A política sexual do bolsonarismo
A patrulha moral do passado se concretiza em signos vazios e transbordantes entoados como mantras (Arte Andreia Freire/Revista Cult)
A eleição de Jair Bolsonaro para presidente, em campanha baseada na combinação indigesta de discursos de ódio com fake news, tem despertado diversas análises com o objetivo de compreender essa vitória algo surpreendente. Afinal, como seria possível aclamar chefe da nação um candidato que desqualifica a democracia, vocifera preconceitos e estimula violências contra diversos grupos vulneráveis?
A questão é complexa e demanda uma reflexão em distintos níveis e frentes. Certamente, há fatores determinantes que vão desde a violência estrutural naturalizada na formação da pouco cordial sociedade brasileira até o colapso institucional da Nova República, passando pelo antipetismo alimentado pela mídia e por setores do Judiciário em uma cruzada hipócrita contra a corrupção nos últimos anos. Todas essas variáveis são decisivas, mas uma dimensão ainda é negligenciada no debate público sobre a emergência do fascismo tupiniquim atual: sua íntima associação com uma política moral e sexual determinada.
É verdade que todos os regimes políticos e formas de governo dispõem, em maior ou menor grau, de normas e instituições para regular dimensões da vida familiar e sexual de seus cidadãos. A invasão da esfera particular não é uma exclusividade de ditaduras. No entanto, quanto mais fechado e conservador é o regime político, maior a tendência em intensificar modos de controle nos espaços públicos e privados. A partir dessa perspectiva, pode-se afirmar que um indicador fundamental do grau de liberdade, inclusão e democracia d
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