Educação à maneira de Montaigne
'Educação de crianças', por Salvador Dali (Arte Andreia Freire)
A educação é um dos temas mais instigantes para os humanistas do Renascimento. Montaigne, afinado com o universo cultural de seu tempo, não se esquiva em compartilhar com seus contemporâneos (e conosco) suas reflexões de viés educacional; porém, como crítico das propostas pedagógicas de então, às quais atribui uma orientação exageradamente escolar e livresca. Como contraponto, propõe-nos uma educação em “nova maneira”.
Nova em que sentido? A primeira novidade está já no gênero literário do principal capítulo sobre a questão presente no capítulo 26 do primeiro volume dos Ensaios, “Da educação das crianças”, uma carta endereçada a uma senhora, uma amiga. Ali encontram-se aconselhamentos, metáforas elucidativas e argumentos que desenham as linhas mais fundamentais de uma formação que tem por alvo levar ao exercício de ajuizamentos livres e autênticos. Longe de ser um manual ou um tratado sobre pedagogia, “Da educação das crianças” e, numa ótica mais crítica, o capítulo “Do pedantismo” definem um horizonte formativo pautado na curiosidade e na convivência com a pluralidade de pontos de vista, de modo a alimentar o pensar, o sentir e o fazer. Pois, para Montaigne, o processo formativo ocorre menos pela dedicação aos livros e mais na interação com o “grande livro do mundo”. A formação se realiza na abertura para a vida e para tudo o que ela traz de singular e fortuito, visando favorecer, ao final, o autoconhecimento, a autocorreção e o acesso aos instrumentos necessários para um viver bem, o útil e
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