A dança dos vampiros na política brasileira

A dança dos vampiros na política brasileira
Nosferatu, 1922 (Arte Revista CULT / Ilustração de Albin Grau)

 

O antológico desfile da escola de samba Paraíso do Tuiuti trouxe à luz a questão do “eterno retorno do mesmo” em política. De todas as imagens críticas elaboradas na iconologia proposta pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, a do “Vampiro Neoliberalista” foi no alvo e ganhou um recibo assinado com a proibição da faixa presidencial no desfile das campeãs.

Vampirão é um dos apelidos que o povo, demonstrando uma sabedoria iconológica atávica, deu ao presidente golpista. Michel Temer, cujo nome já é a própria coisa, responde há anos pelo apelido de “Mordomo de velório”. Entre a gozação e a crítica, o sujeito é associado na internet aos cavernosos vampiros cinematográficos de Bela Lugosi e Cristopher Lee. O charme gótico de Gary Oldmann no filme de Coppola de 1992 e a graça dos vampirinhos fashion que brilham na luz do sol em Crepúsculo passam longe do personagem principal da atual dança dos vampiros que se tornou a política brasileira. Nessa iconologia, a imagem do Vampiro Brasileiro, criação de Chico Anysio, é da ministra Carmen Lúcia, o que nos faz pensar que a figura de Temer remete a algo ainda mais arcaico.

Drácula, o livro de Bram Stoker lançado em 1897, faz sucesso até hoje junto a uma vasta família de vampiros literários. O Drácula de verdade que as inspira nasceu em 1431 na Transilvânia, na cidade fortificada que hoje se chama Sighisoara, na Romênia. Era filho de Vlad Dracul e tinha vários irmãos. Fazia parte da Ordem do Dragão, uma fraternidade secreta e militar que visava combater hereges, organizar cruzadas contra turcos e, assim, proteger a Transilvânia. Uma das tarefas que ele teve em vida foi expulsar seu meio irmão da Valáquia para ficar com seu trono. Hoje, chamaríamos isso de golpe.

Diferentemente do que imaginamos, saques e pilhagens não eram nada normais, como não é normal perder direitos trabalhistas. O povo não gostava nada dele, mas não podia muita coisa diante da crueldade do cruel algoz.

Drácula ficou famoso por ter se associando aos turcos para saquear e pilhar os próprios romenos. Entre idas e vindas, ganhou a fama de traidor dos dois lados. Mesmo assim, o povo, que sempre leva a pior, acreditava ser possível um acordo com um dos seus, mais do que com os estrangeiros, e seguiu fazendo coalizões com esse inimigo interno.

Drácula não precisava de Maquiavel, que estava bem longe na Itália escrevendo sobre a inutilidade da moral na política, ele seguia aumentando tarifas, violando tratados, como se estivesse fazendo a reforma da previdência ou vendendo o Aquífero Guarani. Colocar medo no povo, como quem faz uma intervenção militar, era a estratégia de quem sabendo não ser amado, se contentava em ser temido.

Contam que, em Fagara, ele empalou cidadãos, homens, mulheres e crianças na noite de São Bartolomeu em 24 de agosto de 1460. Catarina de Médicis fez coisa parecida uns cem anos depois, mas ela foi infinitamente mais criticada do que ele, afinal era mulher.

Torturador e inquisidor, genocida e feminicida, o terrorista de Estado é um espectro clássico que faz lembrar de um parasita a sugar a vida dos cidadãos. Drácula se tornou sinônimo do que há de pior em termos de política e como um signo recai sobre governantes pérfidos e cruéis.
Por que não evoluímos ética e politicamente é a dúvida histórica que resta desde que Drácula não para de se reproduzir.

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