A história aviltada: o uso reacionário do bicentenário da Independência
O cavalo de um dos dragões da Independência se assusta durante o desfile de posse de Jair Bolsonaro, em 2019 (Reprodução/YouTube)
este cavalo não se domestica
além da aparência, guardou
para sempre em seu dorso escovado
a corrente crua da brutalidade.
sua crina de animal fidalgo
existe para os retratos. guardou
também para si uma lanterna
acesa de sua selaria, esta não
lhe permite virar-se por engano.
Adriano Menezes (2002)
Na posse do atual presidente, uma cena incomum chamou a atenção: o cabrear da montaria de um dos Dragões da Independência quase derrubou o cavaleiro sobre o Rolls-Royce presidencial. A destreza do cavaleiro evitou o desfecho dramático da tragédia que começava com o novo governo. A cena nos interessa porque o ritual da posse se liga às comemorações da Independência: em 1972, no sesquicentenário, consolidam-se os rituais do 7 de setembro na cultura de história e se estabelece a cerimônia de posse presidencial para sinalizar publicamente a pantomima das eleições indiretas. Além disso, ela nos leva a pensar: quando, afinal, começam os usos espúrios da história que caracterizam o governo Bolsonaro? E quando efetivamente começa o drama histórico que atravessamos? Inspirado no Almanaque do Brasil nos tempos da Independência recriado por Jurandir Malerba, lembro outras cenas que dão substância a meu argumento: a história é aviltada pelo bolsonarismo na confluência de constantes elogios à ditadura militar e um uso reacionário das comemorações da Independência.
17 de abril de 2016
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