Destruição-reconstrução
Maria Baigur/Divulgação
Se as “imagens” de Laura Lima não são “performance nem instalação nem cinema”, como ela diz, no que será que se transformam quando impressas nas páginas de um livro?
Fotolivro, catálogo, manifesto político ou peça artística, Balé literal é um passeio entre os mundos da arte, das palavras e da política. Na instalação – como foi classificada a obra apresentada no Rio de Janeiro, em 2019, e em Barcelona, em 2023 –, fotografias, frases e objetos suspensos em fios de aço atravessam o ambiente do museu, em uma estrutura em constante movimento.
Apesar da incapacidade de se descrever uma obra – ou uma “antiobra de arte total” – que não foi feita para ser vista, mas encarnada, os textos que acompanham o livro (assinados por Elvira Dyangani Ose, Tania Rivera e Marcia Tiburi) buscam traduzir o que o movimento de visitantes e objetos implica na sintaxe do Balé. O que há de mais interessante nessa tradução talvez seja a reprodução da lógica da destruição-reconstrução de Louise Bourgeois. À maneira de Duchamp, objetos comuns, como guarda-chuvas e martelos, viram antiobjetos – ganhando, ainda, outros contornos nos textos do livro.
Se em alguns momentos esses contornos se desconstroem em palavras inventadas, há momentos em que se tornam vívidos ao elucidar sobre o contexto original da obra de arte – o terrível 2019 da eleição de Bolsonaro – e suas reverberações políticas.
Marcia Tiburi descreve o movimento do Balé como aquele que desafia “o ritual de sacrifício neoliberal vivido pelos brasileiros num jogo político de ensandecimento da nação pelo fascismo”. Fazer e discutir arte é o que continua movimentando os nossos tempos.






