A modernidade radical das pretas “veia” do samba

A modernidade radical das pretas “veia” do samba
Uma das raras imagens de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata (1854-1924) (Foto: Reprodução/ Minc)
  A macumba se rezava lá no Mangue, no zungu de Tia Ciata, feiticeira como não tinha outra, mãe de santo famanada e cantadeira ao violão. Às vinte horas Macunaíma chegou na biboca levando debaixo do braço o garrafão de pinga obrigatório. Já tinha muita gente lá, gente direita, gente pobre, advogados, garçons, pedreiros meias-colheres, deputados gatunos, todas essas gentes e a função ia principiando. Macunaíma tirou os sapatos e as meias como os outros… Entrou na sala cheia e afastando a mosquitada foi de quatro saudar a camdomblezeira… Tia Ciata era uma negra velha com um século no sofrimento, javevó e galguincha com a cabeleira branca esparramada feito luz em torno da cabeça pequetita. Ninguém mais não enxergava olhos nela, era só ossos duma compridez já sonolente pendendo pro chão da terra. Mário de Andrade, Macunaíma No ano que celebramos de maneira crítica e reflexiva a Semana de Arte Moderna de 1922, o encontro de Macunaíma – personagem de Mário de Andrade que ficou conhecido como “herói sem nenhum caráter” – com Tia Ciata é um prato cheio para pensarmos quem são essas Tias que têm e tiveram o poder de fazer curvarem-se “advogados, garçons, pedreiros meias-colheres, deputados gatunos” e Macunaímas. Tias que temos nesse chão da terra, nesse poder ancestral, que fizeram com que essas pessoas se curvassem, se apropriassem, embora a população negra não tenha sido incluída no projeto moderno. Afinal, onde estavam os negros na Semana de 1922? Sem falar nas mulheres negras. Estavam costurando a modernidade nas

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