Jon Lee Anderson: O que agora está em risco é a democracia

Jon Lee Anderson: O que agora está em risco é a democracia
Jon Lee Anderson encerrou o seminário Jornalismo: As novas configurações do quarto poder (Foto: Joana Teixeira)

 

As quatro décadas de profissão não serviram para deixar Jon Lee Anderson confiante com o futuro. Ao contrário, ele alertou jornalistas para a violência urbana e demonstrou preocupação com governos autoritários, cada vez mais presentes em vários países, durante palestra “Profissão: Jornalista” no seminário Jornalismo: as novas configurações do quarto poder, realizado pela CULT em parceria com o Sesc nos dias 15, 16 e 17 de agosto.

O experiente jornalista de 61 anos cobriu guerras, revoluções e conflitos no Oriente Médio, África e América Latina. Repórter da The New Yorker, Jon Lee enfatizou sua preocupação com os ataques à democracia. “O que agora está em risco é se a democracia vai sobreviver. Todos nós estamos sendo atacados.  Temos que ser ativistas dos princípios da democracia.”

Com um olhar especialmente voltado para a América Latina, lembra que a crise atual das esquerdas está relacionada à história recente, quando no pós- Guerra Fria “a maioria da esquerda queria a paz, então houve anistia, pactos ao redor da América Latina”.

“Não podemos subestimar os danos que isso causou, o efeito tóxico [da impunidade]. Estamos fazendo de conta que os fantasmas não estão na sala. Creio que as democracias [da América Latina] já nasceram corruptas, falidas. Muita gente na classe política, no sistema Judiciário, na polícia e na área militar eram realmente cúmplices e aceitaram esses crimes do passado. Quando o mercado substituiu a Guerra Fria e todos esses países se tornaram parte da grande festa consumista, muitas negociatas foram feitas”, afirmou.

Conhecido por perfis de personagens destacados da política como o ditador chileno Augusto Pinochet e o genocida e ex-presidente da Libéria Charles Taylor, condenado a 50 anos de prisão, Jon Lee Anderson falou também sobre seus métodos para extrair o máximo dos entrevistados: negociar vários encontros, acompanhá-los em diferentes contextos e em locais públicos, para saber como eles reagem a pessoas e como elas reagem e eles.

Ele conta que sua postura “diplomática” o ajuda a se aproximar dos personagens, além de uma certa habilidade para interpretar cenas e situações. Destacou que nunca mentiu para conseguir uma entrevista, e que no máximo fica “em silêncio” quando discorda do entrevistado, sempre observando os detalhes e os não-ditos.

Para entrevistar Pinochet, contou que precisou de extensas negociações com a filha do general por meio da Fundação Augusto Pinochet. Depois de duas semanas e muitas conversas com “pinochetistas” conseguiu falar com o ditador com a condição de não falar sobre direitos humanos. Foram dois ou três encontros falando de assuntos que interessavam a Pinochet, para só no quarto tocar no assunto e “conhecer a ira” do ditador.


Antonio Assiz é jornalista, mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP

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