A função clínica da política
Félix Guattari na década de 1980 (Foto: Kazumi Hirose)
Guattari, ao deparar com as questões de orientação despertadas por sua militância – que visavam, em um primeiro momento, clarificar uma situação de afrontamento de grupos distintos e, em seguida, pensar orientações e estratégias –, explica que, desde que começou a trabalhar na clínica de La Borde, buscava conciliar sua militância e o fato de ser um dos primeiros não médicos a frequentar o seminário de Jacques Lacan. Oscilando entre esses três polos – a prática clínica em La Borde, os seminários de Lacan e o militantismo na extrema esquerda –, ele afirmaria, em 1980, que estava buscando conciliar o inconciliável.
Tudo começou com a tentativa de ir além da psicoterapia institucional e propor uma análise institucional – Guattari recusava uma definição demasiado restrita da psicoterapia institucional. Assim era o espaço da clínica, que se expandia usando a psicanálise para compreender relações “institucionais” das mais distintas naturezas – quer dizer, todas as relações que por repetição produzem grupos e relações sociais, portanto em suas mais diversas formas – para analisá-las e transformá-las.
Uma psicanálise que se transforma em uma tática política. Isso vai muito além de afirmar o caráter político da clínica – afirmação a meu ver muitas vezes vazia. Tratava-se sobretudo de pensar a clínica socialmente, de pensar uma clínica do social e não uma clínica de indivíduos. Ou seja, não se trata apenas de expor o caráter social do desejo, ou de pôr na conta do social a responsabilidade pelo
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »