A sociologia de Max Weber

A sociologia de Max Weber

Eduardo Socha

Na edição brasileira de A Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo, a declaração sobre o lugar que este livro ocupa na história das ciências humanas não poderia ser mais categórica: a obra mais conhecida de Max Weber (1864-1920) estaria para a sociologia assim como A origem das espécies, de Darwin, estaria para a biologia, ou A interpretação dos sonhos, de Freud, para a psicanálise. Não se trata, portanto, apenas de uma obra clássica, mas de uma obra instituidora de uma disciplina. A totalidade da produção intelectual de Weber, ao definir boa parte do jargão conceitual ainda em uso na sociologia acadêmica, como os conceitos de “tipo ideal”, “processos de racionalização”, “método compreensivo”, “estamentos”, forneceu de fato um dos pilares para a implementação autônoma das ciências sociais. Seu impacto é notório na produção contemporânea. Como lembra o sociólogo Michel Misse, que participa deste dossiê, o que define uma obra verdadeiramente clássica como a de Max Weber é exatamente o fato de se manter contemporânea.

Sua zona de influência sobre os estudos relacionados ao processo de formação da sociedade brasileira é enorme. Se lembrarmos de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, marco impressionante do pensamento brasileiro, as referências explícitas a Weber expressam não apenas a absorção da temática presente na Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo, mas sobretudo a incorporação do método crítico weberiano. Alguns comentadores, como Pedro Meira Monteiro e Brasil Pinheiro Machado, chegam a sugerir que o contato com o trabalho de Weber durante a temporada de Sérgio Buarque na Alemanha foi absolutamente decisiva para a própria concepção de Raízes do Brasil.

Neste dossiê, CULT procura apresentar alguns dos temas mais relevantes do pensamento de Weber, mas quer também avaliar em que medida sua obra é ainda capaz de determinar os rumos dos debates políticos e sociológicos. Seu célebre estudo sobre as relações entre protestantismo e ascensão do capitalismo na modernidade é apenas parte de um imenso projeto que infelizmente ainda é pouco conhecido. Nesse sentido, Jessé Souza traz uma introdução sobre a recepção de Weber no Brasil pela noção de “patrimonialismo”; Michel Misse, ao questionar a pertinência conceitual de uma “escola weberiana”, aponta os desdobramentos do pensamento de Weber na sociologia contemporânea; Fábio Wanderley Reis destaca três temas weberianos do debate político atual; Leopoldo Waizbort tematiza o processo de racionalização da música no ocidente; Gláucia Villas Boas explora as duas conferências sobre a ciência e a política como vocação; e Alonso de Carvalho comenta a relação entre Weber e educação. O leitor terá em mãos, com isso, um excelente guia de introdução a um dos principais nomes das ciências humanas e às principais conseqüências de sua herança no pensamento contemporâneo.

(2) Comentários

  1. Obrigada pela matéria sobre o sociólogo, visto que preciso para complementar conhecimentos.

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