“iô”, de Camila Lourenço, e outros lançamentos

“iô”, de Camila Lourenço, e outros lançamentos

.

Romance em verso sobre uma jovem, iô, que cresce longe das ruínas de uma distópica sociedade devastada pelos homens. Criada em uma ecovila em harmonia com a natureza, após os desastrosos efeitos da quarta revolução industrial, a protagonista vai contracenar com Dante, um homem que chega da cidade. Como escreve a jornalista e editora Dani Costa Russo, na orelha da obra, “é um alerta íntimo, individual, da nossa relação habitualmente conflituosa com o meio, com o próximo, com o nosso sexo, com o quanto deixamos o masculino nos levar para longe, tão longe a ponto de nos fazer desejar pelo que, a cada dia, esquecemos sem querer esquecer”.

Reunião de dois livros de contos da escritora argentina, Pássaros na boca (2009) e Sete casas vazias (2015), sendo o último inédito no Brasil. Em suas narrativas breves, Samanta Schweblin evoca o conto fantástico europeu do século 20 e mesmo o insólito de textos de seus conterrâneos, como Júlio Cortázar e Adolfo Bioy Casares. O primeiro livro é povoado por personagens incomuns e elementos sobrenaturais e grotescos. O conto que intitula o volume, por exemplo, versa sobre uma jovem que passa a se alimentar de pássaros vivos. Já em Sete casas vazias, predominam os espaços familiares e domésticos, transformados pela escrita de Schweblin em locais de clausura, medo e inquietação.

Relançamento de um dos mais importantes livros do poeta francês Francis Ponge. Em Partido das coisas, o escritor explora sua “poética das coisas”, em que descreve poeticamente os mais simples objetos do cotidiano, ao mesmo tempo em que questiona como essas coisas se entrelaçam na própria estrutura da linguagem. Nas palavras de Álvaro Faleiros, a nova tradução de Adalberto Müller percorre um processo de reescrita que, “mais do que aderir às palavras do original, aproxima-se daquilo que Ponge entende por noção, ou seja, a relação entre as palavras e as coisas”.

Tradução direta do alemão de uma das mais significativas peças teatrais do século 20. O enredo de O despertar da primavera centra-se na relação de três jovens escolares na Alemanha de finais do século 19. Melchior, Wendla e Moritz, no “despertar da primavera” juvenil, estão descobrindo a própria sexualidade e as nuances do mundo que os rodeia, enquanto são confrontados pelas regras, tabus e restrições da família tradicional cristã. Escrita em 1891, a peça é considerada uma experiência de transição entre o naturalismo e o expressionismo. Apesar dos 130 anos passados de sua publicação original, a obra toca em assuntos ainda pertinentes ao debate contemporâneo: gravidez na adolescência, aborto, liberdade sexual, suicídio, os tabus do sexo e o conhecimento do próprio corpo.

Análise da trajetória política de Abdias Nascimento (1914-2011). Uma das mais importantes lideranças negras do país, Abdias foi escritor, artista plástico, dramaturgo e idealizador do Teatro Experimental do Negro (TEN). Seja na pintura, nos seus livros ou em seu pensamento teatral,  o escritor empenhou-se em valorizar as ligações culturais com a África e denunciar o racismo estrutural e a violência étnico-racial no Brasil. O livro é dividido em duas partes: “A missão”, sobre sua atuação parlamentar; e “O legado”, com textos e entrevistas que refletem sobre a presença de seu pensamento e suas ações nos dias atuais. Como reflete a autora, mais do que uma biografia, o livro é em si um chamado para a luta.

Estudo que relaciona o crescimento das redes sociais e seu lucro aos discursos de ódio. Nessa perspectiva, as redes seriam um ambiente que favorece a proliferação de discursos radicais, operando a manutenção de um imaginário racista, elitista e patriarcal na sociedade brasileira. Para empreender sua análise e sedimentar seus principais conceitos, Luiz Valério Trindade rememora momentos-chave na história do Brasil pós-abolição, traçando um panorama histórico da dinâmica racial que evidencia a “ideologia do branqueamento” enquanto motor central na construção da identidade nacional. Para a análise do ambiente digital, o autor traz diversas postagens de redes sociais, evidenciando a intersecção entre racismo, sexismo e questões de classe nos comentários de ódio.


> Assine a Cult. A mais longeva revista de cultura do Brasil precisa de você. 

Deixe o seu comentário

TV Cult