Antinomias do amor contemporâneo
Francisco Bosco (Foto: Divulgação)
Conversando recentemente com uma amiga psicanalista, ela me contou, um tanto surpresa, que mesmo nesses tempos sombrios da vida social brasileira o problema das relações amorosas permanecia hegemônico na sua clínica. Seguimos conversando sobre o momento político, mas silenciosamente registrei sua observação. Não porque ela tenha me surpreendido, e sim porque confirmava o sentido de algumas ideias que venho estudando e desenvolvendo. A equação do amor moderno, que possivelmente se forma, quanto a suas características decisivas (uma conciliação entre a exaltação passional, a afirmação dos desejos sexuais e o casamento), no século 17, com Rousseau, essa equação se ergue sobre uma antinomia fundamental. Mais ainda, com o passar dos séculos, e notadamente devido a uma grande mutação cultural do século 20, ela produz tensões cada vez mais intensas com traços dominantes das subjetividades contemporâneas. Essas tensões podem ser descritas na forma de uma série de antinomias. Eis as principais.
Paixão x Casamento
Como se sabe, Denis de Rougemont tem uma tese controversa sobre a influência do catarismo, uma das seitas gnósticas que surgiram no primeiro milênio do cristianismo, no fenômeno do amor cortês. Para ele, a valorização sem precedentes da paixão que podemos ler nos textos em langue d’oc dos séculos 11 a 13 é uma influência direta da perspectiva religiosa dos cátaros (que, do grego, significa puros). Essa tese, em si, já foi bastante problematizada, e os argumentos de seus críticos me parecem convincentes. Permanece
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