Lula: ‘Raduan Nassar é uma das reservas morais e intelectuais do país’
Pronunciamento de Lula à imprensa nesta quarta (13), na sede do PT Nacional, em São Paulo (Foto Paulo Pinto/Agência PT)
O escritor Raduan Nassar esteve na sede do Partido dos Trabalhadores nesta quarta (13) durante entrevista coletiva de Lula à imprensa. O ex-presidente falou pela primeira vez sobre a condenação a nove anos e seis meses de prisão emitida nesta terça (12) pelo Juiz Sérgio Moro no âmbito da Operação Lava-Jato.
Vencedor do Prêmio Camões, autor do romance Lavoura Arcaica (1975) e principal voz da literatura brasileira contemporânea, Raduan é firme apoiador de Lula. Em entrevista ao jornalista Manuel da Costa Pinto, publicada na CULT 224, o escritor afirmou:
“Esse governo em exercício está com um poder repressor incalculável. Mas chega uma hora que o trabalhador não aguenta. Acho que o Brasil não escapa da convulsão social – a menos que Lula venha a se candidatar”.
Durante seu pronunciamento, Lula agradeceu a presença de Raduan e de outros apoiadores que estavam ali, como Jandira Feghali (PCdoB), Manuel Dias (PDT), Guilherme Boulos (MST), Vagner Freitas (CUT) e Eleonora Menicucci, ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres do governo Dilma Rousseff.
Mais tarde, o ex-presidente se dirigiu diretamente ao escritor: “Queria agradecer ao meu querido companheiro Raduan, que eu conheço há pouco tempo pessoalmente, mas parece que há muito nos conhecemos, um companheiro que é uma das poucas reservas morais e intelectuais deste país”.
Não é a primeira vez que os dois aparecem juntos. Em 2016, Lula e Raduan visitaram o campus Lagoa do Sino da UFSCar – a 270 quilômetros da capital paulista -, cujo terreno foi uma doação do escritor à universidade, em 2011. Em outra ocasião, se encontraram no Instituto Lula junto do escritor Julián Fuks.
Em artigo publicado na Folha de S.Paulo também no ano passado, Raduan manifestou seu apoio ao ex-presidente, exaltando o programa Luz para Todos, “que tirou mais de 15 milhões de brasileiros da escuridão”, o Estatuto da Igualdade Racial e a sanção à Lei Maria da Penha.
“Sem vínculo com qualquer partido político, assisto com tristeza a todo o artificioso esquema de linchamento a que Lula vem sendo exposto, depois de ter conduzido o mais amplo processo de inclusão social que o Brasil conheceu em toda a sua história”, escreveu.
À CULT, Raduan manteve os mesmos elogios, além de criticar o impeachment de Dilma Rousseff (que classifica como golpe) e condenar a atuação do Supremo Tribunal Federal e da Operação Lava Jato.
“O Supremo propiciou o golpe, porque [Eduardo] Cunha já era réu e eles [os juízes] mesmo assim não interferiram. Deviam ter se detido na tipificação do processo contra Dilma, nas pedaladas fiscais. Não fizeram nada, tudo isso foi armado pelo Judiciário”, disse.
Na fala desta manhã, Lula reiterou sua inocência – bem como sua candidatura à presidência em 2018 -, e afirmou que pretende recorrer da decisão no STF. “Quem acha que é o fim do Lula vai quebrar a cara. Quem tem direito de decretar o meu fim é o povo brasileiro”, disse.
A condenação não significa, necessariamente, que o ex-presidente será preso. Ele pode recorrer em liberdade e, se a sentença não for confirmada em segunda instância, poderá ser candidato à presidência em 2018.