Estante: Danez Smith, Wilson Gomes, Regina Porter
O poeta e performer Danez Smith, autor de "Não digam que estamos mortos", lançado pela Bazar do Tempo (Foto: Richard Saker)
Toda quinta, uma
seleção de lançamentos
curados pela Cult
[Não digam que estamos mortos, Danez Smith]
Um dos poetas mais celebrados da sua geração na última década, Smith aborda temas ligados ao desejo, ao universo queer, à mortalidade, ao seu diagnóstico positivo para HIV e, principalmente, à violência contra o corpo negro: “caro número de distintivo/ o que eu fiz de errado?/ nascer? ser preto? te conhecer?”, escreve em “Verão, algum lugar”. Performer e poeta não-binário nascido em Minnesota em 1989, Smith se situa na vanguarda de um movimento afro-americano que viu artistas da poesia falada se moverem dos palcos e bastidores para os livros e prêmios de sucesso, lembra André Capilé, seu tradutor. Não digam que estamos mortos é o primeiro livro do poeta publicado no Brasil. Em dezembro, ele participa da 18º Flip, que neste ano acontece virtualmente de 3 a 6 de dezembro.
Bazar do Tempo, 224 páginas, R$54. Tradução de André Capilé.
[Crônica de uma tragédia anunciada, Wilson Gomes]
Doutor em Filosofia e professor titular da Faculdade de Comunicação e do programa de Pós Graduação em Comunicação e Cultura da UFBA, Wilson Gomes analisa, no calor dos acontecimentos, desde os protestos de 2013 até a eleição de Bolsonaro, passando pela Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff, o bolsonarismo e outros fenômenos que se relacionam com a escalada da extrema-direita no Brasil. Em breves relatos originalmente publicados online enquanto tudo acontecia, o professor e colunista da Cult busca registrar e acompanhar os caminhos por onde enveredou a política brasileira nos últimos anos. O lançamento acontece nesta sexta (20) em uma live com participação de Jean Wyllys e Francisco Bosco.
Editora Sagga, 256 páginas, R$54,90.
[A redenção de Antônio Bento, Luiz Antônio Castro e Débora Orsi]
Resultado de dez anos de pesquisa, a biografia mostra as batalhas do juiz e advogado abolicionista Antônio Bento (1843-1898) pela libertação dos escravizados no século 19. Editor do jornal abolicionista A Redempção, que circulou de 1887 a 1899, Bento foi o organizador do movimento popular dos Caifazes, que auxiliava a fuga de mulheres e homens negros das cidades paulistas para o quilombo do Jabaquara, em Santos, e de lá para o Ceará. O livro, co-escrito pelo bisneto do advogado, registra os bastidores dessas ações e o nascimento do movimento abolicionista em São Paulo, cuja liderança Bento assumiu após a morte de Luís Gama, em 1882.
Reality Books, 458 páginas, R$ 136,60
[Os viajantes, Regina Porter]
A partir do encontro entre uma família negra e uma branca, o romance oferece um panorama da sociedade americana desde a década de 1950 até a presidência de Barack Obama. James Samuel Vincent é um advogado rico que quer se afastar da sua origem humilde de descendente de imigrantes irlandeses em Nova York. Seu filho, Rufus, se casa com Claudia Christie, uma mulher de família negra cujo pai tem a vida atravessada pela guerra do Vietnã e pelas tensões raciais dos Estados Unidos nos anos 1960. Com idas e vindas temporais, construído a partir de uma multiplicidade de vozes e personagens, o romance – o primeiro de Porter publicado no Brasil – trata de amor e memória, preconceito e identidade, trauma e destino. Em dezembro, a autora também participa da 18º edição da Flip.
Companhia das Letras, 384 páginas, R$99,00. Tradução de Juliana Cunha.
[Aké: os anos de infância, Wole Soyinka]
Originalmente publicado em 1981, a autobiografia do autor nigeriano conta a história da infância de Soyinka no oeste da Nigéria, antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Aparecem a chegada do rádio, da eletricidade e a visão do primeiro avião em Aké; a ameaça de Hitler, a insurreição da União das Mulheres de Abeokuta e a luta pela independência da Nigéria. Com olhar de criança curiosa, Soyinka registra expressões da cultura iorubá – a música, a comida, a religião – em um país de colonização inglesa. Dramaturgo por excelência, recebeu o Nobel de Literatura em 1986.
Kapulana, 264 páginas, R$52,90. Tradução de Carolina Kuhn Facchin.