma situação complexa e delicada, especialmente se entendemos que o pânico à democracia não está situado no plano da consciência, mas em um plano mais profundo, que o próprio sujeito não consegue acessar de forma autônoma. Prova disso é que o conservador bolsonarista geralmente tem certeza que está agindo em nome da democracia, e não contra ela, mesmo que os seus ideais e posicionamentos revelem nitidamente o contrário. Há quem acredite que o único meio de neutralizar esse pânico é romper os vínculos libidinais entre a massa conservadora e o seu líder.

Particularmente, não sei se esse é o caminho mais viável, já que Bolsonaro dificilmente decepcionará o seu rebanho em termos ideológicos, abrindo espaço para desestabilizar os laços que os unem. Perante a caracterização do sujeito bolsonarista, creio que o passo mais urgente é repensar o modo como reagimos à sua caricatura à la Perpétua, visto que, por trás da graça que ela suscita, como vimos, escondem-se desejos obscuros, cruéis e altamente perniciosos.

Em vez do riso, devemos apostar na sistemática mobilização de ideais democráticos, que levem o conservador brasileiro ao desgaste absoluto de sua própria caricatura, de modo que ele não tenha outra alternativa senão recuar ou encarar de frente o conteúdo de sua caixa misteriosa. Mais do que nunca, precisamos falar e insistir no debate público sobre racismo, misoginia, elitismo, homo(trans)fobia e todo tipo de desigualdade que impede a democracia de se realizar plenamente.

Na última sequência do capítulo final de Tieta, os habitantes de Santana do Agreste celebram, junto com a sua heroína, o triunfo da liberdade sobre o moralismo, enquanto os espíritos de Perpétua – que, depois de ser desmascarada pela irmã, foi levada pelo marido –, de seu pai e do major assistem a eles de longe. Quando os espíritos desaparecem, a celebração é interrompida por uma forte tempestade de areia que acaba por soterrar a cidade completamente.

Não é necessário fazer uma grande abstração para entender que essa sequência era/é um alerta, considerando que a novela foi ao ar após o fim da Ditadura Civil-Militar, em 1989. Um alerta que parecia/parece bem explícito: é preciso estar atento e vigilante, pois a democracia não é uma realidade garantida – ela sempre estará em risco. Por alguma razão, deixamos esse alerta cair no esquecimento. Ou, simplesmente, não o levamos a sério. Enquanto isso, os espíritos do autoritarismo nos observavam e, quando menos esperávamos, eles se materializaram diante de nós. Tornara-se carne viva. E o que fizemos? Rimos deles… Que sejamos capazes, desta vez, de compreender e levar a sério o alerta de Tieta. Antes que sejamos todos soterrados por uma tempestade de areia.

Marco Túlio de Urzêda Freitas é doutor em Estudos Linguísticos.


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