Digital é maior revolução na imprensa desde Gutenberg, diz Fernando Luna

Digital é maior revolução na imprensa desde Gutenberg, diz Fernando Luna
Fernando Luna (Globo), Bruno Torturra (Greg News), Conrado Corsaletti (Nexo) e Helena Bagnoli (Bravo!) (Foto: Joana Teixeira)

 

“O dinheiro da publicidade da mídia clássica migrou para as novas plataformas. A crise não é exatamente do jornalismo, mas do modelo de negócio do jornalismo.” Assim resumiu Fernando Luna, diretor editorial da Editora Globo, o tema da mesa Modelos de gestão frente à crise: desafios diante de um mercado instável e em transformação, o segundo debate desta quinta-feira (16) do seminário Jornalismo: as novas configurações do quarto poder. Para o convidado, a transição para o digital é “a maior revolução na imprensa desde Gutenberg”.

De acordo com Luna, que assumiu há pouco o cargo que determina a linha editorial de títulos como Época Negócios, Marie Claire e Galileu, o modelo que sustentou a imprensa nas últimas décadas está ruindo: os jornalistas estão descobrindo que a reportagem em si não traz retorno financeiro, e que “na verdade o negócio da imprensa era vender o leitor para o anunciante”. “Instabilidade” e “transição” são palavras que resumem o atual momento de “crise dupla” do mercado de imprensa, afirma, marcado por uma crise estrutural do mercado de mídia e pela pior recessão econômica da história do país.

Bruno Torturra, editor do programa Greg News, da HBO, concorda que o momento atual é de profundas mudanças. “Está caindo a ficha do jornalista de que o jornalismo em si nunca deu lucro. A imprensa ainda não realizou a transição para o ambiente digital tão bem quanto as indústrias do cinema e da música, que estão conseguindo gerar receita”, comparou. Segundo ele, os jornais e revistas que migraram para a internet ainda reproduzem o modelo analógico na forma como cobram assinatura dos leitores.

Mas, apesar do tom geral de pessimismo, houve também espaço para colocações positivas durante o debate. Torturra sugeriu um novo modelo de financiamento de notícias, o de micropoagamentos: “Em vez de dar um like, o leitor daria um real para a notícia”, explicou. Para Conrado Corsalette, cofundador e editor do Nexo, site jornalístico 100% online fundado em 2015, a transição para o digital traz uma valorização do leitor que não havia no impresso.

Segundo ele, já que os veículos não podem mais contar com a verba da publicidade, o objetivo é fazer com que leitores paguem por informação. Este caminho só se dará se houver conversa com potenciais assinantes. “O leitor era um estorvo nas redações, reduzido a uma seção de cartas fortemente editada. O digital traz uma oportunidade de reconexão com essas pessoas. Por exemplo, no Nexo entramos em contato com os haters nas caixas de comentários e oferecemos a eles a oportunidade de refazerem seus comentários. Muitos de fato reescrevem, a qualidade da caixa de comentários cresce e eles acabam virando nossos assinantes”.

O seminário Jornalismo: As novas configurações do quarto poder, iniciativa da Revista CULT em parceria com o Sesc, vai até esta sexta (17), no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. Entre convidados nacionais e internacionais, são cerca de cinquenta nomes debatendo as transformações da prática jornalística na atualidade.

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