Montaigne e o ensaio

Montaigne e o ensaio
'Força da imaginação', por Salvador Dali (Arte Andreia Freire)
Os termos ensaio – que, no plural, dá título ao livro de Montaigne, Ensaios – bem como ensaiar, já se notou, passam por uma “evolução”, ou, digamos, conquistam seu sentido definitivo, “técnico” e propriamente montaigniano, no tempo, ao longo da trama do livro, que foi se tecendo durante os vinte últimos anos de vida do autor, desde uma data próxima ao seu afastamento do Parlamento de Bordeaux, em 1570, até sua morte, em 1592. Os significados correntes à época – “tentativa”, “pôr à prova”, “exercício que demonstra aptidão ou habilidade”, “trabalho de aprendiz”, para lembrar os mais comuns –, embora não dando conta do sentido integral que o termo assume como gênero literário e filosófico, que Montaigne pratica e discute teoricamente com propriedade e modéstia, sugerem muito do que o autor realiza, quando já de posse do sentido mais maduro de seu projeto de pensamento e escrita. Fazemos a experiência desse sentido mais maduro pela leitura dos capítulos do terceiro livro dos Ensaios. No entanto, aqueles significados primitivos permanecem de interesse para uma aproximação do sentido que o termo ensaio possui em Montaigne. Isso porque já nos remetem ao traço mais emblemático desse livro que, esposando o ceticismo antigo e sua crítica, constitui-se como uma busca em que nenhum saber e orientação prática estão seguramente dados de antemão, mas, antes, tudo parece estar e permanecer sempre por conquistar. Logo, o que encontramos nesse livro “único em seu gênero” é o empenho nessa busca, uma “tentativa”,

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