Uma prosa do tempo
(Arte Andreia Freire / Foto Instituto Hilda Hilst)
Cara Cavada, Cão de Pedra, Porco-Menino, Máscara do Nojo, Grande Coisa Obscura, o Incognoscível – as imagens de Deus que permeiam a obra de Hilda Hilst são tão impactantes quanto enigmáticas, impenetráveis e desafiadoras. Suas narrativas se ocupam dessa procura blasfema de uma imagem terrena e corpórea do divino, mas também de um estado de Deus.
Não se trata de uma adoração ao Altíssimo, mas de uma investigação baixíssima, sensual, erotizada, escatológica e animalesca do que ainda se pode experimentar como fervor, transcendência e sentido do vivido. “Blasfemando somos um pouco santos”, se lê em Estar sendo. Ter sido (1997). O divino, em Qadós, “cospe pra lá e pra cá sem consultar a direção do vento”.
Não é uma escrita abstrata ou filosofante, ainda que o impulso filosófico esteja sempre presente. O fluxo narrativo se aterra, vai do sagrado ao profano, do sublime ao abjeto, do espiritual ao carnal, do poético ao chulo. E os personagens, apesar da solidão, vivem situações de tensão com a comunidade, com os serviçais, com a família, com Deus e até com seus editores, no caso dos escritores.
Os romances e novelas da autora são narrativas em que indagações profundas aparecem de forma concreta na vida de personagens marcantes: Hillé (A obscena senhora D); Ruiska e o anão (Fluxo-Floema); Matamoros; Lori Lamby; Agda (Qadós); o professor de matemática Amós Keres (Com os meus olhos de cão); o mendigo escritor, o escritor Karl e sua irmã Cordélia (Cartas de um sedutor), Lucius Kod (Rútilo nada), entre outros.
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