cummings por campos

cummings por campos
Edward Estlin Cummings

Poem, or beauty hurts Mr. Vinal

take it from me kiddo
believe me
my country,’tis of

you,land of the Cluett
Shirt Boston Garter and Spearmint
Girl With The Wrigley Eyes(of you
land of the Arrow Ide
and Earl &
Wilson
Collars)of you i
sing:land of Abraham Lincoln and Lydia E. Pinkham,
land above all of Just Add Hot Water And Serve—
from every B.V.D.

let freedom ring

amen. i do however protest,anent the un
-spontaneous and otherwise scented merde which
greets one(Everywhere Why)as divine poesy per
that and this radically defunct periodical. i would
suggest that certain ideas gestures
rhymes,like Gillette Razor Blades
having been used and reused
to the mystical moment of dullness emphatically are
Not To Be Resharpened. (Case in point)
if we are to believe these gently O sweetly
melancholy trillers amid the thrillers
these crepuscular violinists among my and your
skyscrapers—Helen & Cleopatra were Just Too Lovely,
The Snail’s On The Thorn enter Morn and God’s

In His andsoforth

do you get me?)according
to such supposedly indigenous
throstles Art is O World O Life
a formula:example,Turn Your Shirttails Into
Drawers and If It Isn’t An Eastman It Isn’t A
Kodak therefore my friends let
us now sing each and all fortissimo A–
mer
i
ca,I
love,
You. And there’re a
hun-dred-mil-lion-oth-ers,like
all of you successfully if
delicately gelded(or spaded)
gentlemen(and ladies)—pretty

littleliverpill-
hearted- Nujolneeding-There’s-A-Reason
americans(who tensetendoned and with
upward vacant eyes,painfully
perpetually crouched,quivering,upon the
sternly allotted sandpile
—how silently
emit a tiny violetflavoured nuisance:Odor?

ono.
comes out like a ribbon lies fl at on the brush

 

Poema, ou a beleza fere o sr. Vinal
Tradução de Augusto de Campos

vai por mim cara
pode crer
esta pátria é

tua,terra das Camisas
Cluett Ligas de Boston e Garota
do Hortelã Com Olhos de Goma(é tua
terra dos Colarinhos Engomados
Arrow Ide
e Eart &
Wilson)de ti eu
canto:terra de Abraham Lincoln e Lydia E. Pinkham,
terra acima de tudo de Basta Pôr Água Quente e Servir—
de toda a D.V.B. [Diarreia Viral Bovina]

que a liberdade ecoe

amém. eu no entanto protesto,vis-à-vis a des
-espontânea merda perfumada que
nos saúda(Onde quer que Por que)como divina poesia por
algum periódico radicalmente defunto. eu

sugiro que certas ideias gestos
rimas,como Navalhas Gilette
depois de usadas e reusadas
até o místico momento do embotamento enfaticamente
Não Devem Ser Reamoladas. (Por exemplo
se vamos acreditar nesses gentil Ó docemente
melancólicos triladores de thrillers
violinistas crepusculares em meio aos meus e aos vossos
arranhacéus—Helena & Cleópatra eram Superlegais,

O Caracol No Espinho com Manhã Dileta e Deus

Em Seu etcétera

entenderam?)de acordo
com essas supostas chorumelas
nativas a Arte é Ó Mundo Ó Vida
uma fórmula:exemplo,Transforme em Ceroulas
a Sua Camisola e Se Não For Uma Eastman Não
É Uma Kodak portanto meus amigos
cantemos cada qual e todos fortíssimo Amér
i

ca,eu
Te
Amo. E há
cem-milhões-de-outros,iguais
a você bem-sucedidos e
delicadamente castrados(ou enterrados)
cavalheiros(e damas)—belos

míserosfigadoentes-
Nujolnatos-Há-Uma-Razão para
os americanos(que tendãotensos e com
vagos olhos para o alto,dolorosamente
perpetuamente agachados,tremendo,sobre o
rigorosamente loteado monte de areia
—quão silenciosamente
emite um incômodo saborvioleta:Odor?

ono.
sai como uma fita e se achata na escova

 

O título deste poema refere-se a um soneto, “Earth Love” (1922), de Harold Vinal, poeta acadêmico norte-americano, seretário da Poetry Society of America (“[…] I have orn beauty as two costly rings./ Alas, ho short a state does beauty keep, / Then let me clasp it wildly to my heart/ And hurt myself until I am a part / Of all its rapture, then turn back to sleep […]”). Cummings satiriza clichês artísticos e patrióticos e anúncios publicitários, citando nomes (como o laxativo Nujol e o desodorante Odorono) ou parodiando slogans de diversos produtos de consumo, como “Just Add Hot Water and Serve” (sopas Campbell), “There’s A Reason” (cereais Kellogg’s), “If it isn’t an Eastman, it isn’t Kodak”, “comes out like a ribbon lies flat on the brush” (Colgate). Canções patrióticas: My Country, ‘Tis of Thee (1831) (“My country, ‘tis of thee,/ Sweet land of liberty,/ Of thee I sing;/ Land here my fathers died,/ Land of the pilgrims’ pride/ From every mountain side/ Let freedom ring!”). America, I love you (“America, I love you! […] And there’s a million others like me!”. Lydia E. Pinkham (1819 – 1883) era conhecida fabricante de “tônico feminino”, à base de raízes, sementes e 18% de álcool. “The Snail’s On The Thorn enter Morn and God’s / In His andsoforth” (“The year’s at the spring,/ And day’s at the morn;/ […] The snail’s on the thorn;/ God’s in his Heaven – / All’s right with the world!” – Robert Browning, Pippa Passes). Cf. WEBSTER, Michael. Notes on the Writings of e. e. Cummings. Disponível em: http://www.gvsu.edu/english/cummings/notes.htm#Tulips& (N. do T.)

 

e. e. cummings (1894-1962) foi um dos expoentes da poesia norte-americana do século 20 e cujo estilo inclui o uso não regrado de pontuação e a falta de ordenação lógica das palavras. Produziu cerca de 2.900 poemas, dois romances autobiográficos, quatro peças e diversos ensaios. No Brasil, tem lançados O Tigre de Veludo (UnB, 2007) e Poem(a)s (Francisco Alves, 1998).

Augusto de Campos (1931) é poeta, tradutor e crítico brasileiro, criador da poesia concreta juntamente com seu irmão Haroldo de Campos e também com Décio Pignatari. Sua obra, muito influenciada pela de e. e. cummings, contém recursos visuais como a disposição espacial estratégica das palavras e o uso de diferentes tipografias. Traduziu também Mallarmé, James Joyce e Ezra Pound. Entre suas obras estão Viva Vaia (Duas Cidades, 1979) e Despoesia (Perspectiva, 1994).

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